A 7 de setembro de 1860 o vento soprava forte na cidade de Nova Iorque. O humor meteorológico gorava a tentativa de Thaddeus Sobieski Lowe, aeronauta, cientista e inventor, de lançar o seu balão de ar quente, o Great Western, na tentativa de materializar a primeira travessia do Atlântico por ar. Thaddeus, também meteorologista, sabia que à boleia dos ventos de grande altitude o seu balão poderia atingir o continente europeu. Mais tarde, a 29 de setembro, um problema técnico obstaria a novo lançamento. Thaddeus Sobieski não ficaria para a história como pioneiro nas viagens transatlânticas entre as nuvens. Escreveria, contudo, algumas páginas na história dos Estados Unidos como "pai" do reconhecimento aéreo com fins militares, no decorrer da Guerra Civil Americana. Em 1861, Lowe foi nomeado pelo presidente norte-americano Abraham Lincoln chefe do corpo de balões do exército da União, o Union Army Balloon Corps. Por dois anos, os engenhos aéreos patenteados por Thaddeus serviram o esforço de guerra em batalhas como a de Bull Run, no estado da Virgínia, em 1861..Na mesma época, um general alemão desempenhava o papel de observador do exército da União. Ferdinand von Zeppelin, também inventor, teve a oportunidade de assistir a uma demonstração do balão de Lowe. Zeppelin tornar-se-ia mais tarde, no início do século XX, pioneiro no desenvolvimento de dirigíveis rígidos. Por volta de 1910, os céus europeus viam-se sulcados por aeróstatos com mais de cem metros de comprimento. Em 1914, uma única companhia área somava o transporte de mais de 10 mil passageiros à boleia dos zepelins..Na década seguinte, os zepelins ganhavam uma ambição de viagem proporcional ao grande crescimento da estrutura de metal rígido coberta com tecido, que constituía o seu corpo. Em 1828, o mundo conhecia o maior dirigível construído na época. O LZ 127 Graf Zeppelin rivalizava em comprimento com o portento dos mares construído em 1909, o Titanic. O navio naufragado no Atlântico Norte em 1912 contava com 269 metros de comprimento, face aos 236 metros do novo dirigível..Mais do que o gigantismo, os dois engenhos procuravam ultrapassar a distância atlântica que separava a Europa da América do Norte. Em 1928, o LZ 127 Graf Zeppelin concretizava o feito ao ligar em 112 horas a cidade de Frankfurt, na Alemanha, a Nova Iorque, na costa leste dos EUA..Porta aberta para lançar o dirigível em voos de maior escala. Em 1929, perto de 60 pioneiros, entre passageiros e tripulação, embarcavam no voo mais solitário da história de então. O objetivo traçado para o LZ 127 Graf Zeppelin encaixava no campo da ambição: efetuar a primeira viagem aérea de circum-navegação do globo terrestre. A bordo seguia uma única mulher, a jornalista Grace Marguerite Hay Drummond-Hay. Nascida em Inglaterra em 1895, Grace tornar-se-ia a primeira mulher a completar uma volta ao mundo em zepelim. Feito para o qual contribuiu uma carreira iniciada ainda no país natal, no jornal The Sphere e que contaria, mais tarde, já nos Estados Unidos, com a colaboração em jornais como o Chicago Herald and Examiner, propriedade do magnata do ramo editorial William Randolph Hearst, o homem que inspirou a personagem do protagonista de Citizen Kane, filme de 1941 de Orson Welles..Hearst, que suportou metade dos custos da operação que levaria o Graf Zeppelin a percorrer por ar oceanos e continentes, exigiu ter a bordo uma das suas melhores repórteres, Grace Marguerite, então já viúva de Robert Hay D. Hay com quem se casara aos 25 anos..Em agosto de 1929, o LZ 127 Graf Zeppelin erguia as suas 67 toneladas no céu da estação aeronaval de Lakehurst, no estado de Nova Jersey, nos EUA. Grace Marguerite partilhava a cabina com alguns notáveis da época como o explorador polar de origem australiana George Hubert Wilkins e William B. Leeds, multimilionário da indústria do estanho..Nos 21 dias seguintes, o Graf Zeppelin sobrevoaria o oceano Atlântico, com escalas em Frankfurt, na Europa, para, de seguida, percorrer sem paragens mais de 11 mil quilómetros, muitos deles sobre a Sibéria, até nova paragem em Tóquio. Na capital japonesa, Grace Marguerite e restantes companheiros de viagem eram aguardados por 250 mil pessoas. Da Ásia para a América do Norte, o LZ 127 Graf Zeppelin, completaria nova escala de mais de nove mil quilómetros. Após um voo cénico sobre São Francisco, o dirigível aportou em Los Angeles, na Califórnia e, daí, para o destino de origem. O engenho aéreo havia percorrido 36 mil quilómetros..A milhares de pés de altitude e a uma velocidade de 120 quilómetros por hora, a bordo do dirigível, Grace escreveu dezenas de artigos enviados a cada escala para os Estados Unidos. A pioneira no feminino das viagens em dirigível, continuaria a sua saga a bordo dos gigantes aéreos da primeira metade do século XX. Em 1936, Marguerite embarcou no primeiro voo do dirigível Hindenburg, entre a Alemanha e os Estados Unidos..Não foi apenas nos céus que Grace Marguerite escreveu a sua carreira. A jornalista cobriu em reportagem zonas de conflito na Abissínia (atual Etiópia) e na Manchúria (China). Ainda como correspondente estrangeira foi feita prisioneira num campo de concentração japonês em Manila, nas Filipinas. Em 1945, a jornalista era libertada, embora debilitada. Morreria em Nova Iorque em 1946, seis anos após o desmantelamento do LZ 127 Graf Zeppelin..dnot@dn.pt