"Grande prova de vida de Rui Rio, mas Costa também ganhou"
"O debate foi uma grande prova de vida de Rui Rio", afirma perentório Pedro Marques Lopes, sobre o frente-a-frente entre o líder do PSD e o secretário-geral do PS nas três televisões na segunda-feira à noite. O analista político vai mais longe e frisa que o presidente social-democrata "mostrou de forma clara que é uma alternativa". O que considera "muito positivo" para a alternância do sistema democrático. "Só é pena que tenha acontecido tão tarde".
É neste sentido que Pedro Marques Lopes considera que Rio conseguiu atingir o objetivo que tinha para o debate, precisamente mobilizar o eleitorado de centro-direita, que as sondagens têm apontado como fortemente desmobilizado. "Não acredito que ninguém da área de centro-direita conseguisse melhor resultado que Rio contra Costa".
Apesar da boa prestação do presidente do PSD, Pedro Marques Lopes considera que neste debate "ganharam os dois candidatos" às eleições legislativas. Isto porque António Costa manteve uma postura que "acalmou" o eleitorado de centro, que ambos disputam, e não criou "clivagens artificiais" ao admitir pontos de contacto com o PSD em algumas políticas públicas. Entre as quais as de proteção do ambiente.
José Adelino Maltez sublinha mesmo esses pontos de contacto. "São os dois iguais em termos de ideologia, são ambos sociais-democratas". O politólogo afirma que Rio teve uma "vitória relativa", já que não conseguiu dar nenhum golpe e pôr António Costa "KO". Mas o líder do PS também não conseguiu exercitar aquele estilo "matador" que o caracteriza no final dos debates, sobretudo porque as questões que encerraram o frente-a-frente nas televisões foram de políticas públicas em que ambos estão de acordo.
"Nenhum trouxe algum argumento capaz de derrotar o outro", afirma José Adelino Maltez, que criticou o facto de ambos se terem "perdido" em detalhes demasiado técnicos sobre as finanças públicas. "Se sujeitassem Mário Soares a uma coisa daquelas não aguentava muitos minutos. Um líder de Portugal não tem de ser um Centeno...", diz.
O politólogo entende que o modelo de debate não deixou transparecer as qualidades de Costa e de Rio, que apesar de tudo "talvez tenha conseguido mobilizar o eleitorado que lhe faltava para o PSD não ficar abaixo dos 25%".
No Facebook, o embaixador Francisco Seixas da Costa manifestou a convicção que Rui Rio, "se fizer uma boa campanha e tiver um resultado não inferior a 25% pode conseguir manter-se à frente do PSD. Provavelmente, nesse cenário, o PS não teria uma maioria absoluta, o que seria uma má notícia para Costa. A compensação, também para ele, seria a muito boa notícia da continuidade de Rio".
Uma análise feita após o debate em que encontrou um derrotado que nem sequer participou no frente-a-frente: Pedro Santana Lopes. "Rio ganhou e Costa perdeu? Rio melhorou e Costa estabilizou. Alguns indecisos, se, no dia 6, ainda se lembrarem do debate de ontem e se, no decurso da campanha, Rio não 'estragar' tudo, podem optar por vir a votar PSD. Assim, um evidente 'derrotado' do debate de ontem é Santana Lopes, que estava a ser o 'muro das lamentações' de muitos PSD's que andavam desiludidos com a 'performance' do líder e que ontem podem ter sido convencidos a voltar ao redil."
Sobre a prestação dos dois candidatos ao cargo de primeiro-ministro nas eleições de 6 de outubro, o embaixador sublinha que Costa foi taticista ao não atacar Rui Rio. "Não convém a Costa partir para o ataque contra o líder do PSD, porquanto a sua vitória far-se-á precisamente com o voto de muitos de quantos, no passado, votaram no PSD e cujo campo não convém hostilizar excessivamente. Costa sabe que, para ter uma maioria absoluta, tem de ter muito eleitor conservador consigo".
Carlos Abreu Amorim, o insuspeito deputado do PSD, que esteve sempre numa trincheira oposta a Rio, e que não é recandidato, foi taxativo na mesma rede social: "Digam o que disserem alguns comentadores, Rio ganhou o debate a Costa".
Os parceiros parlamentares do governo não ficaram indiferentes ao debate. A coordenadora do BE criticou que o trabalho e a precariedade tenham ficado de fora do frente-a-frente entre os líderes do PS e PSD, defendendo que "será sempre à esquerda" o debate das soluções para quem trabalha.
"Sabe o que é que eu reparei ontem, que fiquei até um pouco surpreendida? É que num debate que teve o dobro do tempo de todos os outros debates não foi apresentada uma solução para as questões do trabalho, para nenhuma questão do trabalho. Estavam a perguntar-me pelos professores, conhecem a proposta do BE", começou por responder.
Soluções para "respeitar os trabalhadores por turnos ou quem tem trabalho noturno" também ficaram de fora do debate, segundo a coordenadora bloquista, que também não viu "nenhuma solução para combater a precariedade".
"Como é que nós temos dois em cada três jovens em Portugal a trabalhar com contrato precário e não é possível numa hora de debate ter-se ouvido uma única proposta sobre como combater a precariedade e respeitar quem trabalha e os seus direitos", questiona.
A resposta foi dada, de imediato, pela própria Catarina Martins: "acho que isso nos mostra uma coisa que é um pouco evidente, é que será sempre à esquerda que se vão debater as soluções para quem trabalha e o respeito por quem trabalha".
"Há professores, há enfermeiros, há técnicos superiores de diagnóstico, há vários casos em que as carreiras não foram respeitadas e nós não podemos dizer às pessoas que elas não trabalharam os anos que trabalharam, ou que não tiveram as avaliações que tiveram, ou não fizeram as formações que fizeram. As pessoas devem ser respeitadas", respondeu inicialmente.
No debate televisivo de segunda-feira, quanto aos professores, Rio garantiu que, se for Governo, se sentará à mesa com esta classe para voltar ao tema da recuperação total do tempo de serviço, desde já avisando que para devolução em dinheiro "a margem orçamental é escassa", apostando em outras formas de compensação como a redução de horário ou antecipação da idade da reforma.
Por seu turno, António Costa contrapôs que o Governo já cumpriu o seu compromisso com os professores, salientando que "sobre esse tema" - da recuperação total do serviço congelado - não tem nada a prometer a esta classe profissional, mas deixou outras garantias.
O secretário-geral comunista avaliou o debate televisivo da véspera entre os líderes de PS e PSD como um "empate do bloco central", alegando que os protagonistas "ou calaram" ou "não tinham nada que discutir" sobre "matérias de fundo". "Pois, é esse pedregulho que eles não conseguem remover", afirmou, ironicamente, quando questionado sobre se o confronto entre António Costa e Rui Rio se tinha saldado por um "empate do bloco central", apesar de analistas terem dado, segunda-feira, o presidente do PSD como triunfador da discussão com o primeiro-ministro.
Para o líder do PCP, "não foi um debate entre dois candidatos a primeiro-ministro, foi um debate entre dois candidatos a deputados que serão ou não eleitos no dia 6 de outubro".
"Em relação a matérias de fundo ou calaram - já vimos aqui o exemplo da legislação laboral, onde convergiram -, em relação às imposições da União Europeia convergem - portanto, não tinham nada que discutir. Quem viu, com certeza, aprendeu alguns conceitos económicos que ali foram colocados", continuou.
Segundo o secretário-geral comunista, "em relação a matéria de facto, aquilo que fez" o país "andar para trás teve sempre o acerto entre PS e PSD" e "aquilo que o PS conseguiu", perante as propostas do PCP, "dar o acordo, permitiu avançar", sendo esta "a questão que está colocada nestas eleições". "O debate é mais um debate. Esclarecendo, repetindo, mais uma vez, vamos eleger 230 deputados que, conforme a própria arrumação de forças que tiver a futura Assembleia [da República] é que sairá o Governo", concluiu.