O histórico eleitoral demonstra que o que conta para uma maioria absoluta do PS é a votação no PSD. BE e PCP poderão até crescer, mas não será isso a impedir uma maioria absoluta de António Costa. Decisivo, isso sim, será o resultado de Rui Rio..Em 2005 - ano da única maioria absoluta do PS -, o que aconteceu foi que os socialistas obtiveram cerca de 2,58 milhões de votos (45%), o suficiente para elegerem 121 deputados (a maioria absoluta faz-se no Parlamento com 116)..Esse resultado representou um crescimento de mais de meio milhão de votos (519 mil) do PS em relação ao score de 2002. Em números redondos, os socialistas passaram de pouco mais de dois milhões de votos para 2,5 milhões. Ora esse meio milhão de votos foi mais ou menos o mesmo que o PSD perdeu entre essas duas legislativas. Para ser preciso: 547 mil votos, passando os sociais-democratas de 2,2 milhões para 1,65 milhões de votos..O PS cresceu assim no essencial à custa das perdas do PSD (o CDS também perdeu votos, embora muito menos, cerca de 61 mil). Dito de outra forma: este substancial reforço dos socialistas não ocorreu por enfraquecimento dos partidos à sua esquerda. Muito pelo contrário..Bloco de Esquerda e PCP também se tornaram mais fortes e, no caso dos bloquistas, não foi pouco: mais do que duplicaram o número de votos (passando de 149 mil para 364 mil) e o número de eleitos (de três para oito).Já os comunistas conquistaram 53,5 mil novos votos, aumentando o número de deputados em dois (de 12 para 14)..Todo o conjunto da esquerda cresceu. O crescimento do PS para lá da fasquia da maioria absoluta foi acompanhado de fortalecimento de bloquistas e comunistas. Em 2005, tudo indiciou transferências da direita para a esquerda: a direita (PSD+CDS) perdeu 600 mil votos no seu conjunto; e a esquerda (PS+PCP+BE) ganhou 595 mil..Seis anos antes, em 1999, o PS também tinha estado muito perto da maioria absoluta. Num Parlamento com número par de deputados (230), os socialistas conquistaram exatamente metade, 115, ficando a um deputado da maioria absoluta. A situação de instabilidade daí decorrente levaria António Guterres a demitir-se de primeiro-ministro em dezembro de 2001, após uma severa derrota autárquica..Mais uma vez, o que aconteceu nesse ano foi que o crescimento do PS se fez acompanhar do crescimento do PCP e da esquerda no seu conjunto. Em 1999 acedeu ao Parlamento pela primeira vez uma nova formação de esquerda, o Bloco, elegendo dois deputados, Francisco Louçã e Luís Fazenda..Quem perdeu força foram, mais uma vez, o PSD e o CDS (ver quadro em baixo)..Já com as maiorias absolutas do PSD, a situação foi diferente: os sociais-democratas cresceram tanto à esquerda como à direita. Em 1987, Cavaco Silva obteve a sua primeira maioria absoluta roubando votos à esquerda (do PRD, que em 1985 os tinha tirado ao PS) mas também ao CDS, reduzindo os centristas a "partido do táxi". O PS nem diminuiu a votação - pelo contrário, cresceu ligeiramente (de 20,7% para 22,4%)..Nessas eleições verificaram-se também perdas do PCP - mas não por transferência para o PS. Como se verifica vendo o resultado do círculo de Setúbal, o voto comunista foi para o PSD. Cavaco quase venceu neste círculo - e a subida percentual dos sociais-democratas (16%) representa exatamente a soma das perdas do PCP (11%) com as do PRD (5%)..Na segunda maioria, em 1991, Cavaco limitou-se a consolidar nos mesmos termos os resultados de 1997, subindo até ligeiramente. E Setúbal caiu então para o PSD - o PCP só ganhou em Beja.