Há 86 anos que não morria tanta gente em ataques de tubarões. Entenda porquê
Este ano já morreram sete pessoas vítimas de ataques de tubarões na Austrália, a maioria surfistas. Um número preocupante, já que desde 1934 que não havia tantas mortes causadas por estes ataques. A última vítima foi um surfista, no início deste mês, cujo corpo nunca apareceu.
Estes casos estão a preocupar as autoridades australianas, até porque os ataques e as consequentes mortes estão a ocorrer em várias localidades do país. E de facto há motivos para esta apreensão, dado que em 2019 não foi registado qualquer caso, e nos anos anteriores o máximo foram um ou dois ataques que resultaram em vítimas.
Para encontrar tantas mortes vítimas de ataques de tubarões na Austrália é preciso recuar 86 anos, ou seja, até 1934, sendo que o ano com o maior número de vítimas foi em 1929, quando morreram nove pessoas.
"Este ano está a ser um problema sério. A média dos últimos 50 anos tem sido de um ataque por ano, e já vamos em sete em 2020. É uma fatalidade", disse à CNN Culum Brown, professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Macquarie em Sydney. A grande diferença não está nos ataques (21 este ano, o que é normal), mas sim na taxa de mortalidade.
As explicações para este fenómeno são várias. Alguns investigadores dizem que se trata apenas de uma coincidência, mas a grande maioria aponta a crise climática como a principal causa para tantas mortes registadas.
Isto porque à medida que os oceanos aquecem, ecossistemas inteiros são destruídos e outros forçados a adaptarem-se. Por outro lado, as migrações de algumas espécies de peixes estão a acontecer a um ritmo como nunca se viu, e por isso o comportamento de algumas espécies está a mudar. E à medida que estas transformações ocorrem, os tubarões seguem as suas presas e aproximam-se mais das praias frequentadas por humanos.
A crise climática causou nos últimos anos vários incêndios violentos em terra, com ondas de calor extremas, mas também atingiu os oceanos, o que está a causar estragos em vários ecossistemas. Na região mais a sul da Austrália, as águas estão a aquecer quatro vezes mais do que a média global. Na Grande Barreira da Austrália, por exemplo, mais de metade dos corais desapareceram.
"Passo muito tempo em barcos ao largo da costa e não me lembro de ver tantos cardumes de peixes isca como neste ano. Não tenho dúvidas de que os tubarões se estão a aproximar da costa porque veem atrás dos peixes iscas", referiu um investigador.
Por outro lado, as alterações climáticas são responsáveis por mais correntes de água fria e quente e estão a fazer com que as águas junto às costas estejam mais quentes, e ao mesmo tempo a empurrar as correntes frias e ricas em nutrientes. E esta é também uma explicação para a presença de tubarões mais perto de locais onde se encontram as pessoas.
Algumas espécies, como o tubarão-touro, gostam de água quente, enquanto o tubarão-branco prefere temperaturas mais baixas. Os tubarões-tigre são normalmente encontrados mais ao norte - mas só se aventuraram até Sydney, provavelmente também afetados pela corrente. Estas três espécies - tubarões-touro, tubarão-branco e tigre - são responsáveis pela maioria das mortes de pessoas em ataques na Austrália.