Governo ainda não decidiu que canal da RTP vai alienar

Não é certo que seja a RTP 2 a ser vendida. Responsáveis da estação pública falam em "indefinição" e preocupação.
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O Executivo liderado por Passos Coelho não tem uma decisão tomada sobre a posição de que canal da RTP irá alienar até ao final do ano. A informação foi avançada ao DN por fonte governamental, que garante: "Há vários cenários em cima da mesa e todos passarão pela alienação de um dos canais, como estava previsto."

A decisão, essa, será tomada "em setembro ou outubro" e pode passar por três cenários: alienar a posição do canal 1, do 2 ou uma terceira hipótese sobre a qual ninguém levanta o véu. Fonte governamental negou a informação veiculada ontem pelo Expresso que avançava que seria a RTP 2 a posição alienada. O processo é tutelado pelo ministro Miguel Relvas, com acompanhamento de António Borges, conselheiro de Estado para as privatizações. Os consultores jurídicos (Campos Ferreira e Sá Carneiro) e estratégicos (BCG e Accenture) foram os eleitos e já estão a trabalhar no caso.

O caderno de encargos estará pronto até final deste ano, devendo o processo de candidaturas avançar no início de 2013. Cofina, Ongoing, TV Record, Bandeirantes e Newshold são possíveis interessados, mas não há candidatos oficiais.

Jorge Wemans, diretor de Programas da RTP 2, realça que a grelha do canal único já está a ser preparada, ainda que em fase prematura. "Tem havido debate e reflexão internos, mas nada é válido. Estamos numa fase inicial. Existe muita indefinição, muita coisa ainda não é clara. Não se pode definir uma grelha de um canal único sem se ter o novo Contrato de Concessão de Serviço Público. Aí já teremos as orientações suficientes", diz o responsável ao DN.

Contudo, fonte ligada à estação pública frisa que a grelha da rentrée da RTP 1, em setembro, "já é uma miscelânea dos canais 1 e 2, que será serviço público ao mais baixo custo". Outra fonte esclarece que o futuro canal "não será uma cópia da atual RTP 1 e terá, também, vários conteúdos do segundo canal, e, ainda, outros novos". O ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares já disse que quer manter um canal de "referência", e concorrencial, sendo essa uma das razões apontadas pelo Expresso para que seja alienada a posição do canal 2 e não a do 1 (o primeiro canal é dos botões mais clicados).

No novo canal único, Jorge Wemans diz ser importante ter quatro áreas de conteúdos da RTP 2: espaços infantis, agenda cultural, documentários e cinema. "Programas específicos podem terminar, criam-se outros. A intencionalidade é que tem que estar lá", realça.

Na RTP, contudo, as opiniões dividem-se e há quem ache que seja o primeiro canal a ser alienado, "uma vez que é o mais valioso dos dois". "Ficando a RTP 2, a programação terá conteúdos do primeiro canal que possam dar mais audiência", acrescenta uma fonte.

Por enquanto, a maioria dos contratos de produção e direitos de emissão só estão a ser feitos até dezembro de 2012, para ambos os canais. Isso já se notou com a ausência da RTP no MIP TV, feira de programas em Cannes. Quanto a possíveis despedimentos, "existe grande receio dos trabalhadores", que não sabem o que irá acontecer", diz fonte do canal.

Jaime Fernandes, diretor da RTP Internacional e África, revela estar "a preparar o plano A e B", independentemente do canal alienado. Mas mostra-se preocupado. "Os canais internacionais serão sempre prejudicados, já que as suas grelhas são alimentadas com conteúdos da RTP 1 e da RTP 2", diz.

Sobre a alienação, Arons de Carvalho, vice-presidente da ERC, espera que "não seja uma venda direta e que haja um concurso. Ainda assim, será sempre um erro. O mercado publicitário está reduzido. Mais um operador vai tornar as condições dramáticas."

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