Gastos com a Defesa no centro de cimeira da NATO com Trump

Líderes dos países europeus devem comprometer-se em aumentarem o valor do PIB nacional para a despesa militar.
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Uma cerimónia militar, que inclui o desfile de veículos de combate e o voo de caças, assinala hoje à tarde a inauguração da nova sede da NATO em Bruxelas onde, em seguida, irá decorrer a cimeira de chefes do Estado e do governo com a presença do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na agenda, além do combate ao terrorismo, um tema que o dirigente americano abordou repetidas vezes durante a campanha eleitoral de 2016 e que o levou até a considerar como "obsoleta" a Aliança Atlântica: a consagração de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) de cada país membro a despesa para as questões de Defesa.

Isto mesmo explicou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, num encontro com a imprensa ontem, ainda na antiga sede. Salientando a importância do "combate ao terrorismo" e "à defesa das nossas sociedades abertas", Stoltenberg dedicou metade da sua intervenção à "partilha do fardo", isto dos deveres financeiros. O que significa "o fim dos cortes" nas despesas no setor da Defesa e consagrar 2% do PIB a esta área no "espaço de uma década", como foi aprovado na cimeira de 2014 no País de Gales. E será este tema que estará no centro do jantar informal em que, numa intervenção de três minutos (regra comum a reuniões deste nível na NATO), cada um dos dirigentes políticos explicará como pretende concretizar aquela meta até 2024.

O secretário-geral adjunto da NATO, Camille Grand, explicava no início da semana que o rácio atual da partilha das despesas é de 70/30 e que o reforço da contribuição financeira europeia e canadiana poderia representar mais "cem mil milhões de dólares por ano". Uma verba relevante numa conjuntura em que se assiste "à degradação do ambiente de segurança" e ao "uso da força" pela Rússia na Ucrânia e na Geórgia, disse Grand.

Após a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, a percentagem da despesa no setor da Defesa caiu de forma significativa na grande maioria dos membros europeus da Aliança. Atualmente, só quatro países na Europa cumprem aquele objetivo: Reino Unido, Polónia, Estónia e Grécia.

A NATO terá ainda outro gesto significativo para com Trump, ao anunciar a integração formal enquanto organização na coligação internacional que combate o Estado Islâmico na Síria e no Iraque.

Antes de ser presidente, Trump declarara que a NATO era uma organização "obsoleta" por não combater o terrorismo e por não obrigar os Estados membros a cumprirem as respetivas obrigações, que além da questão dos 2%, abrangem a contribuição com efetivos e material para os diferentes tipos de operações em que a Aliança está envolvida. Como dizia ontem um alto quadro da NATO, citado no The New York Times, "o importante aqui é a mensagem política" e "deixar Trump feliz".

Antes do programa da NATO, Trump irá reunir-se com Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, e Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, a que se segue um almoço com o novo presidente francês, Emmanuel Macron. Ontem, ao final do dia ainda não era conhecido o local onde se realizaria, mas fontes da Casa Branca insistiam que seria "um almoço longo", procurando assim sublinhar a importância do encontro.

À chegada a Bruxelas, Trump e sua mulher, Melania, foram recebidos pelo rei Filipe, que estudou na Universidade de Standford, e pela rainha Matilde, seguindo-se uma reunião com o primeiro-ministro Charles Michel. Acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, no final, Michel declarou que o encontro "não teve tabus" e não se usou "linguagem diplomática", foi "muito direto". O chefe do governo belga mostrou-se convencido de ter obtido a adesão de Trump "a certos" dos pontos de vista que sustentou.

Encontro no Vaticano

Trump chegou a Bruxelas, onde decorreu uma manifestação contra esta visita, proveniente de Roma, onde manteve um encontro com o Papa Francisco. Este recebeu o presidente americano num pequeno gabinete, no Palácio Apostólico, que usa apenas para ocasiões oficiais, saudando-o de maneira formal. Trump apresentava um ar contido e declarou "ser uma grande honra" ao ser cumprimentado pelo Papa. Os dois estiveram reunidos a sós, com tradutores, durante meia-hora e a linguagem corporal e atitude de ambos era substancialmente mais descontraída do que no início. Francisco sorria e falava animadamente com Trump e Melania.

Trump, que criticou Francisco após este ter dito, sem o mencionar expressamente, que "não é cristão quem só pensa em construir muros, em vez de pontes", ofereceu-lhe cinco primeiras edições de livros de Martin Luther King, ativista dos direitos civis da população negra nos EUA. Por seu turno, o Papa ofereceu a Trump um exemplar da encíclica Laudato Si" centrada nas questões ambientais e um outro da mensagem divulgada na 50.ª Jornada Mundial da Paz, intitulada Não Violência: Um Estilo de Política Para a Paz. Trump comentou que iria ler estes textos. O Papa ofereceu ainda uma pequena escultura de uma oliveira, dizendo, em espanhol, "é meu desejo que se torne uma oliveira e assim construa a paz". Segundo a descrição da Reuters, Trump respondeu que "a paz é sempre útil".

À despedida do encontro, que não estaria inicialmente planeado na primeira versão do programa da viagem de Trump, este agradeceu ao Papa, garantindo que "não esquecerei o que me disse". Foi, todavia, notado que o encontro decorreu muito cedo e num dia de semana pouco comum para ocasiões como esta. Recorde-se que o presidente americano volta a Itália amanhã para a cimeira do G7, na Sicília, e para um encontro com militares americanos.

No balanço do Vaticano, o encontro decorreu de forma "cordial" e o Papa espera uma "colaboração serena" entre o governo dos EUA e a igreja católica neste país.

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