Harriet e outras sete mulheres vão chegar às carteiras americanas

Antiga escrava vai substituir o antigo presidente e dono de escravos Andrew Jackson na frente da nota de 20 dólares
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Pela primeira vez em mais de um século, as notas de dólar vão ter a efígie de uma mulher. E logo uma afro-americana, que nasceu escrava e se tornou um dos ícones da luta antiesclavagista no século XIX. Mais: Harriet Tubman vai relegar para a parte de trás da nota de 20 dólares o antigo presidente dos EUA, Andrew Jackson, conhecido dono de escravos. As novidades não se ficam por aí: Tubman não será a única mulher nas notas de dólar, havendo espaço para outras sete figuras femininas nas de 5 e de 10 dólares.

Tubman nasceu escrava entre 1820 e 1825, numa grande plantação do Maryland, tendo conseguido fugir do Sul esclavagista em 1848. Usou para isso o chamado Underground Railroad (uma rede de caminhos secretos, casas seguras e aliados abolicionistas), com o qual passaria depois a colaborar. Ao longo de 11 anos, arriscou a vida para regressar pelo menos 19 vezes ao Sul e resgatar cerca de três centenas de escravos. Durante a Guerra Civil Americana, foi espia e guia para os soldados do Norte, tendo depois feito parte do movimento sufragista.

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"A sua história incrível de coragem e de compromisso com a igualdade encarna os ideais de democracia que a nossa nação celebra, e vamos continuar a valorizar o seu legado honrando-a nas nossas notas", disse o secretário de Estado do Tesouro norte-americano, Jacob J. Lew. "Uma mulher, uma líder, uma lutadora pela liberdade. Não consigo imaginar uma escolha melhor para a nota de 20 do que Harriet Tubman", reagiu a candidata à nomeação democrata, Hillary Clinton, que está na corrida para ser a primeira mulher presidente dos EUA.

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A ideia de colocar uma mulher nas notas de dólar surgiu no ano passado, depois de uma criança ter escrito uma carta ao presidente Barack Obama, queixando-se da falta de rostos femininos. Entretanto foi lançada uma campanha nas redes sociais intitulada "Women on 20"s" (mulheres nas notas de 20), para eleger quem deveria ser a escolhida.

Se a "vítima" da despromoção inicialmente pensada pelo Tesouro era o pai fundador Alexander Hamilton, que figura nas notas de 10, os planos mudaram em parte pelo aumento da popularidade do criador do sistema financeiro dos EUA, cuja vida serve de base ao premiado musical da Broadway Hamilton. Já Jackson, que fundou o Partido Democrata e foi presidente entre 1829 e 1837, era criticado por ter tido escravos e pela forma como tratou os índios (expulsou várias tribos do Sudeste para dar as terras férteis aos colonos). Além disso, sempre foi contra a ideia de um banco central e preferia a circulação de moedas à do papel-moeda, ou seja, das notas.

Apesar de tudo, Jackson não desaparece da nota de 20 dólares, passando para a parte de trás ao lado da Casa Branca. Por motivos de segurança, a primeira nota a ser redesenhada será a de 10. Hamilton continuará na parte da frente, mas atrás haverá uma homenagem às sufragistas, com efígies de Alice Paul, Susan B. Anthony, Sojourner Truth, Elizabeth Cady Stanton e Lucretia Mott ao lado do edifício do Tesouro.

A nota de 5 também sofrerá mudanças. Na frente continuará o presidente Abraham Lincoln, mas atrás vão honrar-se vários momentos históricos ocorridos no Memorial Lincoln com os rostos de Martin Luther King, Jr. (foi lá que fez o seu famoso discurso "Eu tenho um sonho") e mais duas mulheres: a ex-primeira-dama Eleanor Roosevelt e a cantora de ópera Marian Anderson. Em 1939, quando as salas de concertos ainda eram segregadas, Anderson atuou frente ao memorial de Washington, com o apoio de Roosevelt, para 75 mil pessoas.

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