A experiência de jovens estudantes e futuros profissionais na área da Saúde assenta sobre uma interessante dicotomia. Por um lado, reflete a formação dos estudantes de Medicina, na qual está incorporado um crescente desejo de iniciação de utilização das ferramentas de informação desde muito cedo no nosso processo formativo (promovendo a discussão sobre o acesso ao registo clínico pelo estudante de Medicina). Por outro, representa o novo modelo de utente de saúde, acostumado a um mundo mais digital e com maior facilidade no acesso aos dados, com a subsequente necessidade de incorporarmos esse estilo de vida no que toca à nossa própria saúde..Assim, o indivíduo terá de ser o foco na evolução dos cuidados de saúde, estando no centro das decisões e sendo proprietário da sua informação e dos seus dados. Cada vez mais a evolução da telemedicina e a agregação e uso de dados devem ser discutidos, regulados, mas sobretudo potenciados..Se a pandemia que enfrentamos nos ensinou algo, é que os cidadãos, quando devidamente informados, são altamente capazes de serem gestores da sua saúde. Nos últimos dois anos, foi montada uma campanha de vacinação em que os utentes contribuíram ativamente e em massa para a sua concretização. Atualmente, podemos consultar à distância de um clique toda a informação que consta no Boletim de Vacinação, bem como os dados das nossas últimas consultas. A velha expressão dita que Informação é Poder, ora uma população informada é uma população mais saudável..Não obstante às lições do passado, também o futuro demonstra a evolução da gestão da informação, particularmente em solo europeu, com a criação e apresentação do Espaço Europeu de Dados. Estando ainda a dar os primeiros passos, é uma iniciativa que habilitará os europeus a controlar e utilizar os seus dados de saúde no seu país de origem ou noutros estados-membros, promovendo um verdadeiro mercado único de produtos e serviços de saúde digitais ou físicos..A congregação de milhões de dados de Saúde anonimizados de europeus permite que, ao invés da utilização de bases de dados de alguns milhares, seja possível conduzir estudos a nível europeu que se podem traduzir em verdadeiros progressos em matéria de Saúde Pública..A noção de um espaço de partilha de dados europeu requer necessariamente uma meticulosa reestruturação a nível nacional. Em Portugal, ainda não está assegurada a partilha de informação clínica entre prestadores de cuidados de saúde, continuando a existir restrições no acesso aos dados de saúde e problemas na literacia sobre os direitos dos utentes, incluindo entre profissionais de saúde..Subsistem obstáculos complexos que dificultam alcançar o pleno potencial da saúde digital e dos dados de saúde. Terão de ser ultrapassados constrangimentos relativamente à proteção de dados, a falta de articulação dos sistemas, lacunas formativas, entre outros, sendo necessário uma definição de uma arquitetura de sistemas de informação abrangente, comunicável e auditável, bem como a promoção de uma governação mais alargada e coerente..Assim, de forma a antecipar estas contrariedades, devem ser asseguradas ações a nível político. Como ponto central, terá de ser garantida a acessibilidade aos vários dados, não só dentro do SNS, como também incluir os setores privado e social, sendo prioritário garantir a transmissibilidade de informação entre os cuidados primários e hospitalares e também entre unidades hospitalares, já que nem sempre está assegurada. Acoplado a esta recomendação, vem a necessidade da atualização e evolução dos serviços eletrónicos, com a colaboração de clínicos e entidades como a ACSS e SPMS, permitindo a criação de um Registo Eletrónico Único que uniformiza a informação, tornando-a mais acessível e de fácil compreensão e integração, sem comprometer a eficácia da prestação de cuidados..A elaboração de legislação que regule a anonimização dos dados de saúde e os direitos dos cidadãos torna-se imperativa, sendo crucial assegurar a privacidade e a segurança digital dos cidadãos. Com a aprovação do Novo Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, ainda que as consequências práticas estejam a ser discutidas, é esperado que a saúde digital não seja esquecida e que haja uma monitorização e regulação efetiva sobre a infraestrutura tecnológica da Saúde que permita concretizar e solidificar todos os avanços relativos aos dados de saúde dos utentes..Por outro lado, centrar a saúde no cidadão implica uma promoção eficaz de literacia em Saúde. Portugal deve adiantar-se e formar os seus cidadãos para que possuam as ferramentas necessárias para gerirem a sua saúde e os seus dados, permitindo que sejam tomadas decisões informadas aquando da sua colocação à disposição da investigação, da elaboração de leis ou da decisão clínica - só assim poderemos garantir uma potencialização dos cuidados de saúde em Portugal..Numa Europa cada vez mais envelhecida, os desafios tecnológicos não podem ser ignorados. Mais do que regular e proteger dados, gerir informação em Saúde é promover a investigação e conhecimento, é dar acesso e controlo aos utentes e sobretudo, é centralizar a Saúde no cidadão, melhorando a eficácia na prestação de cuidados..António Pinho é presidente da 2ª edição do curso de Gestão em Saúde do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) Francisco Mourinho é ex-presidente da Associação de Estudantes do ICBAS