Grandes hotéis acusados de ignorar tráfico sexual. 13 mulheres fazem queixa
Uma ação judicial deu entrada segunda-feira nos Estados Unidos com vários grandes grupos hoteleiros a serem acusados de lucrar com o tráfico sexual, ignorando os crimes e os danos nas vítimas. A queixa foi registada em nome de 13 mulheres que alegaram ter sido vendidas para sexo em quartos de hotel.
Doze cadeias de hotéis foram nomeadas e acusadas de conhecer e ignorar os sinais de alerta de que mulheres e crianças eram vendidas como escravas sexuais nas suas instalações, de acordo com o documento que foi entregue no tribunal federal dos EUA, em Columbus, Ohio.
Será a primeira vez que a indústria hoteleira - que há muito é acusada de servir como um espaço fértil para a exploração sexual de mulheres e crianças - enfrenta uma ação como um grupo.
O caso reúne 13 ações separadas que tinham sido apresentadas em Ohio, Massachusetts, Geórgia, Texas e Nova Iorque.
Entre os citados nos 13 casos estão os grupos hoteleiros Hilton Worldwide Holdings Inc., Red Roof Inn, Intercontinental Hotels & Resorts, Best Western Hotels & Resorts e Wyndham Hotels and Resorts Inc.
Representantes dos grupos hoteleiros não responderam, até agora, aos pedidos de comentários, diz a Reuters.
O caso foi registado pelo escritório de advocacia Weitz & Luxenberg, em Nova Iorque, em nome de 13 mulheres, muitas das quais eram menores de idade quando, segundo elas, o tráfico ocorreu.
Os hotéis "obtiveram lucro" e "beneficiaram financeiramente" ao "fornecer um mercado para o tráfico sexual", lê-se no documento de participação, citando "falhas no setor".
"Essa má conduta corporativa levou ao aumento do tráfico sexual em hotéis que atingiram o nível de uma epidemia nacional", diz ainda a queixa.
Estima-se que 400 mil pessoas sejam atualmente vítimas de escravidão moderna nos Estados Unidos, do trabalho forçado ao tráfico sexual, de acordo com o Global Slavery Index, publicado pelo grupo de direitos humanos Walk Free Foundation.
"Não é apenas uma maçã podre que precisa de ser tratada", disse Luis CdeBaca, ex-comissário dos EUA contra o tráfico de pessoas. "Há anos a indústria da hotelaria sabe que o tráfico sexual e, principalmente, o tráfico sexual de crianças ocorre nas suas propriedades e, no entanto, continua a acontecer."
Uma das mulheres disse, na queixa que foi mantida em cativeiro aos 26 anos em vários locais do Wyndham Hotels, durante seis semanas em 2012. Durante o cativeiro, assegura que teve o nariz partido por duas vezes e o rosto marcado por repetidas agressões.
"Só desejo que as pessoas percebam o que realmente se passa aqui nos EUA", disse a mulher à Reuters. "Está a acontecer em todos os hotéis."
Várias redes de hotéis lançaram iniciativas nos últimos anos para combater o tráfico, como formação de equipas para identificar possíveis vítimas e consciencialização do crime entre os hóspedes.
"Essas mudanças chegaram tarde demais. A questão do lucro, e não a adesão à lei, continua a influenciar a tomada de decisões", lê-se na participação judicial.