"Fiz as pazes com Jesus em 5 minutos e claro que nos vamos falar"
Depois de amanhã há um Moreirense-Sporting que oporá dois homens, Augusto Inácio e Jorge Jesus, que protagonizaram uma "guerra" iniciada no século XX, na época 1996/97, e que terminou no século XXI, mais propriamente com a chegada de Jesus a Alvalade - onde Inácio, com a contratação do treinador ao Benfica, passou de diretor desportivo a diretor de relações externas.
"Ficou tudo resolvido e não foi na Batalha, foi muito antes disso. Foi num almoço que tivemos em Alcochete. A Batalha foi depois", diz Inácio ao DN, referindo-se ao episódio público nos prémios Rugidos do Leão, realizados a 13 de novembro de 2015. Nesse dia, Augusto Inácio recebeu o seu prémio referente ao título de campeão em 2000, que se tinha extraviado e que até 2015 nunca tinha chegado ao destinatário. Quando subiu ao palco deixou 1500 pessoas atónitas ao referir que desejava que Jesus fosse distinguido no ano seguinte. E ao voltar para o seu lugar deu um longo abraço... a Jorge Jesus.
Mas, afinal, como é que os dois homens puseram para trás das costas anos e anos de má relação? "Foi em Alcochete, depois de Jorge Jesus estar no Sporting. Perguntaram-me: "há um almoço assim assim, há algum problema?" E eu respondi que não havia problema nenhum. Fomos, encontrámo-nos e falámos durante muito tempo sobre o Sporting e sobre a vida... as coisas antigas foram ultrapassadas em cinco minutos ou nem tanto. Foram coisas que se passaram e depois faltava alguém dar um passo. Ainda bem que tudo se resolveu, gosto de me dar bem com toda a gente", descreve Inácio ao DN, sem confirmar ou desmentir que o encontro tivesse sido patrocinado por Bruno de Carvalho, presidente dos verdes e brancos.
A última vez que se defrontaram foi na última jornada da I Liga 2012/2013. O Benfica, ferido depois de ter perdido tudo em Portugal e na Europa, venceu o Moreirense (3-1) e os dois técnicos voltaram a não se cumprimentar.
Mas domingo, afirma Inácio, vai ser diferente. "Se nos vamos cumprimentar? Mas por que razão não iria haver um aperto de mão se os dois treinadores se dão bem? Houve jogos em que não nos falávamos, por isso não havia aperto de mão.Agora que nos falamos porque é que não há-de haver?", questiona o técnico da formação minhota.
A estratégia das bolas paradas
O mal estar entre os dois homens iniciou-se em Felgueiras no início de 1997. O clube duriense lutava pela subida à I Liga, mas o seu treinador, Inácio, seria tentado com um convite do Marítimo. Para o substituir, o Felgueiras elegeu Jesus, que falhou a promoçãona II Liga. No final do campeonato, Jesus disse alto e bom som que se tivesse chegado mais cedo o Felgueiras tinha subido de escalão. Claro está, Inácio não gostou.
Essa foi a primeira vez que Jesus rendeu Inácio, a segunda decorreu a meio da temporada 2003/2004 no V. Guimarães. Inácio saiu, Jesus é contratado e o primeiro, logo a seguir, assume o Belenenses. E a 16 de fevereiro de 2004 defrontam-se na Maia, casa emprestada dos vimaranenses, num encontro que os lisboetas venceram por 1-0.
"Eu fazia em computador as bolas paradas com tudo o que os jogadores tinham de fazer, posicionamento defensivo e ofensivo. No final de cada jogo arrancava os papéis. Mas quando jogámos contra o Belenenses do Inácio esqueci-me de tirar os papéis, não me lembrei e vim-me embora. Passadas umas semanas, eu e o Jesus fomos assistir ao Moreirense-Belenenses e a estratégia de bolas paradas do Belenenses era igual à nossa. E o Jesus ficou em brasa. Primeiro comigo, por me ter esquecido dos papéis. Ele não sabia do esquecimento e achou estranho estar a ver tudo igual ao que fazíamos. O Jesus cismou que tinha sido por que eu tinha deixado os papéis e o Inácio tinha copiado", conta Jorge Amaral, antigo guarda-redes do FC Porto, à época adjunto de Jesus no Vitória de Guimarães e "amigo de ambos".
Inácio, confrontado com este episódio, mantém-se firme na vontade de não falar do que está para trás. "Há tantas histórias que se falam e que se contam, não falo de mais coisas do passado porque está tudo enterrado", assegura o treinador do Moreirense, sem, no entanto, desmentir mais uma situação que beliscou a relação entre dois homens que não se puderam ver durante duas décadas.