Grupo de cidadãos manifesta-se em Carcavelos contra urbanização na Quinta dos Ingleses
A concentração tem como objetivo "proteger a praia de Carcavelos e o último espaço verde significativo de toda a costa dos concelhos de Cascais, Oeiras e Lisboa", mostrando "desagrado em relação ao projeto previsto para a Quinta dos Ingleses e à invasão do betão que está em marcha", informou o grupo Independentes de Carcavelos e Parede.
Segundo explicou à Lusa o porta-voz do grupo, Tiago Albuquerque, a construção projetada de mais de 900 fogos e zona comercial na Quinta dos Ingleses agravará a mobilidade, mas "o pior será para a praia e o último espaço verde entre o Parque Natural de Sintra-Cascais e Monsanto, que devia ser utilizado pela população de Carcavelos".
O Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul (PPERUCS), aprovado em 2014, tem sido contestado por grupos de cidadãos e partidos da oposição à gestão social-democrata em Cascais, por considerarem tratar-se de um "atentando" ao ambiente e à qualidade de vida das pessoas.
O plano prevê a reestruturação urbanística de uma área de 54 hectares, onde se situa o colégio inglês "St. Julian's", com a criação de um parque urbano, a "preservação e valorização do conjunto edificado da Quinta dos Ingleses" e um empreendimento de "usos habitacional, de comércio, de serviços, hoteleiro e outros".
Os equipamentos de utilização coletiva incluem uma escola básica (pré-escolar e primeiro ciclo), dois campos de jogos, centro paroquial com centro de dia, centro de treino gímnico, equipamento cultural, um "ninho de empresas" e estacionamento de apoio à praia.
A autarquia liderada por Carlos Carreiras defendeu que o PPERUCS, além de responder a uma decisão judicial por "direitos adquiridos" pelos promotores, que poderia corresponder a pagar uma pesada indemnização de pelo menos 264 milhões de euros, permitirá criar "uma nova centralidade no concelho".
Já o grupo "Independentes de Carcavelos e Parede" reiterou que, "caso não seja travado, o projeto vai descaracterizar toda a Costa do Estoril".
O grupo que convocou a manifestação também dirigiu uma carta aberta ao Presidente da República e cartas aos ministros do Ambiente e do Planeamento e das Infraestruturas, solicitando a sua intervenção ao abrigo do disposto na Constituição "relativo ao ambiente e qualidade de vida".
Na carta a Marcelo Rebelo de Sousa, o grupo pretende "ouvir a população através de um referendo no concelho", "reverter o processo ou reduzir a área de construção de forma significativa" e "criar um amplo espaço verde público junto à praia, onde predominem as áreas de lazer, bem-estar e desporto ao ar livre".
Para Tiago Albuquerque, a autarquia deve "primeiro revogar a continuação do projeto e realizar estudos de impacto ambiental independentes, nomeadamente sobre os efeitos para a prática do surf" na praia de Carcavelos.
"Se for preciso expropriar, não dizemos [o espaço] todo, que haja um debate para pelo menos proteger a frente de costa, porque há estudos que dizem que dentro de umas décadas não se pode viver na primeira linha por causa dos riscos de avanço do mar", frisou o morador na Parede.
A manifestação, a partir das 14:30 de sábado, no parque de estacionamento de apoio à antiga feira de Carcavelos, na Avenida Tenente Coronel Melo Antunes, deverá contar com outros grupos e movimentos cívicos, nomeadamente o Fórum por Carcavelos, Cidadania Cascais ou Grupo Ecológico de Cascais.
Representantes da CDU, Bloco de Esquerda, PAN e PCTP/MRPP, entre outros, também devem marcar presença, segundo a organização.
A Câmara de Cascais não quis comentar o protesto, mas uma fonte da autarquia adiantou à Lusa apenas que o processo da Quinta dos Ingleses "está em fase de licenciamento" por parte dos promotores do empreendimento.