Primeiras consultas para deixar de fumar caíram para metade com a pandemia

Em 2020, foram atendidos 6129 utentes (primeiras consultas), uma redução de 51,7% relativamente a 2019. Algumas consultas só mantiveram o acompanhamento de utentes já inscritos.
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As primeiras consultas para deixar de fumar caíram para metade em 2020 e o número de locais de consulta baixou 35%, um retrocesso que o último relatório do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo atribui à pandemia

Segundo o documento, devido à pandemia de covid-19, o ano de 2020 ficou marcado por "um significativo retrocesso" no âmbito do Programa de Apoio Intensivo à Cessação Tabágica, com uma diminuição do número de locais de consulta, das primeiras consultas, do total de consultas realizadas (-39,2%).

O último relatório do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo (PNPCT), da Direção-Geral da Saúde (DGS), indica que em 2020 estiveram a funcionar 152 locais de consulta de apoio intensivo à cessação tabágica, uma redução de 35,3% e que a quebra foi mais acentuada nos agrupamentos de centros de saúde do que a nível hospitalar.

De acordo com os dados fornecidos pelas administrações regionais de saúde, em 2020 foram atendidos 6129 utentes (primeiras consultas), uma redução de 51,7% relativamente a 2019. Algumas consultas só mantiveram o acompanhamento de utentes já inscritos, não aceitando utentes de primeira vez.

No que se refere às consultas de apoio intensivo à cessação tabágica, em 2020 foram realizadas 25 486 nos agrupamentos de centros de saúde e em serviços hospitalares.

Nos 152 locais de consulta que se mantiveram a funcionar em 2020, o atendimento foi realizado de modo presencial em 62,8% dos casos. As restantes foram realizadas por meios à distância, como videoconferência ou telefone, por imposição da pandemia.

A DGS, que ainda não tem dados relativos ao ano passado, reconhece um "significativo retrocesso" no âmbito do Programa de Apoio Intensivo à Cessação Tabágica por causa da pandemia, que reduziu tanto a procura de ajuda na cessação tabágica como a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde, em particular nos centros de saúde "devido à mobilização dos profissionais destas consultas para a resposta à pandemia".

Segundo o relatório, a dispensa nas farmácias de embalagens do medicamento comparticipado pelo SNS usado nestas situações (vareniclina) caiu 29,1% e aumentou a dispensa de embalagens de medicamentos de substituição de nicotina (+2,6%).

O documento sublinha ainda que, em 2020, pouco mais de metade (55,8%) dos utentes com 15 ou mais anos tinham registo no sistema SClínico a nível dos cuidados de saúde primários (CSP) quanto à sua condição perante o consumo de tabaco.

De acordo com as últimas estimativas elaboradas pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), em 2019 morreram em Portugal mais de 13 500 pessoas por doenças atribuíveis ao tabaco.

Nesse ano, estima-se que o tabaco tenha contribuído para 32,6% dos óbitos por doença respiratória crónica, 19,1% por cancro, 8,5% por doenças cérebro-cardiovasculares, 9,8% por diabetes mellitus tipo 2 e 14,0% por infeções respiratórias do trato inferior.

A Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) lançou uma campanha para incentivar os portugueses a deixarem de fumar, para diminuir a prevalência e a gravidade das doenças ligadas ao tabaco, e nos primeiros 100 contactos vai oferecer apoio médico.

Aproveitando as resoluções de ano novo, a campanha "Deixe de Fumar e Respire de Alívio" pretende mostrar as alternativas e metodologias para a desabituação tabágica, lembrando que o tabaco é a principal causa de várias doenças, entre elas o cancro do pulmão, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) e as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares.

"Todos os dias atuamos para ajudar os portugueses a tomarem decisões positivas em prol da sua saúde respiratória e esta campanha visa precisamente alertar e consciencializar para os seus malefícios. Aproveitando o início do ano, marcado por muitas resoluções, queremos incentivar os portugueses a escolher a sua saúde respiratória e pulmonar", afirmou o presidente da FPP, José Alves.

O responsável sublinha que para diminuir a prevalência e a gravidade das doenças ligadas ao tabaco é preciso apostar no diagnóstico precoce e impedir a doença diminuindo a carga tabágica e, para isso, "é preciso convencer as pessoas deixarem de fumar".

"Alertando-as, promovendo a decisão de deixar de fumar, porque quem deixa de fumar não deixa de um dia para o outro -- deixar de fumar é muito difícil. (...) E a quem não consegue deixar de fumar, temos de dizer para fumarem cada vez menos", disse o presidente da FPP, acrescentando: "esta campanha encara exatamente isso: as várias maneiras de deixar de fumar".

Para os casos mais graves em que é preciso apoio médico, a FPP, através da sua plataforma, vai oferecer ajuda nos primeiros 100 contactos.

Além da consulta/apoio médico, a FPP vai disponibilizar também a realização de espirometria (exame para diagnosticar a DPOC), assim como pretende avançar com a reabilitação respiratória domiciliária.

"Há 2% dos doentes com DPOC a fazer reabilitação respiratória. E, no entanto, é tão importante quanto a terapêutica médica", explicou José Alves, sublinhando que a plataforma permite ir a casa do doente.

O responsável sublinha que a DPOC é uma doença muito subdiagnosticada e estima que em Portugal haja entre 600.000 a 800.000 pessoas com DPOC, mas apenas 130.000 estão identificados nos centros de saúde. Destes, "nem metade tem espirometria feita".

Segundo a fundação, a diminuição da prevalência do hábito tabágico tem como resultado individual uma maior qualidade e esperança de vida e, a nível coletivo, implica uma "diminuição importante" nos óbitos (a cada 50 minutos morre uma pessoa em Portugal por doenças atribuíveis ao tabaco) e nos internamentos.

A FPP defende ainda que a legislação deve impor regras mais apertadas e eficientes na lei antitabaco, bem como aumentar significativamente o preço do tabaco.

"São dois pontos fundamentais, porém, a ajuda clínica é complementar e a nossa obrigação, enquanto sociedade civil, é promover a decisão de parar de fumar", considerou José Alves.

O último relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR), apresentado no passado mês de dezembro, indicava que, em 2019, as doenças respiratórias terão representado uma perda económica de 3,5 mil milhões de euros.

Mais de metade desta perda estará associada ao valor dos anos de vida perdidos devido à mortalidade prematura e à perda da qualidade de vida destes doentes.

O documento lembra ainda que as doenças respiratórias são "uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em Portugal".

Em 2018 - último ano em que existem dados -- as doenças respiratórias foram responsáveis por 13 305 óbitos, o que representa uma média de 36 mortes/dia. A pneumonia foi responsável por 5799 mortes (16/dia), o cancro do pulmão por 4321 e a DPOC por 2.842 óbitos.

Notícia atualizada às 10:47

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