Em conferência de imprensa Ruiz-Gallardón clarificou que apresentou a demissão na semana passada porque não considera ser capaz de liderar a implementação das propostas de alteração que hoje o presidente do Governo anunciou hoje.."Não sou a pessoa para poder levar adiante, com convicção, a nova forma de regulação do aborto que foi anunciada pelo presidente do Governo", disse aos jornalistas.."Mais que desautorizado, o que sinto é que não fui capaz de cumprir a tarefa. Foi-me dada uma tarefa, pelo Governo, e eu não fui capaz de o cumprir. Não sou dos que procura desviar responsabilidade. A responsabilidade deste projeto é minha e quem tem que se demitir por não o ter conseguido sou eu", afirmou..Gallardon explicou aos jornalistas que a sua demissão só avançou hoje porque estava à espera de ver qual seriam os passos dados pelo Governo regional catalão relativamente à consulta soberanista de 9 de novembro, e sobre os passos de recurso que o executivo central vai levar ao Tribunal Constitucional..A decisão é anunciada depois de Mariano Rajoy ter confirmado hoje, além da retirada da polémica reforma da lei do aborto, que o Governo vai apenas avançar com uma alteração à lei em vigor para que se exija que as menores tenham autorização dos pais antes de interromper voluntariamente a gravidez..O presidente do Governo disse ainda que em paralelo o executivo vai preparar "um plano de proteção da família" que estará concluído antes do final do ano..Gallardón explicou que além de se demitir como ministro que decidiu também abandonar a política, pelo que renunciará ao seu mandato no Congresso de Deputados e a todos os cargos de responsabilidade no Partido Popular (PP).."A decisão que hoje adoto não é apenas uma decisão de abandonar o Ministério da Justiça. Deixo também depois de 30 anos, a política. Além da demissão que apresentei ao presidente do Governo, apresentarei ao presidente do Congresso de Deputados, a renúncia ao mandato", disse.."Sempre disse que este seria o meu último posto político. Devo muito à política. O meu abandono da política não me afastará da militância do partido, mas leva-me também a abandonar as minhas responsabilidades dentro do partido", disse..Aos jornalistas Gallardon agradeceu "a confiança" depositada por Rajoy, quando o nomeou há três anos para uma "tarefa verdadeiramente apaixonante", que assumiu renunciando ao cargo de alcaide (presidente da câmara) de Madrid..Gallardon agradeceu ainda aos seus colegas no executivo, ao partido e ao grupo parlamentar, especialmente durante o que diz terem sido "circunstâncias muito difíceis, em debates dialeticamente muito difíceis"..Pediu ainda desculpa aos seus adversários políticos que possam ter-se sentido "molestados ou injustamente tratados", afirmando que nunca pretendeu fazer qualquer ataque pessoal, mantendo-se sempre no espaço do "debate político"..Gallardón recordou que tem agora "alguns anos" de incompatibilidade, em que não pode exercer a sua profissão, de advogado, insistindo que não assumirá "qualquer posto de responsabilidade política.."Ainda não sei o que vou fazer. Mas a minha carreira política dou-a por esgotada", disse..A reforma da lei do aborto, fortemente contestada dentro e fora de Espanha e até dentro do executivo e do Partido Popular (PP), tinha sido um dos cavalos de batalha de Gallardón, e uma promessa eleitoral do PP..Gallardón era no passado - quando era alcaide de Madrid - considerado um dos membros da ala progressista do PP tendo sido, nos últimos anos, acusado de se movimentar politicamente cada vez mais à direita, inclusive dentro do próprio PP..O polémico ministro chegou, no passado, a ser sugerido como um possível candidato à liderança do PP.