Gawker. O site de celebridades que foi uma "influência" para os media

Ao longo de quase 14 anos, o site fundado por Nick Denton noticiou alguns dos maiores escândalos de famosos, mas acabou por não resistir ao embate com Hulk Hogan. Declarou falência e deixou de ser "uma página em branco"
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Nome: Gawker. Nascimento: dezembro de 2002. Morte: agosto de 2016. O site de celebridades que introduziu "um novo estilo de jornalismo" e estabeleceu a ligação entre "uma geração cética" e uma outra "conhecedora dos media" despediu-se esta segunda-feira dos seus leitores após ter declarado falência.

O Gawker acabou por não resistir a uma série de processos que conduziram o site criado por Nick Denton à barra dos tribunais e, posteriormente, ao pagamento de avultadas indemnizações. Mas já lá vamos.
Numa nota redigida num tom que mescla emoção e sarcasmo, intitulada "O que foi o Gawker", o jornalista Hamilton Nolan descreveu o site como "uma página gigante e em branco, à espera de ser preenchida todos os dias". Foi o que aconteceu durante quase 14 anos.

Gawker, do verbo "to gawk", designa alguém que está boquiaberto, pasmado. O nome ideal para um site cujo foco eram os escândalos de celebridades. Ironicamente, acabou por ser essa a causa da sua morte, que começou a ser anunciada em maio, quando o The Wall Street Journal avançou que este site tinha contratado um especialista em investimentos para avaliar o futuro da empresa. Futuro esse que acabou por durar apenas mais três meses.

O historial das desavenças do Gawker com as estrelas é longo, mas a gota de água aconteceu com Hulk Hogan. Em março, o Tribunal de St. Petersburg, na Florida, determinou a vitória do ex-lutador de wrestling num processo interposto contra o site, que foi condenada ao pagamento de uma indemnização de 102 milhões de euros. Em causa estava a divulgação, em 2012, de parte de uma sex tape com o antigo lutador e Heather Cole, a então mulher do seu amigo e locutor de rádio Bubba the Love Sponge, de seu nome Todd Clem, como protagonistas.

Esta foi a gota de água para uma empresa que já se encontrava financeiramente fragilizada. Para perceber melhor a história é preciso recuar até 2007, ano em que o Gawker se cruza com Peter Thiel, multimilionário e cofundador do sistema de pagamento online Paypal. Ao ter publicado um artigo em que era referido que o empresário era "totalmente gay", este site acabava de ganhar um inimigo para a vida. E para a morte, já que Thiel fez de tudo para arruinar o Gawker, tendo financiado vários processos interpostos contra a empresa, entre os quais o de Hogan. E a verdade é que foi bem sucedido.

Ao The New York Times, o multimilionário (que é um dos investidores iniciais do Facebook) explicou aquilo que o moveu nesta batalha. "Vi o Gawker ser pioneiro numa forma única e destruidora de chamar a atenção das pessoas, fazendo bullying a indivíduos, mesmo quando não havia qualquer interesse público envolvido", e sublinhou: "Achei que valia a pena combatê-los".

Fundado em 2002 por um britânico formado na Universidade de Oxford, e que começou a sua carreira como jornalista do Financial Times, o grupo Gawker Media detém outros sites, tais como o feminino Jezebel, o desportivo Deadspin e ainda o Gizmodo, dedicado em conteúdos de informática e tecnologia. Todos eles foram comprados pelo grupo de media Univision, à exceção do Gawker.

Nick Denton, que curiosamente completou 50 anos esta quarta-feira, já fez saber que não vai transitar para a Univision e sim trabalhar em novos projetos "para tornar a internet num fórum para a troca aberta de ideias e informação, mas fora do negócio das notícias e das escândalos".

O encerramento do Gawker mereceu a atenção de vários meios de comunicação social. O The New York Times, por exemplo, escreveu sobre aquela que foi a "sua influência" no universo dos media, nomeadamente no "tom, estilo, sensibilidade e modelo de negócio", sendo as suas marcas visíveis em sites como o BuzzFeed ou o Vox.

Na ótica da revista The Rolling Stone, o Gawker foi o responsável por estilo que influenciou a escrita nos blogues, tendo tido também um forte "impacto" no jornalismo.

A existência do Gawker foi sempre marca pela polémica. Em 2006, por exemplo, foi criado o Gawker Stalker, que publicava em tempo real os locais onde as celebridades estavam. Dois anos depois, lançou uma verdadeira "bomba", ao ter publicado um alegado vídeo que mostrava o processo de recrutamento da Cientologia e no qual aparecia Tom Cruise. Outro dos casos que marcou a história do Gawker foi a divulgação de e-mails trocados por Sarah Palin em 2008, ano em que era candidata à vice-presidência dos EUA pelo partido Republicano.

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