Grandes espécies que vivem nos rios e lagos em risco de extinção a nível global

A megafauna aquática do mundo sofreu uma quebra geral de 88% nos últimos 50 anos, alertam cientistas. Algumas espécies, como golfinho do rio Yangtzé, já estão dadas como extintas
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É um sinal de alarme à escala global. Num artigo publicado na revista científica Global Change Biology, um grupo internacional de cientistas que avaliou em 72 países as populações de 126 espécies aquáticas de grandes dimensões, com peso idêntico ou superior a 30 kg, descobriu que todas elas sofreram quebras populacionais da ordem dos 88% no último meio século.

A equipa, que foi coordenada por Fengzhi He, do Instituto Leibniz para a Ecologia Aquática e Pesca de Agua Doce, em Berlim, na Alemanha, sublinha no artigo que a situação "exige medidas de proteção urgentes para a megafauna aquática" a nível global.

Os resultados do estudo, que de acordo com a própria equipa é o primeiro que faz esta avaliação global da megafauna aquática, "põem em evidência a necessidade de medidas de conservação focadas e abrangentes" para estas espécies, como escrevem os autores.

"São resultados alarmantes que vêm confirmar os receios dos cientistas que estão envolvidos no estudo e na proteção da biodiversidade aquática", afirma, por seu turno Sonia Jähnig, do mesmo instituto Leibniz, em Berlim, e coautora da investigação.

A quebra nas populações destas espécies é mais do dobro da que a das espécies terrestres marinhas, que no mesmo período sofreram declínios de 38% e 36%, : respetivamente, de acordo com os cientistas.

Algumas das espécies mais emblemáticas referidas no estudo são, por exemplo, os castores, na Europa, cujo território natural diminuiu em mais de 40%, devido sobretudo à construção de barragens e outras intervenções humanas nos rios do continente, ou ainda o peixe-gato gigante, que está agora criticamente ameaçado nos grandes rios do continente asiático. Esta espécie de água doce gigante sofreu declínios que chegam aos 94%.

Peças-chave dos ecossistemas perdem-se

A pressão humana sobre os habitats aquáticos, nas suas diversas manifestações, é, de resto, a grande causa para as drásticas quebras populacionais das grandes espécies de água doce.

Além das grandes transformações ambientais introduzidas pelas sociedades humanas nos grandes rios, com a construção de barragens, canais e outras obstáculos que afetam a reprodução e a ecologia das espécies, a caça, a pesca e apanha de juvenis e ovos para a alimentação humana são outros fatores que devastam aquelas populações.

Acontece, porém, que as espécies desta megafauna aquática são em geral peças-chave do seu próprio ecossistema, que sem elas fica também mais vulnerável, deixando a restante biodiversidade igualmente mais fragilizada.

Um bom exemplo disso é, justamente o castor, um interveniente ativo na construção e estruturação do seu próprio ecossistema. Na Europa, o território natural desta espécie ficou reduzido a quase metade do que era ainda em 1970, apesar de algumas intervenções para a sua reintrodução em países como a República Checa ou o Reino Unido, entre outros.

O salmão, outra das espécies em risco no Velho Continente, devido à quebra das suas populações de mais de 90%, está igualmente a ser alvo de reintrodução nos seus antigos habitats.

As grandes bacias hidrográficas de rios como o Amazonas, na América do Sul, e o Mekong, ou Yangtzé, na Ásia, que são conhecidos como hot spots de biodiversidade são espaços críticos onde devem ser implementadas medidas concertadas para a defesa da biodiversidade, consideram ainda os cientistas.

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