Frederico Varandas, o médico militar apaixonado em resgate do Sporting

Com o avô começou a percorrer o universo de Alvalade e a ir ver os treinos das mais diversas modalidades. Em 2011 tornou-se médico do clube. Saiu após os acontecimentos de Alcochete e anunciou logo que ia ser candidato. Na madrugada deste domingo foi eleito presidente
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Médico militar, capitão do Exército, Frederico Varandas, 38 anos, levou o Sporting consigo para a guerra quando, em 2008, esteve destacado no Afeganistão, não abdicando de ouvir o relato da final da Taça de Portugal frente ao FC Porto mesmo sob alerta de ataque inimigo em Kandahar. Dez anos depois, o médico voltou à primeira linha da frente de batalha, com a missão de resgatar o próprio Sporting. Venceu as eleições e foi eleito o 43.º presidente da história do clube leonino.

Diretor clínico dos leões desde a presidência de Godinho Lopes, em meados de 2011, Frederico Varandas viveu por dentro a agitada era de Bruno de Carvalho no clube e foi dele que se ouviu o grito de revolta interno que ajudou a desmoronar o exercício "autocrático e sectário", como ele definiu o anterior presidente no momento em que apresentou a sua demissão, nos dias seguintes à "pior semana" da vida do Sporting - a da sucessão de acontecimentos que incluiu a agressão aos jogadores na Academia de Alcochete e a final da Taça perdida no Jamor frente ao Desportivo das Aves.

"No final da época, foram 15 dias surreais e resolvi assumir responsabilidades pelas pessoas que amam o Sporting como eu. O meu avô, se fosse vivo, estaria numa depressão terrível ao ver o que se passou naqueles dias...", recordou o médico em entrevista recente ao DN. Mesmo contra a vontade dos mais próximos (pais, amigos...), Frederico Varandas assumiu-se aí, desde logo, como uma solução alternativa para liderar o Sporting. E assim que abriu o período de apresentação de listas foi o primeiro candidato a fazê-lo. Aos 38 anos, garante estar pronto para liderar. E para unir o Sporting (o seu lema de candidatura, de resto), clube de que é o sócio desde que o avô, precisamente, o inscreveu, em 1980, tinha Frederico apenas 1 ano - é atualmente o sócio 8808.

Com o avô começou a percorrer o universo de Alvalade e a ir ver os treinos das mais diversas modalidades. Entrou para a ginástica do clube aos 3 anos, na adolescência fez parte da Juventude Leonina e sempre viveu intensamente a sua relação com o Sporting. " Eu não consigo separar o Sporting da minha vida. Desde pequenino que sofro de uma forma estúpida", disse na mesma entrevista ao DN, durante o período de campanha.

A profunda cultura do clube fez que ficasse como mestre dos quizzes internos que o plantel e a equipa técnica organizavam nos estágios, só com um rival à altura: o roupeiro Paulinho. De resto, assume uma paixão viciante por tudo o que é desporto, que já o levou a ficar em casa dias inteiros a ver tudo o que mexe, do futebol à NBA, do râguebi à Fórmula 1 ou ao surf, que pratica.

A formação em Medicina começou pela via militar, ingressando em 1998 no 1.º curso de Medicina da Academia Militar. Em 2005 concluiu a licenciatura em Medicina na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e a formação complementar em Saúde Militar pela Academia Militar. Em 2007 termina a pós-graduação em Medicina Desportiva.

Foi nesse ano que entrou profissionalmente no mundo do futebol, para o departamento clínico do Vitória de Setúbal, assumindo o cargo de diretor clínico em 2009. Em 2011, com o irmão Pedro Varandas como vogal da direção de Godinho Lopes no Sporting, mudou-se para o clube da sua vida. Entrou em Alvalade em julho de 2011, para ser o médico da equipa dos juniores leoninos, mas logo um mês depois rende Gomes Pereira à frente do departamento médico do Sporting.

Em 2015, Leonardo Jardim quis levá-lo para o Mónaco, mas o amor ao Sporting falou mais alto. Tal como voltou a falar mais alto quando decidiu ser a hora de romper com Bruno de Carvalho e sair em resgate da honra que sempre valorizou no clube.

Condecorado com a Medalha D. Afonso Henriques pela missão como médico oficial da Força Nacional Destacada no Afeganistão, e capitão do Exército português desde 2009, Frederico Varandas valoriza os ensinamentos da carreira militar. Como os conceitos de organização e cadeia de comando, que quer aplicar a partir de agora na presidência do Sporting.

Como contou num post colocado no Instagram, faltou pela primeira vez a uma final da Taça de Portugal jogada pelo Sporting em 2008, diante do FC Porto (ganha pelos leões) porque se encontrava numa missão em Kandahar, no Afeganistão.

"Estávamos em Kandahar, no meio do deserto, só com os talibãs e perguntei se conseguíamos apanhar o relato. Nesse dia estávamos em alerta máximo porque os serviços secretos afegãos avisaram-nos de um possível ataque que poderíamos sofrer. Evacuámos toda a gente e só ficaram os necessários para combate, nos quais se incluíam o médico e o enfermeiro. Saímos das tendas porque poderiam ser atacadas e ficámos num sítio, refugiados, quietos e em silêncio obrigatório. Sem luzes, sem nada. Fui à mochila, com o jogo quase a começar, agarrei no rádio e passados uns minutos estávamos a ouvir a Antena 1. Dos 130 homens, metade estava ali junto a mim a ouvir o relato. Costumo dizer que, pela primeira vez, afegãos e talibãs ouviram o rugido do leão. Nunca esquecerei esse dia".

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