Start your engines. A 70.ª edição do Mundial de Fórmula 1 está na grelha de partida, pronta a arrancar, este fim de semana, com o Grande Prémio da Austrália. Da pole-position, ainda não se sabe muito bem quem parte, embora apostar contra o carro que ganhou os últimos cinco títulos em disputa e contra o piloto que foi campeão em quatro desses cinco anos pareça uma manobra bastante arriscada..Por isso, Lewis Hamilton e a Mercedes continuam a ser os nomes a bater, num ano em que a Ferrari volta a renovar a esperança de que desta é que é o regresso aos títulos que lhe fogem desde que Kimi Raikkonen ganhou por um ponto o Mundial de 2007, há 12 anos..O veterano e carismático piloto finlandês já não estará este ano ao volante de um carro vermelho com o cavallino rampante. Aos 39 anos, será um dos rostos do regresso da histórica Alfa Romeo, uma das novidades do Mundial deste ano, que conta com três rookies e novas regras implementadas para tentar devolver atratividade às corridas, facilitando as ultrapassagens - refletindo a filosofia dos novos donos da Fórmula 1, os norte-americanos da Liberty, que se estrearam na temporada passada com a promessa de voltar a ter o espetáculo e os fãs como prioridade..Vamos então à apresentação detalhada da nova temporada da Fórmula 1, que em Portugal terá ainda outra novidade, passando a ser transmitida pela Eleven Sports..A histórica sexta dobradinha da Mercedes ou desta é que é, Ferrari?.Desde que, em 2014, a Fórmula 1 implementou a nova era dos motores turbo híbridos, a Mercedes "limpou" os campeonatos todos. Não só ganhou os títulos de pilotos e construtores ao longo dos últimos cinco anos consecutivos como deixou poucas "migalhas" pelo meio: dos 100 Grandes Prémios disputados, ganhou 74. Sobraram 14 para a Ferrari e 12 para a Red Bull. Mais nenhuma equipa conseguiu ganhar qualquer corrida..Em 2019, Mercedes e Hamilton (sim, porque ninguém acredita que o finlandês Valtteri Bottas possa superar o inglês dentro da equipa) procuram fazer história com uma sexta dobradinha consecutiva, superando o registo de cinco que partilham agora com a Ferrari dos tempos de Michael Schumacher, que o conseguiu entre 2000 e 2004 - a marca italiana ganhou também o título de construtores em 1999, mas Schumacher foi suplantado por Mika Hakkinen no mundial de pilotos desse ano.. Infogram.Um condimento mais para apimentar a luta esperada entre Mercedes e Ferrari no mundial deste ano, com a scuderia a entrar em ação de esperança inflamada pela boa performance nos testes de pré-época, em que o Ferrari de Sebastian Vettel conseguiu mostrar-se o carro mais rápido no circuito de Barcelona..A equipa italiana procedeu a grandes alterações na estrutura, afastou Maurizio Arrivabene da liderança e depositou a confiança para o regresso aos títulos nas mãos de Mattia Binotto, e os primeiros sinais mostram que o carro é provavelmente o mais veloz do pelotão. Mas também a primeira metade da época de 2018 tinha mostrado uma superioridade da Ferrari que depois caiu no asfalto na segunda metade da época, com a melhoria da Mercedes que os italianos não conseguiram acompanhar..Além da capacidade do carro vermelho ao longo da temporada, também o seu principal piloto, o tetracampeão Sebastian Vettel, vai estar sob pressão suplementar depois dos erros que acumulou nas duas últimas temporadas durante as fases mais quentes na luta com o Mercedes de Hamilton. Para lá da luta com o rival inglês, o alemão terá também nova concorrência interna, com o jovem monegasco Charles Leclerq, de apenas 21 anos, a render o veterano Raikkonen, depois de uma época de estreia bem promissora na Sauber a reforçar o talento já demonstrado com os títulos nas GP3 e F2. Leclerc pode ser um colega bem mais exigente para Vettel do que vinha a ser Raikkonen nos últimos anos..Para já, seja por mera tática ou pura honestidade, até Lewis Hamilton aponta os Ferrari como os carros a bater neste início de temporada. "São os mais rápidos. Vai ser a mais dura batalha até agora", afirmou o inglês, que na época passada igualou os cinco títulos mundiais conseguidos pelo argentino Juan Manuel Fangio nos inícios da F1 e agora tem apenas um nome pela frente no topo histórico da competição: o do heptacampeão Michael Schumacher, um dos grandes nomes da história da Ferrari (com a qual conseguiu cinco desses sete títulos)..Para Lewis Hamilton, mais do que a "simples" luta com Vettel pelo título de 2019, é essa ascensão ao trono do Panteão dos deuses da modalidade o seu principal fator de motivação. Com cinco títulos mundiais e 73 vitórias em Grandes Prémios, o britânico persegue as principais marcas de Schumacher. Faltam-lhe dois títulos, 18 triunfos em corridas e 21 pódios, depois de já ter ultrapassado o alemão em pole-positions..Para isso, claro, vai precisar que a Mercedes consiga estender o seu domínio nesta era da F1 por mais um par de anos..Max Verstappen e a Red Bull podem ser candidatos?.Depois de ter passado os últimos tempos em colisão com a Renault sobre os motores da construtora francesa, a equipa austríaca mudou de fornecedor e associou-se à Honda porque achou que o motor japonês pode permitir anular mais rapidamente o gap para as duas equipas da frente..Se assim for, a Red Bull tem piloto para lutar com qualquer outro, como já o demonstrou várias vezes o (por vezes incontido, mas indiscutivelmente talentoso) holandês Max Verstappen. Apesar de já quase parecer um veterano destas lides, a começar a sua quinta temporada na F1, Verstappen tem ainda apenas 21 anos, com vários recordes de precocidade batidos pelo caminho (o mais novo na F1, o mais novo a liderar uma acorrida, o mais novo nos pontos, o mais novo a ganhar um GP....)..O holandês tem ainda margem para poder vir a ser também o mais jovem campeão de sempre da Fórmula 1 - recorde na posse do alemão Sebastian Vettel, que ganhou o primeiro título em 2010, com 23 anos e 134 dias -, mas precisa que a Red Bull lhe entregue um carro vencedor já este ano. O que, apesar dos sinais promissores de pré-temporada e dos elogios dos responsáveis ao motor da Honda, talvez não seja o mais provável..Para já, Verstappen mostra-se otimista. "Tudo o que a Honda prometeu, entregou. Por isso, estou bastante satisfeito com o carro. Eles estão a fazer tudo para tentar vencer e espero que o consigamos fazer já este ano", disse o holandês, numa entrevista à Motorsport.com. Se tiver carro para isso, Max será certamente uma dor de cabeça para Hamilton e Vettel..O regresso da Alfa Romeo.Uma das grandes novidades - e das mais queridas para os nostálgicos do automobilismo - é o regresso do nome histórico da Alfa Romeo, equipa que venceu os dois primeiros títulos da história da F1, em 1950 e 1951, com o italiano Giuseppe Farina e o argentino Juan Manuel Fangio..Depois de já ter surgido associada à Sauber na temporada de 2018, a Alfa Romeo Racing passa mesmo a dar nome à antiga escuderia suíça, naquela que será a primeira equipa da marca italiana na F1 desde 1985. Como motor Ferrari, e a funcionar como espécie de equipa B da scuderia de Maranello, a Alfa Romeo terá um dos seus carros pliotados por um campeão do mundo neste regresso às pistas, com o carismático veterano Kimi Raikkonen, vindo da Ferrari, a prometer ainda motivação para dar nova vida ao nome da primeira equipa a fazer história na F1..Não peçam é ao Iceman para passar a ser bem comportadinho. Não é agora, aos 39 anos, que isso vai acontecer, diz: "Há várias teorias que comprovam que pilotas melhor se te divertires entre as corridas. Ir a festas, beber, passar um bom tempo, isso sempre me ajudou a pilotar melhor", disse o finlandês ao podcast oficial da F1..O resto do pelotão.A também histórica Williams, ainda hoje o segundo construtor mais titulado da Fórmula 1 (nove títulos - só atrás da Ferrari, que tem 16), vive os seus piores dias e, depois de uma época de 2018 para esquecer, parece preparar-se para mais um ano de travessia do deserto..Perdeu os primeiros dias de testes por atraso no carro e está mergulhada numa crise interna que levou à saída, a poucos dias do início da temporada, do diretor técnico Paddy Lowe. O regresso do polaco Robert Kubica, nove anos depois do brutal acidente nos ralis que o afastou da F1, onde era então um dos mais promissores talentos, parece ser a única boa notícia para celebrar na Williams..Tirando a equipa de Grove, o resto das formações no segundo pelotão parecem prometer uma luta equilibrada e com um andamento mais próximo dos da frente. Dessas, destaque talvez para a Renault, que este ano conta com um bom reforço entre os pilotos, após a chegada do australiano Daniel Ricciardo, cansado dos azares na Red Bull..A Racing Point, que assume a herança da Force India, a McLaren, já sem Fernando Alonso, a Toro Rosso, a Haas e a já mencionada Alfa Romeo completam a luta do meio do pelotão..Pilotos: três rookies e três regressos.Antes de mais, uma ausência faz-se notar logo à partida. Ao fim de 17 temporadas consecutivas, a Fórmula 1 deixa de ter o espanhol Fernando Alonso, bicampeão do mundo (2005 e 2006), farto de andar perdido na segunda metade do pelotão nos últimos anos, com a McLaren. O espanhol foca-se agora no Mundial de resistência e nas 500 milhas de Indianápolis, com o seu lugar na equipa inglesa ocupado pelo compatriota Carlos Sainz Jr, filho do lendário piloto dos ralis e do todo-o-terreno Carlos Sainz, que transita da Renault..Entre as dez equipas da grelha de partida, só duas mantêm a mesma dupla de pilotos da época anterior: a Mercedes (com Hamilton e Bottas) e a Haas (Grosjean e Magnussen). De resto, muita dança de cadeiras com destaque para três rookies e dois regressos..Os novatos são os britânicos Lando Norris (McLaren) e George Russell (Williams) e o anglo-tailandês Alexander Albon (Toro Rosso). Entre os regressos, além do já citado Kubica (Williams), há também os do italiano Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo), que em 2017 correu dois Grandes Prémios pela Sauber, e do russo Daniil Kvyat, a tentar relançar a carreira com uma terceira aventura na Toro Rosso, depois de um par de épocas frustrantes que o obrigaram a passar 2018 como piloto de desenvolvimento da Ferrari..Na escuderia do cavallinorampante, muita expetativa em redor da chegada do jovem monegasco Charles Leclerc, que deixou bons flashes do seu talento na época de estreia, com a Sauber, o que levou a Ferrari a promover já a sua chamada para fazer dupla com Vettel. Kimi Raikkonen fez o caminho inverso e voltou à equipa pela qual fez a estreia na Fórmula 1 em 2001, a Sauber agora renomeada como Alfa Romeo Racing..Novas regras, mais ultrapassagens?.No início do mundial anterior, a falta de ultrapassagens laçou o alerta nos novos proprietários da F1, preocupados em devolver o espetáculo às pistas para atrair mais os fãs. Por isso, lançou-se o toque a reunir com sentido e urgência e colocaram-se em marcha algumas alterações às regras que são uma espécie de antecâmara para a grande revolução prevista em 2021..Para já, fica uma importante preparação de terreno, com alterações sobretudo aerodinâmicas, na expetativa de facilitar as ultrapassagens em pista, tão raras nos últimos anos..As alterações focaram-se sobretudo nas asas, dianteira e traseira, que ficaram mais largas e mais altas para ajudar os carros perseguidores a manterem-se mais próximos daquele que estão a perseguir e, assim, facilitar as ultrapassagens. Também a abertura do DRS - sistema de redução de arrasto ativado em situações de ultrapassagem - foi aumenta em dois centímetros, o que lhe confere mais 25% eficiência..Além da aerodinâmica, registaram-se outras alterações também a outros níveis. Como o aumento de 105 para 110 kgs de combustível nos carros, para os pilotos não terem que gerir tanto o combustível e poderem usar mais vezes o bólide em plena potência..Os pilotos passarão também a usar luvas biométricas, de forma a monitorizar em permanência, em tempo real, a pulsação e níveis oxigénio no sangue, por razões de segurança e melhor assistência em caso de acidente grave..Por fim, há ainda mais uma mudança no regulamento que promete mudar a dinâmica da F1: o ponto extra para o piloto que fizer a volta mais rápida de um Grande Prémio, com a bonificação atribuída apenas a quem fizer o melhor tempo entre os carros pontuados (top 10)..Resta então esperar que se apaguem as luzes vermelhas para a 70.ª edição do Mundial de Fórmula 1, que vai correr as mesmas 21 corridas do ano passado, esticando a competição até 1 de dezembro (Abu Dhabi).