Histórico do Atlético pede "paciência" para João Félix e diz que "o problema está na equipa"
Não está fácil a vida de João Félix no Atlético de Madrid. A eliminação da Taça do Rei frente ao modesto Cultural Leonesa, do terceiro escalão do futebol espanhol, adensou as nuvens negras que se têm abatido sobre a equipa de Diego Simeone, que nesta fase da temporada ganhou apenas 45% dos 29 jogos oficiais que disputou, correspondente a 13 vitórias, 10 empates e seis derrotas.
As críticas têm sido apontadas ao treinador, mas também ao jovem jogador português por não apresentar a produtividade esperada para um futebolista que custou 126 milhões de euros aos cofres colchoneros. Abel Resino, histórico capitão do clube que defendeu a baliza rojiblanca durante nove épocas, garante ao DN que o problema não está em João Félix, a quem reconhece um enorme futuro.
"O que se está a passar no Atlético não é culpa do João, trata-se de um problema da equipa", começou por dizer, convicto de que o internacional português "tem muito futebol para dar e, como tal, é preciso paciência, ainda mais numa altura em que as coisas não funcionam bem na equipa, o que acaba sempre por condicionar o rendimento de qualquer jogador".
Abel Resino admite que tratar-se de um jogador com "muito futuro" e que "será muito importante" para o Atlético. Só que há uma questão que neste momento é incontornável e que na sua opinião condiciona todas as análises: "Pagaram muito dinheiro por ele e, por isso, exigem que ele faça a diferença, o que é difícil, pois o João vem da Liga portuguesa, que é bem menos competitiva que a espanhola."
Ainda assim, o antigo guarda-redes recusa a ideia defendida pelo presidente colchonero, Enrique Cerezo, que antes da partida com o Cultural Leonesa afirmou que João Félix ainda está em fase de adaptação. "Não creio que seja esse o problema... Só acho é que é preciso dar-lhe tempo, tranquilidade e não lhe colocar toda a responsabilidade em cima dos ombros", sublinhou, acreditando que os adeptos "continuam a acreditar nele e não lhe estão a cobrar o mau momento da equipa".
João Félix marcou quatro golos nos 23 jogos oficiais que disputou esta época pelo Atlético de Madrid e está em branco desde o dia 11 de dezembro quando marcou ao Lokomotiv Moscovo para a Liga dos campeões. Abel Resino admite que esse é um problema, mas considera que "é consequência de a equipa estar a jogar mal, e ele não tem culpa disso".
Em Espanha tem sido questionada a forma de jogar dos colchoneros, que não favorecerá João Félix, e essa é uma questão que até já chegou a Inglaterra, onde Gary Lineker, antigo internacional inglês e atual comentador da BBC, culpou o estilo de Simeone para o sub-rendimento do antigo jogador do Benfica. "Se o Atlético de Madrid quiser que o João Félix cresça como futebolista, deve rescindir o contrato de Diego Simeone. Esse tipo de futebol dos anos 90, não ajuda os jogadores jovens a crescer", disse num programa de televisão.
Abel Resino prefere não entrar nesse campo, lembrando que "Simeone é um treinador muito exigente, quer que todos os jogadores façam muito trabalho defensivo", pelo que "é a essas ideias que João Félix tem de se adaptar". O histórico jogador colchonero admite que o avançado português "tem jogado muitas vezes nas alas e isso não o favorece, pois gosta de jogar mais perto da baliza". "Eu também acho que é como segundo avançado que ele rende mais", admite.
A lesão de Diego Costa, que não joga desde o dia 10 de novembro, poderá ser uma das explicações para as dificuldades de João Félix tem sentido nesta altura da época, pois foi ao lado do hispano-brasileiro que marcou três dos quatro golos pelo Atlético. "É verdade que o João entendeu-se melhor no campo com o Diego Costa do que agora com Morata", admitiu Abel Resino, garantindo que que há uma explicação para isso: "O Diego Costa é um jogador que gosta de recuar, procurar tabelas e associar-se com o segundo avançado e isso favorecia o João. O Morata é diferente porque é um jogador mais vertical, que procura as costas dos avançados e a baliza."
Nesse sentido, numa altura em que muito se fala da possível contratação de Edinson Cavani, avançado uruguaio do Paris Saint-Germain, Abel faz votos para que a possível chegada desse reforço "não prejudique o João Félix". "Não sei se vão conseguir entender-se bem em campo, porque podes ter as características ideais para jogar ao lado de um companheiro, mas depois em campo é que se vê. A teoria é uma coisa e a prática, por vezes, é completamente diferente", frisou.
O Atlético está numa série de três jogos sem vencer e este domingo recebe o Leganés para a 21.ª jornada da Liga espanhola, um jogo para o qual "é fundamental que Simeone recupere os jogadores, o ânimo da equipa e a forma de jogar". Quanto a João Félix, Abel Resino defende a importância de "fazer um trabalho psicológico com ele". "É preciso ajudá-lo, falar com ele para que esteja tranquilo. Não o conheço pessoalmente, mas pelo que vejo em campo parece-me ser um miúdo com grande personalidade, que nunca se diminui perante os adversários e assume sempre a responsabilidade em campo... mas a estrutura tem de lhe retirar essa responsabilidade", diz o antigo guarda-redes, de 59 anos, que treinou os colchoneros em momentos de transição em 2008/09 e 2009/10.
A terminar, formulou um desejo e uma convicção: "Espero que esta má fase seja ultrapassada rapidamente porque o João Félix é um jogador importante para a equipa, embora seja excessivo pensar que neste momento ele tem de fazer a diferença. Um dia poderá fazê-lo e acredito que quando voltar a fazer golos, tudo irá mudar."