Grace Mugabe

Chamam-lhe a 'Primeira gastadora'.
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A segunda mulher do Presidente do Zimbabwe já não tinha boa imprensa: milhões gastos em luxos num país esfomeado, usurpação de fazendas de brancos espoliados, inclusão na lista das sanções da UE. Agora foi acusada, em Hong Kong, de agredir um jornalista britânico.

A mulher de 43 anos que há treze ocupa o "posto" de primeira dama do Zimbabwe tem um impressionante curriculo. Acusada de, enquanto os súbditos do marido morrem de fome e cólera e a inflacção galopa para valores astronómicos, gastar milhões nas capitais europeias e asiáticas em incursões nas lojas das melhores marcas, hotéis de trezentas estrelas e aviões fretados, de se apropriar de fazendas da minoria branca e de construir mansões para ela e para o marido - que oficialmente aufere um ordenado de pouco mais de 50 mil euros anuais -, já foi incluída na lista de dignitários do Zimbabwe impedidos de viajar para a Europa (no âmbito das sanções da UE inflingidas ao país) e já viu as contas britânicas do casal congeladas com o objectivo confesso de prejudicar o seu instinto de gastadora nata - que justifica dizendo, num remake da célebre frase atribuída a Maria Antonieta: "Os meus pés são muito estreitos, só posso calçar Ferragamo." Agora, foi notícia em todo o mundo por ter alegadamente esmurrado um fotógrafo em Hong Kong, deixando-lhe na cara a marca dos seus cachuchos de diamantes.

"Ela portou-se como uma louca. Pensei, 'Ora aqui está a primeira dama de uma nação africana a esmurrar-me no meio de uma rua de Hong Kong'. Não acreditava no que me estava a suceder" - as agências noticiosas encheram-se de relatos de Richard Jones, que tinha sido encarregue de seguir Grace na sua incursão consumista e acabou lançado ao chão perto do hotel onde estava alojada, a lutar pela câmara (que a mulher de Mugabe terá ten tado arrancar-lhe). "Viram-me a cerca de 150 metros a tirar fotos e começaram a gritar. O guarda-costas correu atrás de mim. Quando me apanhou, apareceu ela. Deu-me pelo menos uns dez murros na cara e cabeça." Jones, que teve de receber tratamento médico, fez queixa do ataque (ocorrido segundo ele no dia 15 de manhã) mas entretanto a comitiva do Zimbabwe partiu da China (país com o qual Mugabe tem estreitado relações). Grace passava por Honk Kong no final de umas férias na Malásia, onde se comenta que ela e o marido têm uma propriedade.

Esta extraordinária personagem, que também foi notícia em 2008 por supostamente ter sido obrigada a, ao fim de oito anos de inscrição e tentativas, desistir do curso superior por correspondência no qual se havia inscrito - segundo o site Zim Daily, só teria conseguido passar a duas disciplinas e as regras da Universidade de Londres implicavam que teria de desistir, já que não tinha aproveitamento ao fim de oito anos. O site menciona o facto de o tutor da estudante ser o marido e garante que os responsáveis universitários a viam como a pior estudante de sempre. Para se ser justo, porém, há que lembrar o facto de a mulher de Mugabe dificilmente ser querida no país de origem dos fazendeiros brancos que o marido espoliou e expulsou (tarefa na qual ela terá participado com entusiasmo, escolhendo para si, em 2003, uma das melhores quintas dos arredores de Harare, tendo ordenado aos donos que saíssem em 48 horas).

Grace Marufu, que nasceu na África do Sul e foi viver para o Zimbabwe com cinco anos, tem um curso de Secretariado. Foi aliás como secretária no gabinete presidencial que conheceu Mugabe, com quem manteve uma longa relação amorosa. Mais nova 40 anos que o actual marido, só casou com este quatro anos depois da morte da primeira mulher, quando os dois já tinham dois filhos adolescentes (um terceiro nasceu pós-casamento). Descrito como "católico praticante", Mugabe obteve uma autorização especial para casar em segundas núpcias com uma mulher divorciada (o primeiro marido de Grace, com quem esta teve um filho, era piloto). Há quem garanta que a primeira mulher do presidente tinha sobre ele uma boa influência e que após a sua morte este contemplou a hipótese de abandonar o poder, tendo sido Grace a fazê-lo mudar de ideias. Certo é que aos 83 anos ele lá continua, acusado de manipular eleições, perseguir opositores e gastar em proveito da família o pouco que resta nos cofres do Estado, mais o que a ajuda internacional oferece.

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