"Gosto de comunicar e sou uma mulher curiosa, não fujo"

Ontem, antes de um encontro para o público no qual Monica Bellucci apresentou o filme de sua escolha, "Malena", de Giuseppe Tornatore, o DN falou com a última diva do cinema italiano. A atriz estava feliz com a receção no LEFFEST e confessou que não sentiu o caos das obras da capital.
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De vestido curto e justo. Maquilhagem na medida, ao ponto. Cabelo impecavelmente solto. Monica Bellucci é uma senhora de 52 anos com uma juventude desconcertante. Depois de uma informal, muito informal conferência de imprensa, não quis dar entrevistas, abriu uma exceção para o DN e a um canal televisivo. A sua presença no Lisbon and Estoril Film Festival (LEFFEST) foi de um mediatismo esperado. Monica é uma verdadeira star, mas é também alguém que sabe ser star. Não tem ares de diva. Apenas pediu ao nosso fotógrafo que não a fotografasse enquanto estava a dar a entrevista. E, sim, está mais bela do que nunca. Falou num inglês com sotaque italiano do mais sedutor que há. Claro, é uma sedutora nata, mesmo sem querer...

Na sexta-feira, no jantar de gala de abertura do festival, reparei que estava à vontade com tanto foco em si. Basicamente, havia momentos em que todas aquelas centenas de pessoas estavam a olhar para a sua mesa, a espreitar. Há pouco, na conferência de imprensa, dizia que era tímida. Como é que gere ser sempre o centro das atenções? Pareceu muito tranquila com isso.

Nesses momentos isso é muito normal, seja na apresentação de um filme ou num festival. Isso acontece constantemente com os atores famosos, não é só comigo. Mas tenho momentos em que sou muito privada. Tenho momentos de luz e outros de sombra.

Mas tem algum tipo de prazer com esses momentos de luz?

Eu gosto de comunicar e sou uma mulher curiosa, não fujo... Sou tocada muito pela humanidade. Mas não consigo estar nestas situações todos os dias, nem pense! Coisas como aquela é para aí umas três vezes por ano, como por exemplo [nos festivais de] Cannes ou Veneza... Seja como for, limito-me a vir a estas galas para apresentar os filmes, é trabalho. A desvantagem que tenho em relação a um advogado ou a um médico é que eles conseguem ter vida profissional e mantêm a vida privada intacta. Um ator tem de trabalhar com a exposição da sua pessoa, do seu corpo... Quando um ator tem sucesso sujeita-se a ficar conhecido. Mas lá na gala do casino foi muito interessante pois os convidados eram artistas de todas as vertentes. Aliás, o cinema é a conjugação de todas as artes. O cinema é a vida, é a vida real. Fiquei muito impressionada com todos aqueles artistas que este festival conseguiu juntar. Foi incrível ver lá os melhores realizadores, os melhores atores e os melhores escritores! Portugal tem uma vida artística tão forte! Vocês têm uma energia que segue muito bem.

Porque diz isso?

Porque os vossos artistas não querem que o público pense em termos políticos, apenas artísticos, pelo menos foi o que senti. Foi uma noite muito interessante, espantosa mesmo... Havia tanta vida ali. Olhe, senti-me mesmo bem...

No final, pude observar, alguns atores famosos portugueses quiseram conhecê-la...

Sim, mas foi tudo com tanta simpatia e calor... Simples, é essa a palavra. Foi tudo com uma simplicidade que me apaixonou. Houve um glamour saudável.

Está aqui no festival com On The Milky Road, de Emir Kusturica. É extraordinária a liberdade corporal dos atores nesse filme, é como se estivessem a celebrar o próprio processo do cinema...

É como se estivéssemos a celebrar a vida! Tudo porque o Emir tem esse instinto pela vida, talvez pelo facto de vir de uma terra cheia de sofrimento e dor. É o instinto de vida perto da morte...

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Nesta edição do LEFFEST há uma retrospetiva de Godard. Qual de todos estes filmes mais queria ver ou rever? O que sugere aos nossos leitores?

Meu Deus! O Godard é um mito. O Acossado é incrível e depois há aqueles momentos entre o Michel Piccoli e a Brigitte Bardot em O Desprezo... Aquela poesia é tão forte! Faz parte da história do cinema! O Godard representa a nouvelle vague. Só não me pergunte se prefiro o neorrealismo italiano à nouvelle vague. É impossível escolher.

Claro, não o farei... Consegue perceber se ficou melhor atriz com a idade?

Espero bem que sim! Espero estar a evoluir e a melhorar. Mas um ator acaba por nunca aprender nada. Quando pensa que aprende algo acaba a repetir-se... e isso é muito aborrecido. Passa-se o mesmo com os cavaleiros, nunca têm a fórmula certa para estar em cima do cavalo. O cinema é sempre diferente, nunca dá para aprender. Cada filme é um processo novo.

Está cada vez mais bonita. Será porque é nesta altura uma mulher feliz?

Talvez...

Tem uma casa em Lisboa onde passa alguns dias. Não sei se já reparou mas há muitos lisboetas frustrados com o trânsito, cada vez mais intenso pelas inúmeras obras. A Monica já se sentiu incomodada por esta situação?

Ainda não tive o tempo suficiente para perceber. Quando aqui venho é sempre a correr... Venho quase sempre apenas dois dias, o máximo que cá fiquei foi uma semana. Todavia, todo este movimento dá muita vida a Lisboa!

Disse já que é uma nómada. Não fica um pouco farta desta vida sempre em movimento, não tem aquele desejo de ficar mais estabilizada, com mais rotinas?

Já incorporei que a minha vida é assim mesmo. Estou mentalizada! Antes não acreditava que iria ser sempre assim. A vida é movimento.

Rotina devem ser aqueles stresses de chegar a tempo ao aeroporto e esses tipo de situações...

Sou a típica ragazza con valigia, rapariga de mala feita. Estou sempre preparada. E gosto de ter uma mala grande, uma mala para três, sempre a pensar nas minhas filhas. Uma mala para as três!

E elas, gostam dessa vida de movimento?

Espero bem que sim, nem sei! Elas viajam tanto e falam tantas línguas - inglês, francês, italiano. O português delas é impecável pois passaram algum tempo no Brasil. A sorte é que quando chega a escola elas acalmam e organizo-me para ficar perto delas. Na verdade, trabalho muito, mas depois de uma rodagem longa também posso ficar alguns meses sem trabalhar, sempre para ficar perto delas.

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