A Força Aérea aconselha prudência na abertura da base de Monte Real à aviação civil, uma recomendação aprovada pelo Parlamento em janeiro, e pede que seja estudado o exemplo do aeroporto de Beja antes de serem tomadas decisões..O responsável máximo daquele ramo, o general Manuel Rolo, reconhece ao DN que "era bom que o país tivesse aeroportos em todo o lado", mas o chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA) observa que "há outros aspetos" a ter em consideração antes de avançar para um projeto em que depois não se consigam rentabilizar os investimentos de dezenas de milhões de euros..A recomendação ao governo foi proposta pelo PSD em sede da comissão parlamentar de Obras Públicas e sem que a comissão parlamentar de Defesa fosse ouvida. O texto foi aprovado com os votos dos sociais-democratas e dos partidos de esquerda - BE, PCP e Verdes - que apoiam o governo socialista. O PS absteve-se, juntamente com o CDS e o PAN. O texto foi depois publicado no jornal oficial no passado dia 15 de fevereiro..Fátima Ramos (PSD), uma das autoras da proposta, afirma ao DN que "faz todo o sentido usar aquela infraestrutura aeroportuária num país que não é rico" e porque se localiza numa região onde "há vários polos de atração turística e com boas margens de crescimento", alguns dos quais são mesmo património da UNESCO (como é o caso do Convento de Cristo em Tomar). Acresce a proximidade do Santuário de Fátima, que o Papa visitou em maio de 2017 depois de aterrar precisamente na base aérea de Monte Real, lembra a deputada..O dinamismo económico de alguns concelhos da região centro, onde há zonas "com grande desertificação" devido às "assimetrias em termos de distribuição populacional e de riqueza", beneficiariam muito de um aeroporto civil que serviria como "projeto-âncora" para o seu desenvolvimento real nos próximos anos, sustenta Fátima Ramos..Questionado sobre esta recomendação, o CEMFA reafirma a posição de princípio que a Força Aérea assume há anos perante um projeto defendido por várias entidades civis da região centro: "Continuamos a ser parte da solução." Mas, alerta o general, convém que os promotores "olhem para Beja e vejam qual a viabilidade de projetos desses"..Note-se que a base aérea de Beja, na sequência de um acordo feito no final de 2003 entre os ministérios da Defesa e das Obras Públicas, foi objeto de "um avultado investimento" para permitir o seu uso pela aviação civil..Em abril de 2016, cinco anos depois de o terminal civil de Beja entrar em funcionamento, a empresa gestora dos aeroportos, ANA, reconheceu a necessidade de rever o projeto: "Foram sendo efetuadas operações comerciais exploratórias, no entanto, apesar dos esforços efetuados, a diminuta procura por parte da aviação comercial levou a repensar a atividade do aeroporto e a vocacioná-lo para outro tipo de operação.".20 milhões para adaptação.No caso da base de Monte Real (BA5), próxima de Leiria e afeta à defesa aérea do país com duas esquadras de caças F16, "está encontrado o espaço" mas falta "identificar se corresponde às expectativas e tem viabilidade financeira e de clientela", assinala Manuel Rolo..Embora sem muito espaço para crescer e acomodar o tráfego aéreo civil, "a lógica é sempre tentar compatibilizar os desígnios nacionais" de defesa militar da República com os do seu desenvolvimento socio-económico, reconhece o CEMFA, que já tem na mesa um processo de reestruturação interna imposto pela transformação da base do Montijo num aeroporto complementar ao de Lisboa..Certo é que, em setembro passado, a Câmara Municipal da Marinha Grande divulgou um "estudo de viabilidade da abertura do aeroporto de Monte Real ao tráfego civil" que dava luz verde ao projeto..O documento prevê um custo estimado de 20 milhões de euros para adaptação das infraestruturas existentes: reforço da pista, um terminal de passageiros, placas de estacionamento, hangar de manutenção, controlo de acessos, reservatórios de combustível, reforço do pessoal na torre de controlo e das capacidades de luta contra incêndios..Quanto aos dados, o estudo aponta para cinco mil movimentos por ano e cerca de 600 mil passageiros. A evolução a longo prazo prevê cerca de nove mil movimentos anuais e a presença de 1 a 1,2 milhões de passageiros..Em termos financeiros, "estima--se que seja uma operação viável, com uma taxa interna de rentabilidade de 8% a 10%" na previsão mais conservadora "e em linha com aeroportos internacionais com uma dimensão semelhante"..A deputada Fátima Silva acrescenta ao DN que não são conhecidas reservas de impacto ambiental contra o uso da BA5 pela aviação comercial. "Nunca foram levantados problemas" dessa natureza, enfatiza, embora reconhecendo que as autoridades terão de se pronunciar nesse domínio..Eleita por Coimbra e consciente dos problemas em torno da linha da Lousã, Fátima Silva assume que "o custo-benefício" da obra "terá de ser analisado. Não defendo que se faça de forma cega", mas como "da parte da Defesa há abertura para estudar o assunto" e as estimativas indicam que esse alargamento"pode ser feito com um investimento reduzido - compete ao governo fazer o estudo ou mandar" que se faça, argumenta a deputada do PSD.