Golfinho na ria Formosa. Falharam as tentativas de o devolver ao mar
Recebido o alerta, a equipa constituída por veterinários, biólogos marinhos e enfermeiros veterinários especializados em arrojamentos e com experiência, tentam perceber em que condições vão trabalhar. Depois do aviso de que há dois golfinhos na ria Formosa surgem as questões: que espécie precisa de ajuda? Quantos animais são? Que idade têm? É a estas perguntas que a equipa tenta responder como explica Élio Vicente, diretor do Porto d"Abrigo do Zoomarine, centro de reabilitação de espécimes aquáticos. O passo seguinte é obter informações do local, como correntes, ventos e marés, a experiência das pessoas que estão perto do animal e os acessos. Ao chegar ao local a prioridade é avaliar se se trata de uma situação natural ou se envolve riscos, se há o perigo imediato do animal ficar encalhado.
Não se sabe por que motivo entraram os golfinhos na ria Formosa. São várias as hipóteses. Terá sido um erro de navegação? Curiosidade? Foram à procura de comida? Ou estariam em fuga de algum animal mais agressivo? Ninguém sabe.
O facto de ser um local com intenso tráfego marítimo aumenta a preocupação da equipa e a eventual presença de redes e outro material de pesca também. Todos os anos morrem milhares de golfinhos em todo o mundo emaranhados em redes de pesca ou com ferimentos provocados pelas hélices dos barcos.
Mais perto do animal, é fundamental avaliar a condição física, o comportamento, o padrão de natação e a frequência respiratória, explica o biólogo marinho Élio Vicente.
Claro que avistamentos destes não acontecem todos os dias e a curiosidade para ver os golfinhos é grande, mas a presença de pessoas pode ser um fator de stress para os animais, deteriorando a sua condição física.
Ao longo dos últimos dias, os golfinhos foram monitorizados pela equipa do Porto d"Abrigo, pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e pela Polícia Marítima. Foram realizadas várias tentativas para os encaminhar para o mar, mas sem sucesso. Os animais não passam por debaixo da ponte que faz a ligação para a ilha de Faro por medo ou porque não querem.
Desde quarta-feira que um dos cetáceos está desaparecido. Ou voltou para o mar ou pode ter morrido e ter sido arrastado pela corrente. Resta um golfinho que continua renitente em regressar. "Aparentemente o animal está bem, demonstra um comportamento natural e tranquilo e está num local protegido e com alimento por isso ainda não se tentou a captura e devolução ao mar" explica Élio Vicente, diretor do Porto d"Abrigo do Zoomarine. Uma ação extrema que comporta sérios riscos para a saúde do golfinho.
Este cetáceo é um golfinho roaz, da mesma espécie dos golfinhos que vivem no Sado. Tolera bem águas doces e salobras. "Em caso de urgência será de considerar realizar a técnica de Oikomi, ou seja, bater martelos em barras de metal em várias embarcações para criar uma barreira acústica com o objetivo de o assustar e encaminhar na direção pretendida", explica Élio Vicente. Por enquanto o trabalho de monitorização continua, mas o biólogo marinho deixa um apelo: "Pedimos às pessoas para não se aproximarem, para os barcos se afastarem do animal e, se possível, que eventuais redes que existam no local sejam retiradas."
Os golfinhos roazes vivem em grupos de dois, três ou mais indivíduos. Podem atingir os quatro metros de comprimento e os 500 quilos de peso. A esperança média de vida no meio selvagem é de 50 anos. Os animais comunicam entre si através de assobios, estalidos e cliques e possuem um sonar biológico, a ecolocalização, que lhes permite, através do eco de um som por eles emitido, recolher informação sobre a distância e a dimensão do objeto onde o som embateu. Os golfinhos são extremamente inteligentes e fáceis de treinar. Desde 1959 que os Estados Unidos treinam golfinhos roazes ao abrigo do Programa de Mamíferos Marinhos da Marinha para participarem em missões militares como socorro de mergulhadores, transporte de objetos, deteção de inimigos, minas e objetos perigosos.
dnot@dn.pt