Grávidas com ecografias em excesso

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Uma em cada cinco grávidas faz ecografias a mais. O excesso de consumo de tecnologias de diagnóstico, com os custos inerentes para a Saúde, é um dos problemas já detectados pelo programa Geração XXI, da Universidade do Porto. Um projecto único em Portugal que quer seguir 10 mil bebés até à idade adulta, de forma a identificar precocemente os factores determinantes da saúde e da doença.

Ao fim do primeiro ano de actividade - ontem assinalado com um encontro científico -, o programa conseguiu recrutar mais de cinco mil bebés, nascidos na zona do Grande Porto. Este primeiro ano de existência do Geração XXI mostrou ainda que há discrepâncias importantes no acompanhamento da gravidez: é que se em um quinto dos casos há ecografias a mais (quase 10% das grávidas tinham mesmo feito mais de dez ecografias), em 6% houve exames em falta, com menos de duas ecografias durante a gravidez.

Foram revelados outros números preocupantes: 15% das gestantes são fumadoras, um número que, afirma Henrique de Barros, o coordenador do projecto, "é seguramente o dobro de alguns anos atrás". Mais: 3% das grávidas admitiram ter consumido drogas em algum momento da vida.

Mas as informações sobre a realidade da gravidez em Portugal não se ficam por aqui: mais de 11% das gestantes não fez qualquer consulta de acompanhamento no primeiro trimestre da gestação. E dessas, 15% afirmam que não o fez por não ter tido "marcação mais cedo", o que é, afirma o coordenador do projecto, um dado "muito significativo" e a merecer alguma atenção.

Henrique de Barros salientou ainda que, apesar de todas as recomendações, o exame ao HIV continua a não ser feito como rotina normal. Uma em cada dez grávidas nunca tinha feito o teste na vida e para 16% não houve indicação médica para o fazer durante a gravidez.

Aliás, há vários problemas nas rotinas de acompanhamento de grávidas. Um inquérito feito em 42 hospitais, mostrou que, explica Nuno Montenegro, um dos responsáveis, "os procedimentos para consultas pré-natal são diferentes nos hospitais, o que não se entende quando há orientações internacionais e normas da Direcção-Geral da Saúde".

O Geração XXI vai procurar evidenciar os problemas durante a gravidez, mas também acompanhar o crescimento dos bebés. O financiamento acaba em 2007, o que preocupa os responsáveis, que procuram reunir apoios de mecenato científico. A secretária de Estado da Saúde, Carmem Pignatelli, classificou o projecto de "exemplar" e acredita que o próximo quadro de apoios comunitários vai continuar a financiá-lo, até na constituição do primeiro biobanco - para conservar as amostras recolhidas a bebés e pais.

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