HBO não exibe no Brasil programa de John Oliver com críticas a Bolsonaro e Haddad

Programa transmitido nos EUA no dia 7 de outubro não passou na televisão no Brasil no dia previsto (8 de outubro), nem está disponível nas plataformas de <em>streaming </em>do canal. Excerto está disponível no YouTube
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"Brasil, por favor, percebo que estão enojados com os vossos políticos neste momento e não se sentem inspirados por nenhuma das alternativas, mas qualquer coisa é melhor do que Bolsonaro", disse o humorista britânico John Oliver no seu programa semanal na HBO que, segundo o jornal O Globo, não está disponível no Brasil.

O episódio de "Last Week Tonight" que terá sido censurado no Brasil foi transmitido a 7 de outubro nos EUA, numa altura em que se estavam a contar os votos da primeira volta das presidenciais brasileiras. O excerto sobre o Brasil, de 16 minutos, critica Jair Bolsonaro, o favorito à vitória, mas também faz pouco da situação do ex-presidente Lula da Silva e do candidato do Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad.

Segundo O Globo, na plataforma streaming da HBO, o HBO Go, o programa em causa (o 25.º da quinta temporada) não está disponível, passando diretamente do 24.º para o 26.º. No canal na televisão, também não foi transmitido na data normal, que seria 8 de outubro, tendo sido repetido o 24.º episódio. O canal não comentou a notícia do Globo.

Da Lava-Jato a Bolsonaro

Oliver começa por falar em termos gerais sobre o escândalo de corrupção da Lava-Jato - ouvindo-se um dos procuradores brasileiros dizer que é mais grave do que o Watergate - para explicar porque é que os brasileiros estão desiludidos com a política.

Falando nos candidatos, começa por Lula da Silva, o ex-presidente que está detido por corrupção. Apelidando Lula de político mais popular no Brasil, lembra que as sondagens disseram que seria eleito caso tivesse sido autorizado a concorrer - mesmo estando preso. "Faz sentido, porque eleger um presidente que já está preso por corrupção, poupa o inevitável aborrecimento de ter que pôr o presidente na prisão por corrupção. Poupa-se tempo", diz o humorista.

Indicando depois que Fernando Haddad foi a escolha do Partido dos Trabalhadores para substituir Lula, Oliver brinca com o facto de o ex-presidente da câmara de São Paulo ser pouco conhecido no Brasil e ter feito campanha tentando colar-se à imagem do líder detido. "O problema é que Haddad não é Lula e o PT foi fortemente atingido pelos escândalos e muitos brasileiros estão desejosos de uma mudança radical", reitera, antes de falar do favorito nas sondagens, Jair Bolsonaro.

"A coisa mais simpática que se pode dizer sobre ele [Bolsonaro] é que não esteve envolvido numa investigação de corrupção, ainda. Infelizmente é a única coisa simpática que posso dizer sobre ele, porque ele é um ser humano terrível", explica o humorista britânico, fazendo pouco, por exemplo, do facto de ele gostar de fazer o símbolo de uma arma com os dedos e lembrando que ele ficou conhecido como o "Donald Trump do Brasil".

Depois, passa pelo percurso do candidato do PSL, para explicar que ele disse ser favorável à ditadura, lamentando que esta não tenha ido mais longe e alegando que devia ter matado mais pessoas. Também passa as declarações de Bolsonaro contra as mulheres e homofóbicas.

Lembrando que Bolsonaro foi esfaqueado perto do final da campanha - isso é "absolutamente horrível", deixa claro - Oliver conta como isso ainda aumentou a sua popularidade. O humorista diz que há ainda uma réstia de esperança, graças ao movimento #EleNão.

O programa foi feito quando estavam a ser contados os votos da primeira volta e ainda havia a hipótese de Bolsonaro ganhar à primeira volta. "Se Bolsonaro não tiver ganho à primeira, se houver uma segunda volta, então ainda não é tarde de mais. Brasil, por favor, percebo que estão enojados com os vossos políticos neste momento e não se sentem inspirados por nenhuma das alternativas, mas qualquer coisa é melhor do que Bolsonaro", diz Oliver. "Bolsonaro não reflete o melhor daquilo que vocês são e, com sorte, vocês ainda têm uma hipótese de votar e não deixar que este homem destrua a vossa democracia".

Comentário no YouTube

O vídeo no YouTube já foi visto mais de quatro milhões de vezes e tem 104 mil "gostos" e 126 mil "não gosto", com vários comentários de brasileiros descontentes.

"Foi você que criticou o Trump e disse que ele perderia as eleições, certo? São 80 mil assassinatos por ano no Brasil e um mar de corrupção após 16 anos de PT. Pegar mentiras e meias verdades a respeito do Jair Bolsonaro pode colar com imbecis como você, mas o povo brasileiro sabe qual é a verdade, por isso ele lidera", lê-se num dos comentários, que apelida Oliver de "mentiroso imundo".

Outros pedem desculpa "ao mundo" pelos comentários "agressivos" dos apoiantes de brasileiros. "Peço desculpa por esta secção de comentários, concidadãos do mundo. Nós, os brasileiros, ficámos temporariamente loucos. Voltem a chamar-nos dentro de quatro anos", lê-se num deles.

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