Grigor Dimitrov. Entre veteranos aparece um playboy renascido

O búlgaro reencontrou-se, após ter vivido os últimos dois anos "numa montanha-russa" a nível físico e psicológico. É o único resistente sub-30 nas meias-finais do Open da Austrália
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Nem "baby Federer" nem "David Beckham búlgaro". Grigor Dimitrov tenta afirmar-se, por fim, em nome próprio, deixando para trás os rótulos do passado. O playboy do circuito mundial de ténis aparece renascido num Open da Austrália que tem sido dominado, até aqui, por veteranos: apurou-se ontem para as meias-finais do primeiro torneio do Grand Slam do ano, no qual é o único resistente com menos de 30 anos.

Entre os suíços Roger Federer (35 anos) e Stan Wawrinka (31) - que se defrontam hoje (8.30 em Portugal continental/19.30 em Melbourne) na primeira meia-final - e o espanhol Rafael Nadal (30) intromete-se um búlgaro de 25 anos, a viver a melhor fase da carreira, desde meados de 2014. Grigor Dimitrov, atual n.º 15 do ranking mundial, qualificou-se ao eliminar ontem o belga David Goffin, por claros 6-2, 6-3 e 6-4, ao fim de duas horas e 12 minutos de grande intensidade. E, assim, confirmou a sua espécie de redenção.

"Vivi os últimos dois anos numa montanha-russa, mas estou feliz pela forma como as coisas aconteceram. Agora, valorizo muito mais as coisas. Estar nas meias-finais de um torneio do Grand Slam significa muito mais para mim", disse o tenista búlgaro, depois do triunfo sobre Goffin. Após uma sucessão de altos e baixos, Dimitrov igualou a maior façanha da carreira sénior - a presença nas meias-finais em Wimbledon em 2014. E parece ter-se reencontrado, após períodos de grande instabilidade física e psicológica - que até incluíram uma derrota na final do ATP 250 de Istambul, em maio do ano passado, por acumulação de advertências do árbitro (enraivecido, partiu três raquetes durante o encontro e por isso perdeu o set final...).

"Desde que comecei a trabalhar com o Dani [Vallverdu, antigo treinador de Murray eBerdych] aprendi um monte de coisas sobre mim próprio e comecei a acreditar mais em mim", explica Dimitrov. Com a troca de técnico no início do verão, o búlgaro - que parecia ter entrado numa espiral de decadência - chegou às meias-finais dos torneios de Cincinnati, Chengdu e Estocolmo, foi à final em Pequim e reentrou no top 20 mundial. E em 2017 começou o ano a conquistar o ATP 250 de Brisbane, com triunfos sobre três jogadores do top 10 mundial (Milos Raonic, Dominik Thiem e Kei Nishikori).

"Esta vitória é tão importante quanto inesperada. Mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde iria ter uma recompensa", disse Dimitrov, que não conquistava um título desde 2014. Nesse ano, com vitórias em Acapulco, Bucareste e Queen"s e a presença nas meias-finais em Wimbledon, foi o clímax da carreira do búlgaro, um antigo n.º 1 mundial de juniores, em quem muitos analistas viam um novo Federer.

Contudo, o "Beckham búlgaro" sempre foi mais famoso pela faceta de playboy, um amante de carros, relógios e gadgets, que derretia corações nas bancadas e nos courts (namorou com Maria Sharapova entre 2012 e 2015 e diz-se que antes esteve envolvido com Serena Williams). "Não posso pensar apenas em ténis 24 horas por dia. Preciso de me distrair", diz o atleta, para depois assumir que está mudado. "Fiz um monte de erros, no ténis e na vida privada, que me custaram muitas derrotas. Mas agora acho que entendi o que realmente importa", garante o renascido Dimitrov.

O que importa para o mais famoso desportista búlgaro da atualidade (filho de um treinador de ténis e de uma professora de Educação Física e ex-jogadora de voleibol) é entrar nos eixos da promissora carreira que lhe auguravam quando ganhou Wimbledon e US Open em juniores (em 2008) - mesmo que continue a ser notícia fora dos courts, agora que namora a cantora Nicole Scherzinger, ex de Lewis Hamilton, estrela da Fórmula 1. "Os últimos 12 meses foram muito difíceis. Trabalhei muito e aprendi muito, quer dentro quer fora do campo", diz Dimitrov.

Os resultados estão à vista: vai em dez vitórias consecutivas. Agora só Rafael Nadal (afastou Milos Raonic, por 6-4, 7-6 (9-7) e 6-4) o separa da primeira presença na final de um major. O duelo é amanhã de manhã.

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