Godinho Lopes: "Continuo a ir a Alvalade e a trocar mensagens com Jesus"

Ex-presidente do Sporting (2011-13) fala da atualidade do clube que o expulsou de sócio e dos três processos em tribunal entre ele e pessoas ligadas aos leões. Godinho Lopes elogia ainda alguns atos de gestão de Bruno de Carvalho, mas não entende a necessidade da última assembleia.
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Como analisa a vitória de Bruno de Carvalho e por números esmagadores (acima dos 85%) na última assembleia geral do Sporting?

Não fiquei nada surpreendido com os números. Já esperava que Bruno de Carvalho tivesse uma votação esmagadora na assembleia geral. Penso que ele saiu reforçado com a aprovação dos três pontos, com mais de 85%, mas não entendo nem vejo que necessidade o atual presidente tinha de convocar uma assembleia para medir os níveis de popularidade numa altura tão importante da época, quando há menos de um ano foi reeleito com quase 90% dos votos. Ele pode dizer que estes episódios não interferem na vida do clube, mas a verdade é que desestabilizam e também é verdade que a equipa teve logo duas derrotas seguidas.

Mas não foi à assembleia geral...

Nem podia. Parece que fui expulso de sócio...

... parece?

Sim. Não me afasto da vida do Sporting, nem digo que nunca mais me candidato, mas agora é difícil, porque parece que fui expulso de sócio. Fizeram aquele julgamento no conselho fiscal e disciplinar e levaram a votação à AG sem estar na ordem de trabalhos ou ser levado à mesa. E fizeram-no depois de apresentar números soltos de uma auditoria e com números mentirosos, por isso recorri ao tribunal, não contra o clube, que fique bem claro, mas contra o presidente Bruno de Carvalho, o presidente da mesa da AG, Marta Soares, e o presidente do conselho fiscal e disciplinar da altura, Bacelar Gouveia.

Na sua opinião, a aprovação dos novos estatutos, na AG de dia 17 deste mês, vai permitir mais expulsões?

Não me parece que vá ser uma caça às bruxas, mas que vai dar poder ao presidente para isso, vai. O que eu espero é que em vez de promover a desunião opte para, daqui para a frente, unir os sportinguistas.

Então nesta altura, quantas ações em tribunal existem?

Essa minha e mais duas outras que foram interpostas pelo clube contra mim. Aquela por causa do Izmailov, Rodríguez e Jeffrén, e a outra na sequência das auditorias à gestão dos antigos presidentes em que eu acabei por ser o único acusado. A seu tempo as coisas vão-se esclarecer. Quem não deve não teme. Os sportinguistas podem acusar-me de ter estado numa das piores épocas do futebol do clube (7.º lugar, em 2012-13), mas não me podem acusar de roubar o clube. Fiz o melhor que sabia.

Mas as acusações de gestão danosa são graves...

Sim, são. E terão de responder por elas no local certo, o tribunal. Acha que eu ajudaria o Sporting estando sempre a defender-me de cada acusação? Mas eu sou um homem de fé e espero que um dia o presidente caia em si e tire os processos.

E relativamente à auditoria. O Sporting exige uma indemnização no valor de 31,6 milhões...

Pois... não tive acesso a ela. Disseram que se tinham esquecido de enviar o anexo. Tive de pedir ao tribunal para me ser disponibilizada. Sabia apenas o que li quando justificaram a minha expulsão de sócio. Dizem que houve desvios na área de construção - confundem imobiliário com construção, mas penso que querem dizer construção -, e referem-se à Academia, em Alcochete, e ao estádio de Alvalade. Durante a realização da auditoria não me fizeram uma pergunta sequer e o que os auditores dizem é que os números finais de construção não têm nada que ver com as iniciais, em momento algum dizem que houve desvios, o que houve foi alterações. O documento diz que o valor previsto do estádio em 1999 era de 5 milhões de euros e o custo final foi de 18 milhões, mas esquecem que o espaço passou de 4 mil para 17 mil metros quadrados, com bancadas, balneários por baixo, um centro de treino coberto, etc... Quanto ao estádio, em 2003, quando era vice-presidente, dizem que passei de 100 para 180 milhões, mas esconderam que acrescentei ao projeto o Alvaláxia, o Multiusos, o Edifício--sede e a Clínica CUF que não existia no projeto inicial...

Desportivamente ficou ligado à pior época do clube (7.º lugar, 2012-13)...

E eu aceito isso. Podem dizer que escolhi mal os treinadores, aceito, que não sabia nada de futebol, também aceito, mas não podem esquecer que um ano antes chegámos à meia final da Liga Europa e lutámos pelo título até ao fim e fomos campeões europeus no futsal.

Tem visto os jogos da equipa? Gosta do futebol do Sporting?

Sim. Acho que há jogos em que a equipa mostra um futebol fluído e bonito e com vitórias, que é o mais importante. Como disse antes, quando posso vou ver os jogos a Alvalade, disso ainda não fui impedido, e continuo a trocar mensagens com Jorge Jesus. Peço-lhe muita paciência e perseverança para fazer do Sporting campeão. E já lhe disse a ele que gosto muito do Sporting a jogar à Jorge Jesus.

Como é a sua vida depois de ter deixado a presidência do Sporting?

Ando tranquilo na rua e faço a minha vida normalmente. Não tenho encontrado animosidade dos sócios. Continuo a ir ver jogos a Alvalade e os sócios não me ofendem nem tratam mal, por isso calculo que eles tenham percebido que fiz o melhor que sabia e podia.

E como analisa a gestão do seu sucessor, Bruno de Carvalho?

Goste-se ou não do estilo e atuação social, o atual presidente tem feito coisas boas. Soube aproveitar a minha reestruturação financeira, tem escolhido muito bem os treinadores, tem apostado nas modalidades, fez o pavilhão e deu-lhe o nome de João Rocha, e manteve a Corrida Sporting, a quem depois deu e bem o nome de Corrida Moniz Pereira.

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