FMI prevê maior abrandamento económico desde a crise de 2012
A economia portuguesa deverá registar, em 2019, o maior abrandamento desde a crise de 2012 e, neste cenário, tornará a divergir face à média da zona euro, projeta o Fundo Monetário Internacional (FMI) no novo panorama sobre o crescimento mundial (World Economic Outlook), apresentado nesta terça-feira de manhã em Bali, Indonésia.
Tal como avançou a missão que veio a Portugal para fazer avaliar o pós-programa de ajustamento, o produto interno bruto (PIB) de Portugal deve crescer, neste ano, 2,3% em termos reais, mas no ano que vem perde força e só cresce 1,8%, valor que também fica abaixo dos 1,9% estimados para o conjunto da zona euro.
Na previsão, o FMI ainda não avança com os valores atualizados para o défice público e a dívida, mas o novo cenário de crescimento de 2019 é totalmente consistente com o défice de 0,3% do PIB anunciado pela missão do fundo em meados de setembro (abaixo do prognóstico de 0,7% para 2018, marca que coincide com a do governo). Nessa altura, o valor avançado para o rácio da dívida apontava para uma descida de 120,8% em 2018 para 117,2% do PIB no ano que vem.
Os valores relativos às finanças públicas serão alvo de análise e comentário na quarta-feira, quando for apresentado o estudo do Monitor Orçamental (Fiscal Monitor), que é coordenado por Vítor Gaspar, antigo ministro das Finanças de Portugal, hoje chefe do departamento de assuntos orçamentais do FMI.
O ambiente externo que se perfila para 2019 voltou a ser menos favorável e é o fator impeditivo mais citado pelo FMI no novo outlook. Complica mais o ajustamento orçamental em muitas economias, Portugal incluído. E exige mais vigor nas chamadas reformas estruturais.
Este abrandamento económico de Portugal, oficializado agora ao mais alto nível pela instituição chefiada por Christine Lagarde, é de meio ponto percentual em 2019 e o maior desde 2012, altura em que a recessão se agravou 2,2 pontos percentuais.
A receita de impostos, que tem sido crucial e até dominante a fazer descer o défice português, tenderá a perder gás. A execução orçamental fica mais apertada e haverá mais pressões para poupar em rubricas da despesa.
Portugal e outros países crescem menos porque, essencialmente, o ambiente envolvente se tornou mais obscuro e incerto. Essa ideia já pairava há uns meses, desde que os EUA começaram a ameaçar dificultar as relações comerciais com outros países (como a China), mas agora os efeitos negativos já são reais.
Só para se ter uma ideia, 13 dos 19 países que compõem a zona euro vão crescer menos em 2019 do que no corrente ano. O maior parceiro económico de Portugal, Espanha, deve desacelerar 0,5 pontos percentuais, crescendo apenas 2,2% no ano que vem. Alemanha e França mantêm os ritmos respetivos de 2018 (1,9% e 1,6%) pelo que a zona euro trava apenas uma décima (2% em 2018 e 1,9% no próximo ano).
Maurice Obstfeld, o economista-chefe que no final deste ano será substituído no cargo por Gita Gopinath, recordou que "em abril, a recuperação ampla da economia mundial levou-nos a projetar um crescimento de 3,9% para este ano e o próximo", no entanto, tendo em conta o que aconteceu desde essa altura, "esses números parecem ser demasiado otimistas". A economia vai evoluir a um ritmo de 3,7% neste dois anos em análise.
A revisão em baixa é explicada pelas muitas incertezas que pairam no comércio mundial e na confiança dos investidores e empresários, mas também por algumas políticas domésticas "que parecem ser insustentáveis" no longo prazo, observou o diretor do departamento de estudos económicos.
Um dos casos mais flagrantes será o dos Estados Unidos, que estão a crescer com a ajuda de "políticas orçamentais pró-cíclicas" que terão o seu fim. "Os EUA irão entrar em declínio quando partes desse estímulo orçamental começarem a ser revertidas", alerta Obstfeld. A economia norte-americana, a maior do mundo, deve arrefecer de 2,9% este ano para 2,5% no próximo.
A China também deve perder gás (de 6,6% para 6,2%) e só não será pior porque o governo vai tentar segurar a situação, "prolongando os desequilíbrios financeiros internos" do gigante asiático, observa o perito.
No meio de tudo isto, além do problema da possível rutura no comércio mundial, a zona euro tem ainda o brexit pela frente, numa altura em que há "menos munições monetárias" do que havia quando rebentou a crise de há dez anos, observa o economista-chefe do FMI, numa referência aos bancos centrais cujos juros estão em zero ou próximos disso.