Governo só sabe em setembro se Sintra pode ter mais comboios. A haver "aumento, será marginal"

Governo garante que apenas um comboio teve lotação acima dos dois terços. Sindicato contesta contas oficiais: "Usar médias é uma ilusão do problema."
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Só em setembro se vai saber se poderão circular mais comboios por dia na Linha de Sintra. A CP e a Infraestruturas de Portugal estão a estudar se há condições para a linha ferroviária mais procurada do país ter mais oferta, sobretudo na hora de ponta, e assim diminuir as taxas de ocupação numa altura em que os transportes públicos têm a lotação limitada a dois terços dos passageiros para evitar a propagação da pandemia de covid-19.

A informação surge numa altura em que várias reportagens têm mostrado comboios na Linha de Sintra - concelho com seis freguesias em situação de calamidade, abrangendo perto de 300 mil habitantes - com passageiros em pé e a acumularem-se junto às portas na hora de ponta da manhã.

"No futuro, estamos a estudar o reforço de horários. Este trabalho vai durar alguns meses, cerca de três, só para sabermos de que forma é possível aumentar a capacidade", adiantou aos jornalistas nesta segunda-feira (29 de junho) o ministro das Infraestruturas e da Habitação. Mas Pedro Nuno Santos já vai moderando as expectativas sobre eventuais mudanças que possam ocorrer naquela linha nos próximos tempos. A existir, será um "aumento marginal" da capacidade de circulação destes comboios, que param em todas as estações de 10 em 10 minutos nas horas de ponta e que ocupam toda a distância da plataforma (na configuração com oito carruagens, os chamados comboios duplos).

Mesmo porque a própria linha do comboio não o permite: de Sintra até ao Areeiro, o troço conta com quatro linhas, mas entre o Areeiro e o Braço de Prata existem apenas duas, o que provoca constrangimentos na circulação dos comboios. E só em meados desta década, quando este troço passar a ter quatro linhas, é que haverá outras possibilidades de aumento da circulação de comboios.

Regra da lotação é cumprida?

Numa audição parlamentar a 29 de abril, Pedro Nuno Santos chegou a revelar que na Linha de Sintra, antes da pandemia, os comboios chegavam a circular para lá da sobrelotação. "A lotação máxima por comboio na linha de Sintra é de 1600 pessoas. Em sobrecarga, são 2000 pessoas, o que corresponde a 130% de capacidade. Só que há comboios nesta linha a circular a 160% da capacidade".

Nas últimas semanas, as taxas de ocupação estão naturalmente em níveis muito mais baixos. Segundo os dados do Ministério das Infraestruturas divulgados na segunda-feira, houve apenas um comboio, na quarta-feira, dia 23 de junho, que chegou a circular com mais de dois terços da lotação, infringindo as normas da Direção-Geral da Saúde. Países como Espanha e Alemanha, por exemplo, não impuseram limites à lotação nos transportes públicos. A Linha de Sintra passa por seis das 19 freguesias que estão sujeitas ao novo dever cívico de recolhimento por causa da Covid-19, incluindo Agualva e Mira-Sintra, Algueirão-Mem Martins, Cacém e São Marcos, Massamá e Monte Abraão, Queluz e Belas e Rio de Mouro.

A experiência de quem anda naquela linha não corresponde aos números do governo, conforme denuncia a federação dos transportes, que lamenta: "Usar médias é uma ilusão do problema, sobretudo na parte da manhã." De acordo com a Fectrans, "pelos relatos que vão chegando, há comboios que vão sobrelotados. Nem todos os comboios andam cheios", mas "há situações de maior lotação, tendo em conta a organização do trabalho, por causa da entrada ao serviço às 8h e 9h da manhã".

Pedro Nuno Santos defende-se com dados: "Dos 2200 funcionários que a CP tem no terreno [maquinistas e revisores], apenas três foram infetados com covid-19. Não há um risco acima da média na transmissão do vírus dentro dos comboios". O governante dá ainda outra garantia: "As pessoas também podem ter a certeza de que o comboio é limpo diariamente e, quando é possível, mais do que uma vez por dia."

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