Os dois últimos governos socialistas deverão ser capazes de criar mais de 57 mil postos de trabalho públicos entre o final de 2015 e o final de 2021, indicam cálculos do DN/Dinheiro Vivo com base nos dados oficiais e nas novas previsões do Ministério das Finanças, na proposta de Orçamento do Estado para o ano que vem (OE 2021)..Do referido acréscimo de 57,3 mil funcionários públicos, cerca de 12,4 mil trabalhadores (mais de um quinto) dizem respeito à contratação líquida de profissionais desde que começou a pandemia, em março..De acordo com a proposta de OE 2021, entregue na segunda-feira à noite ao parlamento, o Ministério das Finanças estima que se chegue ao final deste ano com cerca de 708,7 mil funcionários públicos e que este número suba cerca de 1,1%, para 716,5 mil, no final de 2021..Trata-se de um crescimento anual que está em linha com o que se espera para o emprego a nível nacional, que deve aumentar 1% também. Estes números permitem ainda tirar outra conclusão: desde o tempo da troika que Portugal não tinha tantos funcionários públicos. É preciso recuar a meados de 2012 para encontrar um universo superior em número: havia cerca de 720,2 mil trabalhadores nessa altura..Depois da forte destruição de emprego público que aconteceu durante os anos do programa de ajustamento e da troika, desde finais de 2017 que a tendência é notoriamente crescente..A política de recursos humanos também mudou nos últimos anos, mesmo antes da bancarrota. O Estado e os restantes serviços públicos começaram a modernizar-se e a aplicar políticas para elevar o nível de qualificações e contrariar o crescente envelhecimento desta força de trabalho..O tempo de crise pandémica veio tornar ainda mais evidente este tipo de objetivos, sobretudo à luz da falta de meios humanos que já se sentia (até antes de aparecer o coronavírus) em áreas centrais do combate à crise, como o Serviço Nacional de Saúde, mas também a escola pública..O Orçamento diz que "em 2021, prevê-se um substancial rejuvenescimento dos quadros da administração pública devido à aplicação da regra de pelo menos uma entrada por cada saída"..Ou seja, por cada saída por motivos de aposentação ou outros haverá pelo menos uma entrada, uma contratação. E, diz o governo, preferencialmente de pessoas mais jovens e qualificadas..Esse rejuvenescimento dos quadros da função pública reflete "a entrada dos trabalhadores selecionados no primeiro processo de recrutamento centralizado e o programa de estágios nas administrações central e local", diz o governo..Ontem, na conferência de imprensa de apresentação do novo Orçamento, o ministro João Leão puxou dos galões dessa aposta nos recursos humanos que diz estar em curso..Referiu que a contratação de 4200 novos profissionais para o Serviço Nacional de Saúde está a andar e vai custar cem milhões de euros em 2021. Também na saúde, o ministro acenou com seis milhões de euros adicionais para reforçar as equipas do INEM com mais 260 profissionais..E não esqueceu a rducação. O OE 2021 prevê um aumento de três mil assistentes operacionais para as escolas, medida que custará 35 milhões de euros, contabilizou João Leão..Em termos gerais, enquanto a despesa total do novo OE cresce cerca de 1,9%, a despesa com pessoal aumenta substancialmente mais. As Finanças calculam que suba 3,5% no ano que vem, atingindo os 24,6 mil milhões de euros, o equivalente a quase 12% do produto interno bruto (PIB)..Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo