Geny Catamo, o Messi de Moçambique que ganhou a confiança de Amorim e dos adeptos

Luís Gonçalves lançou o extremo aos 18 anos na seleção moçambicana e sempre acreditou que ele iria afirmar-se ao mais alto nível no clube leonino. Nas últimas semanas marcou dois golos decisivos com duas boas exibições.
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Quando o nome de Geny Catamo surgiu nos eleitos do Sporting para realizar a última pré-temporada, muitos pensaram que seria apenas para "fazer número" até à chegada de alguns internacionais, que só iriam começar os trabalhos mais tarde. Mas foi deixando boas indicações, marcou um golo em cada um dos três primeiros particulares que disputou e depois fez ainda uma assistência para Paulinho diante do Villarreal, acabando por merecer a confiança de Rúben Amorim para integrar o plantel.

E a aposta no extremo canhoto de 22 anos, convertido a ala direito pelo técnico do Sporting, está ganha! Apesar de ser apenas o 14.º jogador em tempo de utilização no conjunto leonino, é um dos únicos três que esteve presente nos 13 jogos oficiais, juntamente com Gonçalo Inácio e Morita. É de Geny Catamo que falamos, o extremo canhoto de origem, convertido a ala direito pelo técnico do Sporting. Foi ele a inaugurar o marcador na importante vitória de anteontem no Bessa (2-0) e já tinha feito um golo e uma assistência no recente jogo da Taça com o Olivais e Moscavide, resgatando a equipa, que perdia ao intervalo diante da atrevida equipa dos distritais.

Geny chegou a Portugal para os juniores do Amora, em 2018, vindo da Academia Black Bulls, de Moçambique, depois de ter despontado no Maxaquene. Mas o seu destino poderia ter sido o FC Porto, como revelou ao jornal A Bola, em agosto, Junaide Lalgy, proprietário do Black Bulls e que foi investidor do Amora. Estávamos em janeiro de 2018 e o jovem aspirante a futebolista profissional tinha 17 anos.

O Sporting estava de olho em Geny e conseguiu assegurar o seu empréstimo junto do Amora, no início da temporada de 2019/20, mas só em setembro de 2020 assinou contrato profissional com os leões, já com 19 anos. Depois de ter representado os juniores, sub-23 e Sporting B, estreou-se pela equipa principal num jogo com o Portimonense, entrando em campo aos 60", a tempo de fazer a assistência para um dos três golos apontados por Paulinho. No entanto, acabou cedido ao V. Guimarães, onde esteve até ao final da época, tendo realizado dez jogos (com três assistências). Na temporada seguinte foi emprestado ao Marítimo, mas só fez 11 jogos (dos quais 5 como titular), com um golo e uma assistência.

Agora está-se a impor no Sporting e muito em breve vai renovar com os leões, com substancial aumento do salário, atualmente dos mais baixos do plantel, sendo intenção do clube aumentar o valor da cláusula de rescisão, para já situada nos €45 milhões.

Mas antes o Sporting ainda vai tentar comprar os 75% do passe do jogador que ainda estão na posse do Amora, numa operação que o clube leonino pretendia fechar nos 600 mil euros, mas o clube da Liga 3 alega que o prazo para exercer a opção de compra por esse valor terminou a 31 de julho último. Os dois clubes têm conversado nos últimos meses, mas o acordo ainda não foi alcançado, sendo que a Academia Black Bulls reclama 510 mil euros, por entender que ainda tem direitos sobre o jogador.

Presença constante na seleção moçambicana desde os 18 anos, Geny é atualmente uma das grandes figuras dos "mambas" e prepara-se para desfalcar o Sporting durante quase todo o mês de janeiro, eventualmente até meio de fevereiro, consoante a progressão da equipa na Taça de África das Nações (CAN).

Se há treinador que o conhece bem é Luís Gonçalves, o responsável pelo seu lançamento na seleção A moçambicana em setembro de 2019, aos 18 anos. "Foi num jogo decisivo com as Ilhas Maurícias, que valeu o apuramento para a fase de grupos da qualificação africana para o Mundial 2022. Fui muito criticado pela imprensa local, pois achavam que o Geny ainda não estava preparado! No entanto, ele fez uma boa exibição e ainda marcou um golo, de grande penalidade", recordou ao DN.

O atual técnico dos angolanos do Interclube confessa que ainda hoje troca mensagens com o seu ex-jogador, que qualifica como "um miúdo muito humilde e que quer sempre aprender". E não se mostra surpreendido com o sucesso no Sporting. "Nada, nada... aliás, nem o próprio Rúben Amorim deve estar surpreendido, pois por alguma razão o chamou a três pré-épocas do Sporting", sublinhou, defendendo que "algumas lesões que teve atrasaram o seu desenvolvimento".

Luís Gonçalves revela que quando apareceu na seleção principal, Geny Catamo era conhecido como o "Messi de Moçambique", alcunha que lhe foi dada por Mexer, curiosamente um antigo futebolista do Sporting. E quais são as grandes diferenças entre o jogador de 2019 e o atual? "Conheço-o desde os 15 anos, ele sempre foi muito rápido, tecnicista, explosivo e ótimo no um contra um. Ganhou experiência, capacidade atlética e está muito mais comprometido no processo defensivo, melhorou bastante na reação à perda. Ir para o Sporting foi o melhor que lhe podia ter acontecido e penso que os empréstimos ao V. Guimarães e Marítimo também o ajudaram muito", realçou.

O treinador acha que Geny Catamo ainda pode melhorar em alguns aspetos, "nomeadamente ser mais atrevido ao enfrentar os adversários, não ter receio de errar, mas tem tudo para continuar a evoluir positivamente". E, na sua opinião, a posição de ala direito é a que melhor se adequa às suas características, "permitindo-lhe fazer todo o flanco, à semelhança do que acontece no lado esquerdo com Nuno Santos". Realça, no entanto, que "ele na seleção moçambicana é utilizado numa posição mais central, atrás do ponta de lança, porque consegue ler muito bem o jogo".

Na opinião de Luís Gonçalves, o internacional moçambicano vai fazer falta à equipa do Sporting durante a Taça das Nações Africanas. "Aliás, o próprio Rúben Amorim falou nisso no final do jogo com o Boavista, quando disse que já está a ser trabalhada uma solução nos escalões de formação para colmatar a sua ausência...", atirou.

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