FMI corta crescimento dos maiores parceiros de Portugal: Espanha e Alemanha
A zona euro deverá crescer apenas 1,3% este ano, menos uma décima do que esperava em outubro último, revelou esta segunda-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI), nas suas projeções intercalares para as principais economias do mundo.
Portugal não é observado nesta atualização, mas os sinais parecem ser bastante desfavoráveis uma vez que a economia portuguesa depende muito das exportações e do investimento estrangeiro para se manter à tona.
Em outubro, a instituição, agora liderada pela búlgara Kristalina Georgieva, previa que Portugal crescesse 1,6% em 2020. Este valor fica bem abaixo dos 1,9% em que Mário Centeno, o ministro das Finanças, baseou a proposta de Orçamento do Estado para este ano.
O FMI avisa por exemplo que Espanha e Alemanha, que são justamente dois dos grandes parceiros económicos de Portugal, senão os mais importantes, também perdem gás, crescendo pouco mais de 1%. O ritmo previsto para ambas as economias em 2020 foi revisto novamente em baixa.
A economia dos Estados Unidos também foi afetada, devendo avançar apenas 1,7% em 2020.
A par disso, a economia mundo soma mais 3,3% este ano, menos uma décima face há três meses, "sobretudo por casa da Índia", que levou um corte de 1,2 pontos percentuais na taxa de crescimento (a economia indiana avança ainda assim 6,5%).
O ritmo da economia chinesa foi revisto em alta (mais duas décimas, para 5,8% em 2020), "reflexo do acordo comercial assinado com os Estados Unidos" na semana passada, mas isso não chega para contrariar o desaire geral.
Como referido, segundo o FMI, a zona euro não deve crescer mais do que 1,3% este ano (1,4% no próximo), um dos ritmos mais fracos desde a grande crise, estando a economia do euro a ser travada pela Alemanha, que cresce uns modestos 1,1% em 2020.
Espanha, o maior parceiro da economia portuguesa (em exportações, investimentos, etc) e quarto maior mercado da zona euro, deverá crescer 1,6%, mantendo esse ritmo no ano que vem.
O crescimento da segunda maior economia da área do euro, França, não vai além de 1,3%. Itália, o terceiro maior mercado do euro, mantém-se quase estagnada, devendo crescer uns magros 0,5%, diz o Fundo.
Os riscos para Portugal são óbvios. As revisões em baixa de Alemanha e Espanha podem impactar diretamente na economia portuguesa através de vários canais.
Portugal exporta, por ano, mais de 18 mil milhões de euros em bens e serviços para Espanha (20,4% do total). E à Alemanha, a economia nacional vende mais de 10 mil milhões de euros (11% do total). Os dados de base são da AICEP, os cálculos do Dinheiro Vivo.
Juntos, estes dois mercados absorvem quase dois terços das exportações nacionais, só para se ter uma ideia da escala e do grau de exposição. No investimento direto estrangeiro a situação é parecida.
Gita Gopinath, a economista-chefe do FMI, diz que "no World Economic Outlook de outubro, referimos que a economia global estava em desaceleração sincronizada, com riscos negativos crescentes que poderiam prejudicar ainda mais o crescimento".
"Desde então, alguns riscos retrocederam parcialmente com o anúncio da primeira fase de um acordo comercial EUA-China e com a menor probabilidade de um Brexit sem acordo."
Por exemplo, o FMI espera que "um acordo entre EUA e China Fase I, se for duradouro, reduza o impacto negativo acumulado das tensões comerciais no PIB global até o final de 2020 - de 0,8% a 0,5%. Para Gopinath, a política monetária (taxas de juro muito baixas do BCE, da Fed e de outros grandes bancos centrais do mundo) "continuou a apoiar o crescimento e condições financeiras dinâmicas".
Devido a isto, "existem agora sinais preliminares de que o crescimento global pode estar a estabilizar, embora em níveis moderados". "Nesta atualização do World Economic Outlook, projetamos que o crescimento global aumente modestamente de 2,9% em 2019 para 3,3% em 2020 e 3,4% em 2021. A ligeira revisão para baixo é de 0,1 pontos percentuais em 2019 e 2020 e de 0,2 pontos em 2021".
Segundo a economista, isto acontece "sobretudo por causa das revisões em baixa da Índia". Mesmo com esses sinais de estabilização, "a recuperação projetada para o crescimento global permanece incerta". A retoma das economias emergentes continua "sob stress e com fraco desempenho"; o crescimento nas economias avançadas está um pouco mais estável face a outubro.
(atualizado 13h55)
jornalista do Dinheiro Vivo