Os trabalhadores do Estado vão exigir ao Governo aumentos salariais para 2023 em linha com a inflação esperada para este ano ou até numa percentagem superior. Segundo as previsões da Comissão Europeia, a variação do índice de preços deverá fixar-se, em 2022, em 6,8%. Se o executivo recusar, espera-se um outono e inverno quentes com greves e protestos na rua, anteveem ao DN/Dinheiro Vivo as três estruturas sindicais representativas dos funcionários públicos - Fesap, Frente Comum e STE..A partir do próximo mês, as federações sindicais vão entregar o caderno reivindicativo para o Orçamento do Estado (OE) de 2023. O ministério da Presidência, que tutela a Administração Pública, tem atuado com prudência e, este ano, já afirmou que a atualização salarial poderá não acompanhar a inflação. Não serão fáceis as negociações entre sindicatos e um executivo socialista de maioria absoluta. A subida do próximo ano "terá em conta os valores da inflação, mas também a avaliação que for feita da natureza dessa inflação nesse momento, do sucesso das medidas que o governo tomar para conter os preços e da situação do país", afirmou, em abril, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva..Depois de verem os ordenados subir apenas 0,9% este ano, abaixo da inflação de 2021, os funcionários públicos não vão admitir o mesmo cenário, sobretudo tendo em conta a crise inflacionista que o país atravessa. A Fesap, afeta à UGT, "vai propor aumentos nunca inferiores à inflação para que haja um aumento concreto e real dos ordenados dos trabalhadores". Contudo, admite recuar nesta reivindicação caso o governo adote um conjunto de outras medidas que, "pelo seu efeito conjugado, se equipare a uma subida da massa salarial em linha com a inflação. E dá exemplos: "Correção das injustiças nas carreiras especiais, de modo que também os enfermeiros e técnicos de diagnóstico e terapêutica, na segunda posição remuneratória, beneficiem do mesmo aumento extraordinário de 52 euros que foi concedido aos técnicos superiores; reposição dos pontos que foram cortados aos assistentes técnicos e operacionais que mudaram de posição por via do aumento do salário mínimo; e revisão do sistema de avaliação (SIADAP)" para agilizar as progressões..Abraão deixa ainda um aviso ao ministro das Finanças, Fernando Medina: "Espero que o próximo Orçamento do Estado não venha na senda das cativações e se criem condições para recuperar o poder de compra dos funcionários públicos". Ora, uma circular interna da direção-geral do Orçamento do Estado com as instruções para o OE de 2023 aponta para cativações de 2,5% em todos os orçamentos dos serviços do Estado com exceção do Serviço Nacional de Saúde, ensino superior e despesas financiadas através de fundos europeus..O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) vai mais longe do que a Fesap e revela que "vai exigir aumentos salariais acima da inflação estimada para o conjunto do ano a 30 de novembro", porque "só assim haverá ganhos reais para os trabalhadores que têm tido perdas acumuladas nos últimos anos", adianta a presidente deste sindicato, Helena Rodrigues. E atira: "Não podemos continuar num país do faz de conta que cresce e que está na Europa". A proposta reivindicativo do STE deverá ser entregue ao governo até ao final deste mês..A Federação dos Sindicatos da Função Pública (Frente Comum), que se tem batido nos últimos anos por um aumento de 90 euros para todos os trabalhadores e uma subida do salário mínimo no Estado para 850 euros - atualmente está nos 705 euros - , admite subir a parada. "Está a ser avaliada uma proposta de aumento superior a 90 euros para todos os trabalhadores do Estado", revela o secretário-geral da Frente Comum, Sebastião Santana. "Nos últimos 15 anos, a Função Pública perdeu mais de 15% do poder de compra", sublinha. O caderno reivindicativo desta estrutura sindical, afeta à CGTP, será aprovado em meados de setembro e depois enviado ao governo..jornalista do Dinheiro Vivo