Tudo como previsto. As eleições autárquicas ditaram o recomeço da guerra civil no CDS-PP. O primeiro sinal foi a renúncia da deputada por Lisboa Ana Rita Bessa (que será substituída por Miguel Arrobas, depois das desistências dos quatro seguintes na lista: Isabel Galriça Neto, Sebastião Bugalho, Diogo Moura e Orísia Roque). A agora ex-deputada - que chegou à bancada centrista pela mão de Paulo Portas e no último congresso apoiou o candidato derrotado João Almeida - afastou-se por estar cansada de guerras entre o grupo parlamentar e o líder do partido (os restantes quatro deputados também estiveram todos com Almeida)..Ontem o líder do partido passou à ofensiva. Numa declaração à imprensa - sem direito a perguntas - Francisco Rodrigues dos Santos anunciou a antecipação (em dois meses) do próximo congresso e ainda que será recandidato..Na declaração, afirmou "estar absolutamente seguro" de que é a pessoa certa "para continuar a atingir os objetivos do CDS-Partido Popular". "Por sentir que cumpri o meu dever e que ninguém, nas mesmas condições, seria capaz de fazer melhor, é minha obrigação colocar-me à disposição dos militantes do meu partido para continuar a liderar o CDS-Partido Popular", anunciou.."A marca da minha liderança tem sido o reforço do poder do CDS na governação do nosso território: já participávamos na governação da Madeira, passámos também a estar no Governo dos Açores pela primeira vez na história e, depois de domingo, governamos sozinhos ou em coligação cerca de 50 câmaras municipais. Um resultado verdadeiramente notável e o melhor desde há muitas décadas a esta parte.".Por isso, pediu "ao presidente do Conselho Nacional a marcação de uma reunião para análise dos resultados eleitorais" e a "marcação do próximo Congresso eletivo, para ouvir o partido, discutir ideias" e apresentar a sua estratégia aos militantes. O congresso será ainda no final deste ano, ou talvez em janeiro. Caso tivessem sido seguidos os calendários normais seria lá para o final de fevereiro. No CDS, o presidente do partido é eleito em congresso e não por um sistema de eleições diretas..Francisco Rodrigues dos Santos insistiu na ideia de que é o homem certo: "A estratégia que segui até aqui deu frutos, permitiu ao partido crescer e também afirmar-se no exercício do poder regional e autárquico. Agora é o momento certo para prepararmos as eleições legislativas: unir o partido em torno da minha liderança, para derrotarmos a esquerda no Governo do País e permitir ao CDS-Partido Popular ser alternativa de Governo." "Contem comigo e contem com um Partido Popular mais forte e mais coeso nesta missão. A direita certa é esta. A direita certa é o Partido Popular", concluiu..Facebookfacebookhttps://www.facebook.com/franciscorsCDS/posts/319837133277127.Antes de falar já porém Nuno Melo tinha feito saber, numa nota no Facebook, que está a ponderar candidatar-se, prometendo uma decisão "dentro de dias"..No seu entender, os resultados autárquicos não foram assim tão positivos quanto a direção do partido os apresenta. "Preocupa-me, no que se refere a candidaturas próprias do CDS, que o partido tenha reduzido a sua representatividade de 134 mil votos em 2017 para apenas 74 mil agora" e que "nas coligações lideradas pelo CDS o número de votos tenha baixado de cerca de 80 mil para cerca de 19 mil" e ainda que "nas grandes cidades onde o CDS concorreu, as nossas votações estejam infelizmente abaixo do Chega e quase a par da IL"..Ou seja: "Se ainda assim se quiser acreditar numa relação atual de 1 para 5 nas coligações com o PSD, então o resultado final traduz uma queda de 75 mil votos face há quatro anos (candidaturas autónomas + candidaturas que lideramos + 20% nas coligações lideradas pelo PSD)." "Fazer de conta que os factos não são os que os números revelam, não só não resolve os nossos problemas estratégicos estruturais, como evita que os superemos com coragem.".Pelo meio, houve "tiroteio" entre o líder do partido e o líder parlamentar. Francisco Rodrigues dos Santos queixou-se de não ter sido ouvido na substituição de Ana Rita Bessa. O líder parlamentar, Telmo Correia, recordou-lhe na resposta, que a substituição se fez simplesmente seguindo a lista. E fê-lo com uma frase assassina: "O desconhecimento da lei não aproveita a ninguém.".O CDS volta assim ao confronto que o anima há 25 anos entre monteiristas (Francisco Rodrigues dos Santos) e portistas (Nuno Melo). Nada então de particularmente novo..joao.p.henriques@dn.pt