As taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE) devem chegar a um patamar máximo ainda este ano mas, em 2024, já devem começar a descer, assume o Fundo Monetário Internacional (FMI) como hipótese de base para as novas projeções económicas mundiais (outlook económico), ontem divulgadas..Estas são previsões intercalares de verão, que só atualizam o cenário para as maiores economias. Portugal não aparece nestas contas..O crescimento da zona euro foi revisto em alta (exceto o caso da Alemanha, onde a recessão se está a agravar), mas as perspetivas de inflação agora são piores do que se estimava há três meses, diz a instituição sediada em Washington. O processo de "desinflação" está a ser mais lento, avisou o FMI..Pierre-Olivier Gourinchas, o economista-chefe do Fundo, disse em conferência de imprensa que "acredita" ainda ser possível acomodar um aumento dos salários reais sem cair numa espiral inflacionista, mas o risco existe e deve ser monitorizado. É o FMI a acompanhar as grandes inquietações do BCE..Mas, como referido, o cenário central da instituição dirigida por Kristalina Georgieva é de que os aumentos de taxas de juro na zona euro vão continuar, mas não devem passar deste ano..Neste novo estudo, os economistas FMI dizem que "pressupomos que o BCE aumenta a sua taxa diretora para um máximo em 2023 e que depois a reduz gradualmente em 2024".."Além disso, com a queda das expectativas de inflação a curto prazo, é provável que as taxas de juro reais [descontando o valor da inflação às taxas de juro nominais] se mantenham elevadas, mesmo depois de as taxas nominais começarem a descer", observa o FMI..Ou seja, o aperto monetário real pode continuar a ser muito elevado, mesmo com os bancos centrais a descerem os juros, sobretudo se essa descida, como espera o FMI, foi "gradual"..No caso da Reserva Federal dos Estados Unidos, o FMI diz algo parecido. As taxas de juro atingem o pico das subidas ainda este ano e em 2024 será tempo para começar a aliviar..Mas, claro, há grandes incertezas. "A inflação subjacente [inflação que não conta com energia e alimentos] diminuiu, em média, de forma mais gradual e mantém-se muito acima dos objetivos da maioria dos bancos centrais", refere o FMI..Esta "persistência inflacionista reflete, dependendo da economia considerada, a passagem dos choques da inflação total para a inflação subjacente, a manutenção de lucros elevados das empresas um crescimento forte dos salários, especialmente no contexto de aumentos fracos da produtividade, o que faz subir mais os custos unitários do trabalho".."Contudo, até à data, as espirais salários-preços -- em que os preços e os salários aceleram em conjunto durante um período sustentado -- não parecem ter-se instalado nas economias avançadas e as expectativas de inflação a mais longo prazo permanecem ancoradas", afirma Gourinchas..Subidas de juros já causam mossa.O cenário assumido de que em 2024 já podem acontecer descidas graduais das taxas de juro é consentâneo com o cenário de que a economia real e o emprego podem começar a arrefecer e até a sofrer com essa política monetária..Na opinião do economista-chefe do FMI, "no curto prazo, se as condições económicas se deteriorarem, existe o risco de as empresas inverterem o rumo e reduzirem drasticamente o emprego".."Por outro lado, a forte recuperação do emprego, associada a aumentos apenas modestos da produção, indica que a produtividade do trabalho - a quantidade de riqueza produzida por hora trabalhada - diminuiu. Se esta tendência persistir, tal não será bom presságio para o crescimento a médio prazo", considera Gourinchas..Seja como for, "o que vemos hoje é que a política monetária já está a reduzir partes da atividade económica". "Já estamos a assistir ao aumento das dos juros nas prestações bancárias, estamos a ver uma contração do crédito e estamos a ver sinais de que a economia está, de facto, a arrefecer", elenca o economista francês..Segundo ele, "isso vai ajudar a reduzir as pressões inflacionistas subjacentes e os bancos centrais a atingirem o seu objetivo [inflação de 2%]". Portanto, as subidas de juros "já surtiram algum efeito e continuarão a ter algum efeito", espera o alto responsável..Turismo salva Europa da recessão alemã.O crescimento previsto para as maiores economias europeias (Zona Euro) foi revisto em alta face a abril, exceto no caso da maior de todas, a Alemanha, cujo Produto Interno Bruto (PIB) deve cair 0,3% este ano, projeta o FMI..Assim, a economia do euro até deve avançar 0,9% em termos reais, puxada pelo binómio "turismo e serviços" de Espanha e Itália, cujas economias podem crescer 1,1% e 2,5%, (mais 0,4 e 1 pontos percentuais, respetivamente, em 2023, face ao outlook de abril), diz a instituição..Ou seja, aquela dinâmica compensa o embate da crise inflacionista na Alemanha. Em abril, previa o FMI, a economia alemã ia contrair 0,1% este ano, mas agora a recessão é mais saliente: a queda projetada é de 0,3%.."Prevemos que o crescimento da zona euro baixe de 3,5% em 2022 para 0,9% em 2023". "Esta nossa previsão mantém-se praticamente inalterada, mas há uma alteração na composição relativamente a este ano. Com a maior força nos serviços e no turismo, o crescimento foi revisto em alta em 0,4 pontos percentuais no caso de Itália e em mais um ponto percentual em Espanha", refere o outlook..Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo