"Peguei no Herb Ritts e nunca mais larguei." A frase é do fotógrafo Carlos Ramos, autor de mais editoriais de moda e sessões fotográficas do que as que cabem nesta página, e revela o lastro deixado pelo artista norte-americano em todos os que vieram depois, fotógrafos que iniciaram o seu trabalho no início dos anos 1990, como o português. "Recorro frequentemente a ele para me inspirar", diz, ao telefone com o DN. Identifica as marcas que fizeram de Herb Ritts um dos nomes mais respeitados da fotografia de celebridades. "A maneira como usou o preto e branco, o sentido estético e o que sabia sacar de cada fotografado.".São estas imagens - de celebridades e de moda, entre outras - que podem ser vistas ao vivo na exposição Em Plena Luz, patente no Centro Cultural de Cascais (CCC) até 21 de janeiro..Herb Ritts (1952-2002) sobressaiu no final dos anos 1980, início de 1990, quando a fotografia era uma "explosão de cor", lembra Carlos Ramos. "Ele continuou no preto e branco." As primeiras fotografias que lhe conheceu eram da modelo Cindy Crawford. "Foi dos que mais fotografaram a Cindy Crawford e a Madonna.".Uma das imagens em destaque na exposição é precisamente aquela em que o norte-americano junta cinco supermodelos sem roupa - Stephanie Seymour, Cindy Crawford, Christy Turlington, Tatjana Patitz e Naomi Campbell..A fotografia, de 1989, publicada originalmente na Rolling Stone é histórica. Muitos reconhecem-na (e às suas protagonistas) mesmo sem conhecer o seu autor. "Foi tirada no estúdio de casa dele", precisa Frank Considine, que trabalhou de perto com Herb Ritts e hoje está na fundação com o seu nome, detentora destas imagens e dos direitos de autor..Dos milhares de fotografias, e impressões, que se guardam na fundação, um total de 106 imagens foram escolhidas pela curadora Alessandra Mauro, da promotora cultural italiana Forma, para esta exposição que tem sido apresentada pela Europa (Itália, Rússia, Suécia, França). Cada local traz visões novas às fotografias porque dialoga com o ambiente de maneira distinta, e há sempre novidades. Em Cascais essa novidade é a fotografia que Herb Ritts fez no casamento de Madonna e do primeiro marido, Sean Penn. É uma das muitas imagens que Herb Ritts fez da rainha da pop, atualmente a viver em Portugal. Estão lá também Madonna na cama com orelhas de Minnie ou o muito famoso retrato que faria a capa do álbum True Blue, em 1986. E estão, também, muitas outras estrelas..Jack Nicholson como Joker, a cabeça rapada de Sinnead O"Connor, as botas de Bruce Springsteen ou Michael Jackson, com o chapéu sobre a cara, ou a T-shirt de Mick Jagger. Por vezes, o rosto é secundário, mas nem esse facto nem a ausência de legendas (no dia em que o DN visitou a exposição ultimava-se a sua montagem), impedem a leitura da exposição. "Herb era muito calado em relação ao seu trabalho", contextualiza Frank Considine. "Gostava que as fotografias falassem por si. Não precisam de explicação nem de introdução, são muito familiares.".Entre as imagens escolhidas, está, claro, Richard Gere. Uma fotografia do ator, junto a um antigo Buick, tirou Herb Ritts do anonimato e lançou a carreira de Gere no cinema. Foi em 1977..Uma extensa cronologia da vida do artista acompanha a exposição. Herb Ritts, nascido em 1952 em Brentwood, cidade nos arredores de São Francisco, é filho de uma designer de interiores e de um empresário da área do mobiliário, estudou Economia e História da Arte antes de começar a trabalhar no negócio da família. "Antes de ser fotógrafo, tinha uma grande paixão pela arte", explica Frank Considine, que trabalhou com Ritts a partir de 1995, depois de uma exposição no Museu de Belas-Artes de Boston. "Era muito meticuloso, tinha um bom olho e sabia como queria que aparecesse uma sombra, o tom, a luz...", afirma ao DN..As imagens de celebridades são um dos três núcleos em que se divide a exposição, como explica a curadora Alessandra Mauro, numa visita à exposição. A primeira é "uma investigação visual sobre o corpo em relação com a atmosfera, a luz, a areia, e o equilíbrio com os elementos, algo muito importante no seu trabalho", afirma. A última reflete a paixão do artista por África. "Foi num período de férias e ficou muito impressionado, viu coisas semelhantes àquelas com que já se relacionava. Era o cenário perfeito para as suas fotografias", explica a italiana, defendendo a relação que existe entre os três núcleos: celebridade, corpo, África..Entre cada série de fotografias, há vídeos. Ora com as (muitas) fotografias que colecionou ("o que ele comprou, aquilo que o rodeou) e que lhe serviram de referência; ora com as folhas de contacto das suas sessões fotográficas ora com excertos dos telediscos que dirigiu, como, por exemplo, Wicked Games, de Chris Isaak (1991), que lhe valeu um prémio da MTV..[youtube:5D3Nl1GZzuw].Herb Ritts morreu em 2002, aos 50 anos, na sequência de complicações com uma infeção contraída durante uma sessão de fotos com o ator Ben Affleck no lago El Mirage, na Califórnia, um dos seus lugares de eleição para fotografar. A fundação com o nome de Herb Ritts nasceu por deliberação do próprio e tornou-se realidade em 2003. A sua missão é manter viva a paixão pela fotografia e angariar apoios para alertar, prevenir e investigar na área da sida..A exposição Herb Ritts. Em Plena Luz pode ser visita no Centro Cultural de Cascais (Avenida Rei Humberto de Itália) até 21 de janeiro. Aberta de terça-feira a domingo, das 10.00 às 18.00. Entrada: 3 euros