A reunião de dois dias dos países mais ricos do mundo (19 nações, às quais se soma a União Europeia) acontece quando o grupo é alvo de críticas pela resposta à recessão mundial e o país anfitrião recebe acusações de abusos dos direitos humanos..Enquanto os familiares de ativistas presos pediram aos líderes mundiais para boicotarem a reunião e a libertação dos presos políticos, a Amnistia Internacional apelou para os outros líderes pressionarem os dirigentes sauditas quanto à "vergonhosa hipocrisia" em relação aos direitos das mulheres..O grupo literário PEN America, que defende a livre expressão, convocou uma 'contra-cimeira' na esperança de lançar luz sobre os direitos humanos do reino ultraconservador. O fórum online relembra o assassínio, em 2018, do colaborador do Washington Post Jamal Khashoggi, estrangulado e desmembrado dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul.."Todos os nossos familiares estão em perigo. Enfrentam a ameaça de Jamal Khashoggi recebeu diariamente", disse Areej al-Sadhan, segundo o qual o seu irmão, Abdulrahman al-Sadhan, foi preso pela polícia secreta saudita em março de 2018..O presidente cessante dos EUA, Donald Trump, foi um forte aliado da Arábia Saudita, quer na promoção de vendas de armas dos EUA, quer no apoio à hostilidade para com o Irão. Trump disse que "salvou a pele" do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman após uma resolução do Senado dos EUA, que se seguiu a um relatório da CIA, ter declarado o jovem monarca responsável pela morte de Khashoggi..O senador democrata Chris Murphy, disse na contra-cimeira que espera do presidente eleito Joe Biden uma nova abordagem em relação à Arábia Saudita, quer na questão dos direitos humanos quer no apoio aos movimentos extremistas globais. "Já é tempo de reconhecermos que a Arábia Saudita é um aliado profundamente imperfeito e que as nossas prioridades nesta relação têm sido há muito distorcidas de uma forma que, segundo creio, não é vantajosa para os Estados Unidos a longo prazo", disse Murphy..Dezenas de congressistas democratas tinham exortado a administração Trump a boicotar o G20, numa pressão para que a Arábia Saudita se reforme. No entanto, Trump não só participa na cimeira virtual, como o secretário de Estado Mike Pompeo vai visitar o reino horas depois do encontro..Safa al-Ahmad, diretora interina do grupo de direitos sauditas ALQST, disse que os sinais de abertura do reino, tais como convidar músicos ocidentais, têm sido inteiramente orientados para melhorar a imagem pública no estrangeiro sem reformas internas. "Há um limite para a hipocrisia e para a manipulação do governo saudita. A realidade é muito, muito diferente do que o governo continua a afirmar".. Desta vez, não haverá uma grande cerimónia de abertura, nem a oportunidade de chegar a acordos bilaterais. A cimeira estará limitada a curtas sessões online, o que alguns já chamam de "diplomacia digital"..A pandemia de covid-19 será o assunto principal deste G20, presidido pelo rei Salman. Na agenda, estarão a discussão sobre distribuição das vacinas após os últimos ensaios clínicos promissores e a resposta aos pedidos para que o G20 reforce o combate ao vírus, que infectou mais de 58 milhões de pessoas e matou mais de 1,3 milhões em todo o mundo, através do financiamento da Organização Mundial da Saúde (OMS)..Na sexta-feira, vários líderes pediram aos países do G20 que ajudem a OMS em 4,5 mil milhões de dólares no fundo para distribuir vacinas contra o coronavírus, entre outras iniciativas.."Os recentes avanços nas vacinas contra a covid-19 oferecem esperança", mas devem "chegar para todos", disse o secretário-geral da ONU António Guterres..Os países do G20 já gastaram 17,7 mil milhões de euros para combater o coronavírus. Também mobilizaram cerca de 11 biliões de dólares para salvar a economia mundial, segundo os organizadores.."Os nossos povos e economias ainda estão a sofrer este impacto. No entanto, faremos todo o possível para superar essa crise através da cooperação internacional", disse o rei Salman no discurso de abertura, sob o olhar do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, líder de facto do país..Na abertura por videoconferência foram vistas imagens incomuns, como o presidente chinês Xi Jinping a pedir ajuda de um técnico ou a do presidente francês a rir-se e a falar com alguém atrás da câmara..Vários líderes mundiais, como a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente chinês Xi Jinping e o homólogo russo Vladimir Putin devem discursar..Antes da cimeira, vários líderes enviaram mensagens a pedir uma melhor coordenação mundial contra a pandemia.."Desde o início exaltamos que era preciso cuidar da saúde e da economia simultaneamente. O tempo vem provando que estávamos certos", declarou o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, numa mensagem de vídeo publicada pelo G20..Por sua vez, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson disse que os "avanços animadores sobre as vacinas nas últimas semanas podem indicar um caminho para sair da escuridão"..Os membros do G20 também devem abordar a dívida dos países mais pobres, que enfrentam o colapso de seu financiamento externo..Na semana passada, os ministros das Finanças do grupo acordaram um "marco comum" para aliviar o fardo da dívida, no qual participam pela primeira vez a China e os credores privados..Mas as ONG e Guterres acreditam que não é suficiente e pediram "um alívio maior da dívida". O secretário-geral também quer que a suspensão seja estendida até o final de 2021..Neste sentido, o ministro da Economia argentino, Martín Guzmán, pediu na sexta-feira durante uma reunião virtual de ministros das Finanças do G20 um "apoio" aos membros na negociação da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI)..Guzmán agradeceu "a todos os países do G20 por terem apoiado o processo de reestruturação" e destacou que "o próximo passo para resolver a crise macro e de dívida é o programa com o FMI", em declarações citadas num comunicado do governo.