Glintt: continuar a crescer a 10% ao ano
Quando uma organização tem um novo responsável normalmente opta ou por uma continuidade da estratégia ou por uma mudança. No caso da Glintt - Global Intelligent Technologies, que começou o ano com um novo CEO - Luís Cocco - a "nova" estratégia combina continuidade com um novo foco. O novo responsável quer apostar nas pessoas, mas sem esquecer a rentabilidade da empresa.
Nos últimos tempos a empresas conseguiu crescer e ter uma boa saúde financeira - se há seis anos, segundo Luís Cocco, tinha um rácio de endividamento de 6%, hoje o valor está pela metade -- e a ideia é continuar nessa linha -- crescer entre 8 e 9% ao ano. Mas com uma diferença. Em vez de apostar no crescimento por aquisições o novo responsável da Glintt prefere fazê-lo através do crescimento orgânico. Sendo que, na opinião de Luís Cocco, no que concerne à rentabilidade da empresa "há capacidade para aumentar".
Mas isso só será possível se se apostar nas pessoas. É essa a convicção de Luís Cocco, que afirma, convicto, que nas empresas de serviços (como a Glintt) as pessoas são fundamentais. Razão pela qual o CEO tenciona reforçar a área de Recursos Humanos (que antes a empresa não tinha).
A questão é que Portugal (e o mundo) atravessam uma altura de escassez de pessoas. Questionado como conseguirá aumentar o número de colaboradores neste cenário Luís Cocco refere que a empresa pretende "atacar" a questão a vários níveis, proporcionando um bom ambiente de trabalho. Mesmo porque "a remuneração é importante, mas não é tudo". E muita desse ambiente de trabalho passa por proporcionar e usar novas formas de trabalho. A empresa aderiu, quase na totalidade (91%), ao teletrabalho em fevereiro de 2020, ainda antes deste ser decretado pelo governo. Neste momento estão a usar no processo de modelo híbrido e querem finalizá-lo, alargando o mesmo às várias pessoas possíveis. A ideia é que as pessoas possam ir "x" dias ao escritório, onde se reúnem com o resto da equipa, por forma a que não se perca a cultura da empresa, e, nos restantes dias, possam continuar o seu trabalho em casa. Para tal a Glintt está a remodelar o espaço. O objetivo, revela Luís Cocco é o de tornar o ambiente mais informal e agradável. Um pouco parecido a uma casa.
Cada caso será analisado individualmente e, claro, haverá exceções. Esta é a promessa de Luís Cocco que lembra que, com a pandemia, houve pessoas que saíram de Lisboa. E não faz sentido "obrigar" alguém que está, por exemplo, em Bragança ou Viseu, a vir dois dias por semana ao escritório. No entanto o responsável não acredita no 100% teletrabalho porque não cultiva a cultura da empresa. Consoante as equipas as pessoas deverão ir à Glintt dois ou três dias no mínimo, explica.
O ano começou com expectativas fortes de crescimento para Portugal e Espanha - entre 5 e 6%. No entanto o responsável reflete que a guerra na Ucrânia trouxe impactos. Como reconhece Luís Cocco, "a nossa atividade tem uma relação com o crescimento económico" e, claramente, as expectativas de crescimento caíram de forma radical. De uma expectativa de cerca de 6% ao ano.... "neste momento até já se fala em recessão". O segundo impacto, acrescenta, tem a ver com as cadeias de abastecimento e, paralelamente, e de uma forma acentuada, o aumento dos preços. O que, no caso da Glintt, tem como resultado a diminuição das margens. Num primeiro momento a empresa tentou compensar esses aumentos com eficiências operacionais, mas, naturalmente, "nalgum momento vamos ter de refletir para os clientes". Mesmo porque "temos uma política estrita de rentabilidade".
O cenário futuro pode ser incerto e algo nubloso, mas o certo é que a Glintt terminou 2021 com um volume de negócios consolidado superior a 100 milhões de euros. Algo que não acontecia desde 2010 e que representa um crescimento de 11,9% quando comparado com os 91,6 milhões de euros verificados no ano de 2020.
Segundo a empresa grande parte do valor veio do mercado internacional - que registou um crescimento de 27%, com um aumento de 6,3 milhões de euros. O mercado nacional também cresceu -- cerca de 7% -- o que implicou um acréscimo de 4,7 milhões de euros.
Para 2022 a convicção de Luís Cocco é a de que a empresa irá continuar a crescer. "Estamos com uma dinâmica muito boa", afirma, acrescentando que, olhando para as contas semestrais, a Glintt está a crescer, em termos de volume de negócio, cerca de 10% ao ano. "Acredito que, provavelmente, vamos manter este nível de crescimento e ter um dos maiores volumes de negócio de sempre". Já no resultado operacional "estamos a crescer 18%", sendo que "tudo indica que vamos conseguir manter este nível de crescimento". O mesmo em relação ao resultado líquido. Os forecasts feitos a cada três meses indiciam, segundo o responsável máximo da Glintt, que a empresa terá uma "performance muito boa". O certo é que, no primeiro semestre, a empresa faturou 56 milhões de euros. O que já permite ter uma ideia do possível valor para o final do ano.
"Queremos crescer 10% ao ano. O ano passado fizemos 100 milhões", afirma Luís Cocco, que refere que a empresa está muito forte e apresenta uma boa dinâmica, quer em Portugal, quer em Espanha. E insiste num pormenor não muito conhecido. "Somos tão fortes em Espanha como em Portugal", afirma, acrescentando que "somos o líder ibérico para soluções tecnológicas de saúde". Sendo que a dimensão do mercado espanhol, no caso específico da saúde, ultrapassa a proporcionalidade da dimensão. "Em Portugal há cerca de 3000 farmácias, Espanha tem 22 mil".
Em termos de futuro Luís Cocco é perentório: passa pela internacionalização. Pelo crescimento em mercados externos, nomeadamente, aproximadamente nos próximos três anos, por Espanha. Depois "teremos de pensar noutra geografia".