Guterres discutiu com Xi Jinping direitos humanos da minoria muçulmana

A China é acusada de agir contra os direitos humanos por ter detido um milhão de muçulmanos indefinidamente em campos de reeducação, segundo se calcula. O Secretário-geral da ONU admitiu já estar em conversações com o presidente chinês sobre o tema.
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O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, discutiu com o Presidente chinês a questão dos direitos humanos em Xinjiang, onde se calcula que um milhão de muçulmanos estejam detidos indefinidamente em campos de reeducação, informou a ONU. Pela primeira vez, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, confirmou na segunda-feira que Guterres discutiu "a situação em Xinjiang", com o Presidente da China, Xi Jinping, acrescentando que já houve "vários outros contactos no passado recente sobre esta mesma questão", junto das autoridades chinesas.

Dujarric apelidou as discussões de Guterres com Xi de "muito cordiais" e "francas", durante o fórum "Uma Faixa, Uma Rota", no final desta semana, em Pequim, que se realizou entre 25 e 27 de abril e que contou com a presença de líderes de 37 países e regiões, incluindo o Presidente da República português.

Este anúncio vem na sequência de várias críticas de organizações não-governamentais, entre as quais da Human Rights Watch (HRW), que exortou o secretário-geral das Nações Unidas a denunciar publicamente, em Pequim, a detenção arbitrária de um milhão de muçulmanos.

As autoridades chinesas negaram durante muito tempo a existência de campos de internamento, mas, perante a publicação de imagens de satélite e de documentos oficiais na Internet que denunciavam a sua existência, referiram-se a centros educativos que ensinavam a língua chinesa, o desporto ou a dança folclórica para combater o extremismo religioso.

Numa carta aberta ao líder da ONU divulgada na semana passada, a Human Rights Watch lamentou o "silêncio" de Guterres sobre a "deterioração dos direitos humanos em Xinjiang, onde uigures e outros muçulmanos turcófonos estão detidos indefinidamente em campos de educação".

"A posição do secretário-geral sobre este tema sempre foi a mesma em privado e público", balizando esta questão em princípios indivisíveis, como os direitos humanos que devem ser plenamente respeitados na luta contra o terrorismo e na prevenção do extremismo violento e que cada comunidade deve sentir que a sua identidade é respeitada, explicou o porta-voz da ONU.

Segundo Dujarric, Guterres declarou às autoridades chinesas que "apoia totalmente as iniciativas" da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que tem vindo a pedir a Pequim acesso total à região de Xinjiang para avaliação da situação dos muçulmanos de origem uigur detidos em campos de reeducação.

Em setembro de 2018, Bachelet pediu autorização a Pequim para o envio de uma equipa à região ocidental do país, mas ainda não obteve resposta, sendo que no início de março voltou a fazer o pedido.

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