Florbela Coroas da Costa, 32 anos, é filha de um casal de emigrantes em França. Nasceu em Trappes, mas tinha apenas 11 anos quando a família se mudou para a terra do pai, a aldeia de Carqueijo, freguesia de Barrô, no concelho de Águeda. Licenciou-se em Engenharia Aeronáutica na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, onde concluiu o mestrado em 2011. Foi nesse ano que começou a trabalhar no Centro de Investigação CEiiA, em Matosinhos, no desenvolvimento do elevator & sponson do KC-390, da Embraer. Em meados de 2017, mudou-se para o centro da Suíça, a convite do Maxon Group, como gestora técnica de projeto. Trabalhou em diversos projetos na área aeroespacial, sendo um deles os motores que controlam a inclinação das pás do rotor do helicóptero Ingenuity, que pertence à missão Mars 2020 na NASA/JPL..O que a levou a escolher Engenharia Aeronáutica? Era um sonho de menina ou foi uma escolha de "última hora"? Quando era pequena sonhava em ser astronauta. Sempre fui apaixonada pela aeronáutica e pelo espaço e na escola gostava muito de Matemática e de Física, pelo que Engenharia Aeronáutica foi para mim uma escolha óbvia..Há quanto tempo integra os quadros do Maxon Group? O que faz exatamente na empresa? Mudei-me para o centro da Suíça em meados de 2017 devido a esta oportunidade de trabalho como gestora técnica em projetos aeronáuticos e espaciais no Maxon Group..Como é que acontece esta participação na missão da NASA a Marte através do robô Perseverance? O Maxon Group tem um extenso histórico com motores para Marte. Existem neste momento mais de cem motores DC da Maxon no Planeta Vermelho. Tive a grande oportunidade de ter como primeiro projeto no Maxon Group a gestão do desenvolvimento dos seis DC motores que controlam a inclinação das pás do rotor do Ingenuity, o helicóptero da missão Mars 2020 da NASA. Ao mesmo tempo, a minha colega de trabalho estava a desenvolver motores que são utilizados em diferentes mecanismos do rover Perseverance..Qual será o papel do helicóptero Ingenuity nessa missão? Este será o primeiro helicóptero a voar em Marte e serve como demonstração de voo. Uma vez que a densidade em Marte é apenas cerca de 1% da densidade da Terra, voar torna-se extremamente difícil, por isso novas tecnologias tiveram de ser desenvolvidas para esse âmbito. Se funcionar como é esperado, iremos muito provavelmente ver mais (e maiores) helicópteros a ajudar na exploração espacial..O que é que espera desta missão? Em que medida pode mudar a conceção que o cidadão comum tem dos planetas? Esta missão, assim como as demais missões a Marte, é mais um passo na direção da descoberta de Marte e tem como objetivo principal ajudar-nos a entender se já existiu vida em Marte. O Perseverance, o rover da missão Marte 2020 na NASA, irá, entre outros objetivos, criar amostras do solo marciano, e haverá nos próximos anos duas missões adicionais: uma para enviar outro rover para Marte, para recolher essas amostras e enviá-las para a órbita de Marte; e outra missão para capturar as amostras da órbita de Marte e trazê-las para a Terra para serem analisadas, na esperança de se encontrar provas de vida em Marte..Que alterações introduziu nesses motores que permitem dar este passo no campo espacial? Os produtos do catálogo do Maxon Group são continuamente aperfeiçoados por meio de desenvolvimento de novas tecnologias, como os projetos para Marte. No caso específico dos motores DC desenvolvidos para o helicóptero Ingenuity, por exemplo, foram criadas novas ideias para reduzir o peso ou prolongar a vida útil dos motores. Ambos são fatores altamente relevantes para aplicações de motores em UAV na Terra. Por meio desses projetos, aprofundamos o nosso conhecimento dos componentes individuais do motor, das tecnologias de conexão que usamos e do comportamento do motor nas condições ambientais mais extremas. Por isso, as missões especiais também nos ajudam a desenvolver novas tecnologias que podem posteriormente ser utilizadas na Terra..Como é que vê Portugal posicionado no universo aeronáutico? Gostava de voltar aqui para a trabalhar? Eu, assim como outros amigos meus engenheiros, saímos de Portugal não por falta de trabalho no nosso país, mas porque queríamos trabalhar em projetos mais desafiantes. Eu tive a sorte de trabalhar no projeto do KC-390 no CeiiA quando me graduei, mas este tipo de projeto, com esta dimensão e complexidade, foi uma oportunidade única. Foi a primeira vez em que Portugal participou num projeto de desenvolvimento desta dimensão. Quando já estava na sua fase final, depois de cinco anos e meio, eu e vários colegas decidimos procurar novas oportunidades. E, infelizmente, não há muitas oportunidades aeronáuticas desta dimensão em Portugal, apesar de termos engenheiros muitíssimo competentes. Tenho a certeza de que muitos engenheiros que se encontram atualmente fora do país voltariam para Portugal se tivessem mais oportunidades de trabalho na área aeronáutica.