Harlan Coben: "Estamos a viver a época de ouro do suspense"
Quando se fala de Harlan Coben existe um número que o confirma enquanto autor de thrillers de primeira linha: 70 milhões de livros vendidos em todo o mundo e traduzido em mais de 43 línguas. Não Fujas Mais (Run Away) é o seu mais recente thriller publicado em Portugal, na mesma semana em que uma minissérie inspirada num seu livro foi exibida no nosso país, e conta uma história pouco habitual na sua carreira.
Em entrevista, Coben recusa escrever sob o stress de quem tem de vender milhões de exemplares cada vez que lança um thriller: "Stress? Que stress? Stress é quando se é um jovem escritor e se espera conseguir publicar um livro e ganhar a vida. Hoje em dia o stress é mais autoinduzido - quero agarrar o leitor e entusiasmá-lo mais do que nunca. Se o leitor, gentilmente, optou por comprar o meu livro e ocupar o seu tempo a lê-lo, quero que ele se sinta feliz por o ter feito."
Garante que nunca altera o curso de uma história para agradar aos leitores de um dos mais de 40 países onde é traduzido: "Nunca. Nem uma vez. Isso é o beijo da morte. Nunca penso 'Ah, vou acrescentar isto porque os meus leitores na Bulgária vão adorar'. O que aprendi foi o seguinte: quanto mais específico sou, mais universal é a atração."
Não Fujas Mais parte de uma situação a que assistiu no Central Park em Nova Iorque em frente ao pedaço de calçada que homenageia o Beatle John Lennon a poucos metros do local onde foi assassinado. Pergunta-se-lhe se sabia que aquelas pedras brancas e pretas onde está escrito Imagine é uma reprodução da nossa calçada e feita por calceteiros portugueses? "Não sabia! Obrigado."
A quantidade de reviravoltas em Não Fujas Mais é grande. A intenção é confundir o leitor e evitar que descubra o final?
Quero principalmente entreter, esclarecer e talvez educar os leitores. As reviravoltas são divertidas. Brincar com as expectativas do leitor fá-lo prestar atenção. Fá-lo virar as páginas e imergir na história.
Até que ponto este novo thriller é - ou tem de ser - diferente dos seus anteriores best-sellers?
Acho que Não Fujas Mais tem o meu final mais ambicioso. Não se está à espera dele. Não Fujas Mais também aborda muitos assuntos - dependência de drogas, sites de genealogia do ADN, vídeos virais, redes sociais, cultos religiosos e, acima de tudo, a família. Talvez seja o meu romance mais ambicioso, mas deixarei que seja o leitor a decidir isso.
Ter o selo de bestseller de The New York Times ainda é fundamental para seduzir leitores?
Não faço ideia. Deveríamos fazer essa pergunta aos leitores, não a mim.
Já revelou que a inspiração para este livro foi enquanto estava no Central Park. Foi uma situação excecional ou as boas ideias também nascem do acaso?
Ambas as coisas. Passo o dia todo a pensar "E se?" Na maioria das vezes não leva a lugar algum. Mas se se fizer isso com bastante frequência, talvez se encontre alguma coisa. Geralmente é assim que funciona para mim.
Esta história tem que ver com até que ponto um pai é capaz de ir para salvar a sua filha. Foi mais um livro ou teve de se distanciar da parte humana da própria história?
Eu sou sempre capaz de me distanciar. Tenho quatro filhos à volta dessa idade e, no entanto, não tenho medo dessas situações. Às vezes acho que escrever esses livros é a minha terapia.
A maior parte dos thrillers psicológicos de sucesso estão a ser escritos por mulheres. O género influencia as narrativas?
Penso que sim, mas não lhe sei dizer como. Eu acredito que estamos a viver a época de ouro do suspense. Quanto mais diversidade de pontos de vista - género, nacionalidade, raça, religião, convicções, preferências -, melhor.
Houve algum livro ou autor que o tenha feito dedicar-se à literatura?
Foram muitos os escritores que, ao longo dos anos, deixaram as suas marcas em mim de várias maneiras, umas óbvias e outras não - todos, de Philip Roth a Mary Higgins Clark. Eu leio muito. Todos os escritores o fazem. Não conheço músicos que não ouçam muita música e não conheço muitos escritores que não leiam muitos livros.
Os livros ainda mudam as vidas das pessoas?
Sim, tanto quanto sempre mudaram, sem dúvida. Ler nunca foi tão importante como agora. O maior perigo para o mundo, neste momento, é a falta de empatia. A leitura aumenta a empatia como a ginástica aumenta o músculo.
Harlan Coben
Editorial Presença
360 páginas