"Há bons argumentos para que o Estado invista mais no espaço"

Primeiro aterraram na Lua, evitando obstáculos no solo - tudo no computador. A ESA ficou interessada e decidiu financiar a fase seguinte do projeto. Francisco Câmara e Tiago Hormigo, dois dos fundadores da Spinworks e líderes do projeto, contam como foi chegar aqui
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Como surgiu este projeto para a ESA?

Na sequência de outros em que desenvolvemos a tecnologia e demonstrámos que o sistema funcionava no computador. A ESA quis que levássemos a tecnologia à fase seguinte. Então criou este projeto e deu-nos acesso a computadores de bordo das futuras naves, que são muito mais limitados em velocidade e memória. Foi um desafio simplificar ao máximo o código e acelerá-lo para correr dentro dos tais dez segundos, que é o tempo disponível para processar os dados e tomar a decisão do local seguro para a aterrar.

Quando poderá o sistema voar numa missão?

Já não vamos a tempo da próxima missão europeia a Marte, em 2020. Mas a ESA está a planear uma missão à Lua, com a agência espacial russa, e há planos para incluir este sistema, em duas etapas. Numa primeira missão, que entretanto foi adiada e que já não será em 2020, é inserida uma caixa a bordo com uma câmara e um LiDAR [sistema de varrimento laser para obter imagens em 3D] só para fazer medições durante a descida. Numa segunda missão, dois ou três anos depois, já estará presente o sistema de deteção e desvio de obstáculos.

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O sistema poderá então ser utilizado primeiro numa missão à Lua?

Há essa possibilidade.

Quando fundaram a empresa, em janeiro de 2006, qual era o panorama da indústria espacial em Portugal?

Havia muito poucas empresas portuguesas, ou sediadas em Portugal, nesta área. Portugal tinha aderido à ESA em 2000 e o espaço era um negócio embrionário.

Como avaliam a evolução deste setor no país?

Hoje, orgulhosamente, podemos dizer que há uma indústria espacial no país. É de muito pequena dimensão, pelas limitações da contribuição nacional para a ESA, que é da ordem dos 17 milhões de euros, mas o know-how cresceu muito nesta área em Portugal. O setor nacional só pode obter financiamentos na ESA, por concurso, até àquele limite, que depois na prática é mais baixo, da ordem dos 12 milhões de euros anuais. Mas a capacidade da indústria espacial nacional permitiria facilmente obter contratos num valor global do dobro ou do triplo disso. Portugal está hoje equipado para conseguir absorver contratos no valor total de 25 a 30 milhões de euros nesta área. Há, portanto, um bom argumento para que o Estado invista um pouco mais em espaço. Mas também é preciso dizer que durante o período mais crítico não houve redução de verbas nesta área, como noutros setores, o que foi bem pensado. Agora vamos ver se isto se inverte para podermos crescer.

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