A estrela Joséphine Baker, figura da resistência contra a ocupação nazi e da luta antirracista, tornou-se a primeira mulher negra a entrar no Panteão de França esta terça-feira (30 de novembro), numa cerimónia "memorável", 46 anos após sua morte.."Esta manhã é de alegria e emoção. Amanhã será memorável", disse ontem (29) o seu filho Brian Bouillon-Baker à rádio France Inter, destacando que a sua mãe, nascida nos Estados Unidos e nacionalizada francesa, é um exemplo da "fraternidade universal"..O dia começou com a mudança de nome da estação de metro de Paris "Gaîté" (alegria), que a partir de agora acrescenta as palavras "Joséphine Baker". "É um orgulho", disse Luis Bouillon-Baker, outro dos seus filhos..A "Vênus de Ébano" nasceu a 3 de junho de 1906 em Saint Louis (Estados Unidos) como Freda Josephine McDonald e, apesar de ter crescido na pobreza e na segregação e ter casado duas vezes aos 15 anos, conseguiu assumir as rédeas de uma vida excepcional..Baker, que ascendeu ao estrelato em França durante os "Anos Loucos", aproveitou a fama para trabalhar como agente de contraespionagem para o general Charles De Gaulle durante a ocupação nazi..E, após a Segunda Guerra Mundial, Baker juntou-se à luta contra o racismo, sendo a única mulher a fazer um discurso com Martin Luther King a 28 de agosto de 1963, durante uma marcha pelos direitos civis em Washington..A cerimónia, no templo localizado no coração do Quartier Latin de Paris, recordou múltiplos aspetos de sua "incrível vida", toda ela orientada para "a busca pela liberdade e justiça", segundo o Presidente francês.."A França tornou-me o que sou e por isso serei eternamente grata. Pode dispor de mim como quiser", disse a artista ao oferecer os seus serviços no outono de 1939 a um oficial de contraespionagem..Joséphine Baker, que recebeu a Legião de Honra francesa e a Cruz de Guerra em vida, será a sexta mulher a tornar-se "imortal", como a física Marie Curie em 1995 e a arquiteta da lei do aborto em França, Simone Veil em 2018. Apenas uma, Sophie Berthelot, não entrou através de seus próprios méritos, mas para acompanhar o seu marido. ."Aqui estou eu de novo, Paris. Não nos vemos há muito tempo". Com estas palavras começa a canção "Me revoilà Paris", que marcou o início da cerimónia perante centenas de pessoas, 46 anos após a sua morte..Como manda a tradição, os militares irão transportar o seu caixão, que não conterá, no entanto, seus restos mortais, mas sim as terras de Saint Louis, de Paris, do castelo de Milandes e do Mônaco, onde viveu os seus últimos dias e onde o seu corpo continuará a descansar.."Existem seres que nunca se apagam", disse na segunda-feira (29) Albert II durante uma homenagem no Principado antes de sua 'panteonização'. O soberano retomou as palavras de sua mãe, Grace Kelly, que era amiga íntima de Joséphine Baker..A cerimônia em Paris também contou com a projeção de imagens e a interpretação de sua famosa canção "J'ai deux amours", antes do discurso do presidente Emmanuel Macron após a passagem simbólica da ícone negra sob a inscrição "Aos grandes homens".