"O inferno não é coisa do passado". Hiroshima lembra bomba atómica
O pedido de "nunca mais" repetido novamente, no 72.º aniversário do bombardeamento atómico de Hiroshima, no Japão, ganhou este ano uma urgência renovada com os testes de mísseis da Coreia do Norte.
O "inferno não é uma coisa do passado", declarou o presidente de Hiroshima, Kazumi Matsui, na declaração de paz na cerimónia que assinalou hoje o bombardeamento atómico da cidade (oeste) pelos Estados Unidos, a 06 de agosto de 1945.
"Enquanto as armas nucleares existirem e os políticos ameaçarem usá-las, o horror que causam pode saltar para o nosso presente a qualquer momento", alertou o responsável, numa referência aos testes de mísseis norte-coreanos.
Hoje, um único engenho pode causar ainda mais danos do que as bombas lançadas há 72 anos, afirmou, no Parque da Paz, criado na zona sobre a qual a bomba explodiu, e onde decorre, todos os anos, uma cerimónia em memória das vítimas e em defesa da paz mundial.
Três dias depois da bomba contra Hiroshima, que causou 140 mil mortos, os Estados Unidos lançaram, a 09 de agosto de 1945, uma segunda bomba atómica sobre Nagasaki (sudoeste), levando à capitulação do Japão e ao fim da Segunda Guerra Mundial.
"A humanidade não pode voltar a cometer tal ato", sublinhou Kazumi Matsui, pedindo às potências nucleares [Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, Israel, China, Índia, Paquistão e Coreia do Norte], e também ao Japão, para assinarem o primeiro tratado das Nações Unidas que proíbe as armas atómicas, aprovado em julho.
Os recentes testes de dois mísseis balísticos intercontinentais realizados pela Coreia do Norte, em julho, poderão ter deixado grandeas cidades dos Estados Unidos, como Los Angeles e Chicago, ao alcance das armas do regime de Kim Jong-un.
Estes mísseis, um dos quais caíu no Mar do Japão, podem ser armados com ogivas nucleares, apesar de muitos especialistas afirmarem que Pyongyang ainda não consegue dominar a miniaturização de ogivas nucleares, nem a tecnologia para garantir a reentrada dos mísseis na atmosfera ou até atingir um alvo pré-definido.
Muitos japoneses e outros países da região parecem resignados com os desenvolvimentos e testes de armas nucleares, mas a ameaça gera ainda mais alarme em Hiroshima, onde 140 mil pessoas morreram no primeiro ataque atómico.
O segundo bombardeamento, em Nagasaki, causou mais de 70 mil mortos.
"Obviamente que a tensão está a crescer com Coreia do Norte a avançar no desenvolvimento de armas nucleares", como mostram os últimos testes, afirmou Toshiki Fujimori, que tinha um ano quando a bomba explodiu em Hiroshima.
"Temos que erradicar as armas nucleares da Terra e tornar o mundo um lugar seguro para viver. Ainda há muito a fazer e temos que continuar a trabalhar para alcançar esse objetivo", sublinhou.
A adoção por mais de 120 países, na ONU, do primeiro tratado que proíbe armas nucleares, mostra que a maior parte do mundo apoia esta causa, disse. O tratado foi aprovado com a oposição das nove potências nucleares e da maioria dos países da NATO.
Das 650 mil pessoas reconhecidas pelo Governo japonês como sobreviventes dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki, mais de 300 mil já morreram, incluindo 5.530 no ano passado.
A idade média dos sobreviventes, conhecidos como "hibakusha", é superior a 81 anos. Muitos sofrem de doenças crónicas causadas pela radiação.