Há cada vez mais alunos do Ensino Superior a precisar de apoio social
A EPIS atribuiu, no ano passado, 147 Bolsas Sociais a jovens, num investimento recorde de 290 mil euros, o que representa um aumento de 96% face a 2020 e de 171% face a 2019. 53 dessas bolsas - 36% do total - foram atribuídas a alunos a iniciar o ensino superior ou o mestrado, sendo as restantes para apoiar alunos no ensino secundário. "Esta situação tende a agravar-se com o aumento das propinas nas licenciaturas e mestrados. No 2.º ciclo do Superior (Mestrado), o aumento é maior.
A verdade é que há aqui um espaço. Se Portugal quer apostar mais no ensino superior, devia apostar num maior investimento em apoios sociais. Mas este desafio também diz respeito à sociedade civil e em particular às empresas, que são as maiores beneficiadas pela qualificação", explica ao DN o diretor geral da EPIS, Diogo Simões Pereira. O responsável afirma que Portugal está "abaixo da média europeia" no que se refere ao número de alunos a beneficiar de apoios sociais.
"Estamos longe das melhores práticas", sublinha Diogo Simões Pereira. Este responsável explica as conclusões da EPIS após um estudo do relatório do "Estado da Educação 2019", do Conselho Nacional da Educação. "Em 2018/2019, a percentagem de alunos nacionais que receberam bolsas de estudo no 1.º ciclo do ensino superior foi inferior a de muitos países. Portugal situa-se no segundo escalão mais baixo (10% a 24,9%); Irlanda, Países Baixos (ambos entre 25% e 49,9%) e Suécia (>75%) estão melhor, mas isso também se verifica para Espanha, França, Reino Unido, e outros países com quem nos devemos comparar", refere.
Estes países, explica, "são os que contam com mais alunos qualificados e são os que apostam muito em apoios sociais". Neste momento, no nosso país, podemos estar a deixar alunos com mérito sem acesso ao Ensino Superior por falta de bolsas sociais", afirma Diogo Simões Pereira. O responsável acredita que, para além do Governo, o desafio da mudança de panorama "tem de passar pela sociedade civil e em particular pelas empresas".
Segundo o diretor geral da EPIS, os alunos que se candidatam a bolsas da EPIS para o ensino superior e mestrado são, em média, de famílias menos carenciadas do que os alunos que pedem apoio para o secundário. Contudo, é no 2º ciclo do Ensino Superior que as propinas "assumem uma despesa cada vez maior". "Sem reforços dos apoios sociais para os alunos carenciados, não teremos a igualdade de acesso que já existe até ao 12º ano. Vamos desperdiçar o talento de muitos jovens que pertencem a famílias que não podem suportar as despesas no Ensino Superior", conclui.
Diogo Simões Pereira lamenta também que "o tema da educação tenha sido pouco debatido pelos partidos políticos na campanha para as legislativas". "Portugal tem um conjunto de desafios críticos na área da educação, sobretudo pela falta de professores e pela necessidade de um ciclo de rejuvenescimento da classe docente. Falou-se muito do SNS e pouco da escola pública. Temos milhares de alunos que estão sem professores e é um problema cada vez mais crescente. É uma questão mais sensível do que a dos apoios sociais para o Superior, mas que deve ser debatida rapidamente", sustenta.
O programa de Bolsas Sociais da EPIS existe desde 2011 e já permitiu o apoio a 101 escolas e organizações, através de 572 bolsas, num investimento de 922 mil euros, possíveis através do apoio de 73 investidores sociais e 154 parcerias.
Segundo a EPIS, "o desafio atual do ensino superior passa, em grande medida, pela igualdade de acesso para todos os jovens, em especial os que, tendo mérito académico, pertencem a famílias com menos capacidade económica para suportar três a cinco anos de investimento para um ou mais filhos, muitas vezes deslocados da sua residência". Deste modo, explicam os empresários, "um sistema de bolsas de estudo com ampla cobertura parece ser fundamental para ultrapassar este desafio no final da década". Para os Empresários pela Inclusão Social, "até 2030, um dos principais desafios da Educação em Portugal é o aumento da percentagem de adultos com ensino superior, que constitui o grande motor para o elevador social funcionar mais e melhor em Portugal".
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