Foi o homem mais completo do mundo. Agora quer ser mulher
Encantado pelo piano que decorava o luxuoso quarto de hotel onde festejou a vitória no decatlo nos Jogos Olímpicos de Montreal 1976, Bruce Jenner teve uma epifania: ia aprender a tocar e fazer carreira na música. Mas pianista é algo em que nunca se tornou. Foi ator, piloto de automóveis, quase-basquetebolista, empresário e estrela de reality shows. E, por fim, quase 40 anos depois de se tornar um ícone nos EUA, rotulado de "homem mais completo do mundo", decidiu mudar: quer ser mulher.
Bruce Jenner, de 65 anos, é a negação da frase de Andy Warhol ("um dia todos terão 15 minutos de fama"). Ele, sozinho, já teve horas e horas - à conta de cada transformação na sua vida. A última foi anunciada o mês passado: a mudança de sexo. O caso ganhou eco mundial por causa do "estatuto" da celebridade - Jenner é uma estrela das revistas cor-de-rosa por ter sido padrasto das irmãs (Kim, Khloé e Kourtney) Kardashian. Mas também pelo insólito que é ver um antigo campeão de decatlo - a mais completa competição desportiva, exclusiva para homens, condensa dez disciplinas do atletismo - decidir tornar-se mulher.
Em 2008, o NY Times contava o episódio do piano para lembrar como o pós-ouro olímpico nem sempre é como esperado. Para o campeão de 1976, Montreal marcou o adeus ao atletismo - aos 26 anos - e o início de outra vida. Bruce, então um sex symbol, herói nacional por devolver aos EUA um título que lhes tinha sido roubado pela União Soviética em 1972, escolheu outro caminho para a fama.