Filmes fotográficos, máquinas descartáveis e câmeras analógicas. Há muito tempo que estes termos estavam "enterrados" e os objetos escondidos por entre as antiguidades das famílias, mas tal como o vinil, voltaram agora à vida pelas mãos das gerações mais jovens, que vêm na fotografia analógica um passatempo que relembra as memórias de uma época na qual o digital ainda não existia..O fascínio por esta estética vintage começou nos filtros retro, que reproduzem o efeito de filme, passou pelas máquinas fotográficas instantâneas - as conhecidas polaroids - e cai agora sobre as "máquinas a rolo", que são uma moda que promete ficar entre as novas gerações..Com o aumento da procura, encontrar um rolo à venda nos dias de hoje já é uma "caça ao tesouro", uma vez que as casas de fotografia têm registado uma rutura de stock de rolos de filme e máquinas descartáveis. E também os preços "dispararam"..José Pinto é fotógrafo há 39 anos e tem o seu próprio estabelecimento há cerca de oito anos. Desde o último ano testemunha que a procura por rolos de fotografia aumentou intensivamente o volume de trabalho na loja "Cantinho das Fotos", que voltou a dedicar-se, entre outras coisas, à venda de material analógico. "Já não se consegue arranjar rolos com facilidade, e os que se conseguem são normalmente vendidos a um preço caro", diz ao DN. "Um rolo que eu hoje vendo por 19 euros, o ano passado custava metade do preço", continua..A verdade é que "há muita procura para compra e pouca oferta para venda" tanto de rolos fotográficos como de máquinas analógicas. Logo, os preços duplicaram, e em muitos estabelecimentos triplicaram..Além de uma trend, a fotografia analógica é agora também um passatempo dos jovens, que trocaram as câmeras e os smartphones pelos rolos. Mas, porquê?.Para Catarina Costa, de 22 anos, a resposta é muito simples: tudo se resume a uma questão de nostalgia e de "voltar às origens".."A minha geração cresceu ainda com as lembranças dos álbuns de fotografia muito presente. E todo este assunto da fotografia analógica remete-nos para a infância e para as memórias que guardamos da nossa família", explica..Para Catarina, este fenómeno não foi uma descoberta. Utilizar rolos e máquinas descartáveis é algo que "esteve sempre presente" na sua vida. "Inicialmente comecei por utilizar uma máquina descartável porque era mais fácil. Mas entretanto passei a utilizar uma câmera antiga que me foi dada pelos meus avós", afirma..Influenciada pelas suas memórias de criança, lembrando-se de ver a família a utilizar frequentemente câmeras analógicas, Catarina aprendeu a fotografar com a ajuda dos pais, mas a sua curiosidade pelas imagens vintage levou-a a querer saber mais e a pesquisar por formas de melhorar as suas fotografias..Porém, também Catarina assegura que há uma dificuldade em conseguir encontrar rolos: "Como tem ficado mais popularizado, agora é muito mais caro e mais difícil conseguir encontrar os materiais para fotografar. O preço está muito elevado em lojas, então agora tento recorrer a sites online que vendem a um preço mais acessível"..Apesar deste entrave, Catarina Costa tem "sempre uma câmera dentro da mochila" e garante querer continuar com este passatempo durante muito tempo, estando já a frequentar um curso de audiovisuais.."Numa altura em que vivemos tão apaixonados por tudo o que é imediato e a publicar nas redes sociais, ter algo que não é instantâneo pode ser interessante para os jovens. Encanta a ideia de não saber imediatamente o resultado da fotografia". Reinaldo Rodrigues, repórter fotográfico da Global Imagens, confessa que esta paixão dos mais novos é um sinal positivo, num mundo tão habituado ao digital..Para Reinaldo, o "regresso" da fotografia analógica "é como voltar à ideia da fotografia não como um bem imediato, mas como algo prazeroso e para consumir com tempo". Este fator, aliado à experimentação e ao romantismo dos jovens, é a "magia" que faz "todo o sentido" a esta união.."Há um lado romântico, que é muito próprio dos jovens, e a ideia de não ver logo a imagem pode ser apelativa. Em analógico, é necessário fotografar com calma, o que permite ter um olhar mais sereno e distanciado sobre o que queremos captar", esclarece..Segundo o fotojornalista, "de repente, tornou-se comum andar com uma máquina que tem mais de 30 anos", o que "exige que as pessoas escolham bem o que querem fotografar" visto que os rolos geralmente só têm 36 fotografias e não há muita oferta disponível..Quanto à procura para venda de rolos e máquinas, Reinaldo Rodrigues admite que as dificuldades sentidas acontecem dado que houve "um grande desaparecimento das lojas de fotografia" ao longo dos anos, Além disso, "a produção dos materiais já não é tão massificada", o que coloca um entrave na oferta..No entanto, para estes "apaixonados" há sempre uma solução. Neste caso, as relíquias da família, feiras de antiguidades e lojas de artigos em segunda mão tornaram-se o ponto de partida para quem pretende ter uma câmera antiga pronta a utilizar. E não só, também algumas marcas, entre elas a Kodak, já voltaram a produzir e a fazer lançamentos de máquinas analógicas..Apesar de ser um passatempo bastante dispendioso hoje em dia, os jovens prometem não dar descanso aos laboratórios de fotografia nos próximos tempos, que cada vez mais terão rolos prontos a revelar. E o que se segue? De acordo com a jovem Catarina, também já as câmeras de vídeo antigas estão a reaparecer, mas só o futuro o dirá..ines.dias@dn.pt