Ford Mustang Mach-E: SUV elétrico é digno do nome?

O SUV elétrico desportivo da Ford chegou a Portugal e já o testei, para perceber se é digno de envergar o famoso cavalo a galope na frente e chamar-se Mustang.
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Quando a Ford começou a falar em fazer um SUV elétrico com o nome Mustang, muitos adeptos do coupé mais vendido no mundo indignaram-se. Poderia um veículo desses ser um Mustang?... A motivação para o fazer é fácil de entender, nesta fase de transição energética. A sua missão é simples: combater o fenómeno Tesla, nem que para isso se empenhe um dos nomes mais famosos da Ford Motor Company.

Foi feita uma nova plataforma em aço que será usada noutros modelos elétricos. Tem uma longa distância entre-eixos de 2980 mm, para lá caber uma bateria grande. Na verdade, há duas baterias à escolha, uma de 75,7 kWh e outra de 98,7 kWh. E pode ter apenas um motor e tração atrás; ou dois motores e tração às quatro rodas.

Neste teste guiei a versão com dois motores, tração às quatro rodas e bateria grande. Ou seja, com 351 cv de potência, 580 Nm de binário máximo e 540 km de autonomia.

Com 4,71 m, o Mach-E mede tanto quanto um BMW X3, mas é mais baixo. A frente e a traseira vão buscar detalhes ao Mustang "verdadeiro" mas o perfil é o de um SUV-coupé convencional. Por dentro, a posição de condução alta explica-se pela bateria sob o piso. O chamariz do habitáculo é o ecrã tátil vertical de 15,5 polegadas, inspirado nos da Tesla. Na base, está uma zona fixa, para os comandos da climatização e um botão físico para regular o volume. Atrás do volante, está um pequeno painel digital com as informações de condução essenciais. Só falta mais apoio lateral no banco.

Claro que o arranque é muito suave e silencioso, com o binário a ser entregue de maneira progressiva às quatro rodas, tornando a condução no trânsito fácil e sem soluços. A direção tem um tato muito bom, mas os travões podiam ser mais progressivos. Em cidade, o consumo foi de 15 kWh/100 km, o que equivale a uma autonomia real de 586 km, um valor muito bom. O Mach-E pode ser carregado em postos rápidos DC até 150 kW, demorando 45 minutos para ir dos 0 aos 80%. Numa "wallbox" de 11 kW AC, demora 8h00 a fazer uma carga completa.

Há três modos de condução com nomes invulgares: Active/Whisper/Untamed. Eu diria que se poderiam traduzir como Normal/Comfort/Sport. Entre os dois primeiros, há uma menor sensibilidade do acelerador em modo Whisper. No modo Untamed, passa-se o contrário. Há também uma função "e-pedal" de maior regeneração que trava o carro, assim que se levanta o pé do acelerador. E um sintetizador de som, que soa a nave espacial e se pode desligar.

Em autoestrada, os ruídos aerodinâmicos são mais altos do que deviam, mas a estabilidade e o controlo nas mudanças de faixa mais bruscas são muito bons. O consumo que registei a 120 km/h foi de 18,0 kWh/100 km, o que aponta para uma autonomia real de 488 km.

Em estradas secundárias com curvas mais desafiantes, usando o modo Untamed, a reação ao acelerador é muito rápida com a Ford a anunciar a aceleração 0-100 km/h em 5,1 segundos, apesar dos seus 2182 kg.

A suspensão não é dura, mantém-se confortável mesmo em piso estragado, só nas lombas pareceu demasiado firme. A direção tem boa precisão e a frente resiste bem à subviragem, mas acabam por ser os pneus o fator que limita a aderência, podendo deixar a frente alargar a trajetória, quando se exagera na velocidade de entrada em curva.

A parte menos esperada vem depois, quando se reacelera à saída da curva e se sente a traseira a deslizar, como num carro de tração atrás. Explorando esta atitude, é possível tirar prazer da condução do Mach-E, o que não é vulgar na maioria dos elétricos.

Resposta à pergunta inicial: pode um SUV elétrico ser um Mustang? Os engenheiros da Ford fizeram o seu melhor para que a resposta seja positiva. O comportamento dinâmico dá ao Mach-E uma atitude desportiva muito bem vinda. Claro que não tem a mesma envolvência do Mustang coupé, mas isso não é por ser elétrico, é por ser um espaçoso SUV, capaz de levar a família com conforto.

Ford Mustang Mach-E AWD

Motor: Dois motores elétricos, um por eixo.

Bateria de 98,7 kWh.

Potência máxima: 351 cv.

Binário máximo: 580 Nm.

Aceleração 0-100 km/h: 5,1 s.

Velocidade máxima: 180 km/h.

Consumo médio: 18,7 kWh/100 km.

Autonomia: 540 km.

Tempo de carga: 45 minutos (carregador de 150 kW) ou 8h00 (wallbox de 11 kW).

Bagageira: 402 litros.

Peso: 2182 kg.

Preço: 66 787 euros

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