Helena Sacadura Cabral escreve memórias após filho deixar política
A audiência que foi à Casa das Histórias estava preparada para ouvir grandes novidades sobre o social, afinal estava sobre o palco o famoso biógrafo de Lady Di, Andrew Morton, que também tem livros sobre as vidas de Angelina Jolie, Monica Lewinsky e Tom Cruise, entre outros. A quem foram feitas perguntas como esta: Wallis Simpson era um homem ou não? Tratava-se da americana que fez o rei Eduardo VIII abdicar para casar com a americana. E como é que conseguiu aproximar-se de Diana? Quem gostaria ainda de biografar?
Não foi por acaso que o moderador do debate de quinta-feira à noite, José Fialho Gouveia, teve de recentrar várias vezes o alinhamento do debate. Seja porque Fernando Dacosta criticou a alucinação em torno do futebol e as perguntas choveram da plateia, tal como a defesa desse desporto pelos outros oradores. Como foi o caso de Rita Ferro, que anunciou a próxima publicação de uma biografia sobre o avô, António Ferro, e garantiu que "iria repor a verdade" sobre quem foi este braço direito de Salazar.
Quem também não deixou de fazer revelações foi Helena Sacadura Cabral, pois aproveitou os muitos espectadores presentes para confirmar que a sua muito esperada autobiografia está para sair já no próximo dia 4. Não se ficou pelo anúncio, avançou o conteúdo e referiu o título: Memórias de Uma Vida Consentida. Também não se ficou por aí, pois a audiência ficou em silêncio, a aguardar pormenores de uma biografia que vai dar muito que falar.
Antes de mais, Helena Sacadura Cabral contou que escreveu a primeira parte das suas memórias de "um jato: num mês e meio de isolamento e de entrega total". Alerte-se que vai seguir-se um segundo volume, em que continuará as revelações sobre a vida de "uma avó que quer que os seus netos saibam quem foi". Deste, explicou que "a escrita foi como um parto, porque é a parte mais dolorosa e importante da minha vida". Avisa que não nomeia os intervenientes: "Só o dos meus filhos, da Maria Velho da Costa, que é madrinha de um filho meu, e da Maria Nobre Franco, que infelizmente já não está entre nós."
Sobre esta amiga acrescenta: "Seria a única pessoa capaz de apresentar este livro, porque foi uma amiga que acompanhou todo esse meu período que vai até ao meu divórcio." De revelação em revelação, a autora de 26 livros confessa: "Só pude escrever as memórias após o [filho] Miguel morrer e o meu filho Paulo ter deixado a política." Trata-se, claro, dos conhecidos políticos Miguel e Paulo Portas.
Quanto ao que está registado nas 200 páginas destas Memórias, Helena Sacadura Cabral sintetiza, com a voz embargada: "Ali estão os anos mais importantes da minha vida ou, também posso dizer, os anos importantes da minha vida. Porque os mais importantes foram os que se seguiram, aqueles em que me refiz e reconstruí peça a peça." Não fica ainda completa a confissão: "É evidente que a mulher que escreve o livro hoje não é a que passou por aqueles acontecimentos, mas a memória dos sentimentos que tive na altura está bem viva. Não há nenhuma mãe que esqueça o que sentiu quando lhe põem um filho acabado de nascer sobre o ventre, ensanguentado."
Antes de terminar, não deixa de dizer como fez o "retrato fiel da mulher que fui então", descrevendo a tarefa assim: "A mulher que acabou de escrever este livro e as páginas que irão ler não quis construir nenhum ícone. Tive muita dificuldade para aceitar aqueles anos de vida e, quando estava em condições de poder reconstruir-me, parti para uma outra vida. Que é a minha vida de hoje, começada tardiamente aos 50 anos. Até lá, aprendi a viver, procurei as ferramentas e tudo aquilo de que necessitava para ser a mulher que hoje sou. Não tenho com esta idade de esconder-me ou criar mitos, nem de dizer que fui outra mulher além daquela que quero que os meus netos saibam quem é e foi a avó Helena."
Antes de terminar as revelações e de dizer que pondera escrever a biografia do tio Sacadura Cabral, o aviador, volta a avisar: "Se o Paulo não tivesse saído da política, provavelmente ainda estas Memórias estariam na minha cabeça."