A Finlândia não foi o primeiro país a tomar medidas restritivas na luta ao avanço da pandemia. Mas, ao primeiro embate, o país nórdico estava preparado para responder com reservas de material de proteção para os profissionais de saúde..A medida foi considerada "histórica". A Finlândia recorreu aos armazéns secretos para abastecer as unidades de saúde pela primeira vez desde que estabeleceu uma política de armazenamento de bens considerados essenciais, na sequência da Segunda Guerra Mundial,.Foi a diretora-geral do Ministério dos Assuntos Sociais e da Saúde quem deu a notícia, há duas semanas. Na estação de TV pública, YLE, Päivi Sillanaukee disse que o ministério tomou a decisão "histórica" de abrir os armazéns de abastecimento de segurança.."Isto significa que, se olharmos para os números, milhões de óculos e máscaras cirúrgicas e centenas de milhares de máscaras respiratórias estão agora em uso. Estes materiais não vão acabar", assegurou..Foi a resposta do governo finlandês às primeiras dificuldades no abastecimento de material de proteção..Tomi Lounema, diretor do Centro de Prevenção de Emergências, explicou por sua vez que diferentes tipos de máscaras estavam em armazém e começaram a ser distribuídos..Os fornecimentos de emergência incluem produtos petrolíferos, produtos cerealíferos e fornecimentos essenciais e vitais para a saúde, bem como certos medicamentos..As quantidades ou o número e localização dos armazéns estão no segredo dos deuses porque faz parte da estratégia de Defesa do país. "Todas as informações sobre esses armazéns são confidenciais", disse Lounema ao New York Times..O que não é segredo: as reservas são mantidas numa rede de instalações espalhadas pelo país. "Existem combustíveis líquidos, cereais para panificação e sementes, bem como algumas matérias-primas industriais, que servem principalmente as necessidades da defesa militar. Além disso, há alguns aprovisionamentos para os cuidados de saúde", explicou Lounema ao YLE..Segundo foi explicado, nada do que é guardado se estraga, uma vez que vai sendo periodicamente posto em utilização e substituído. Se foi a primeira vez que houve necessidade de utilizar parte do material médico (também são guardados medicamentos para uso humano e veterinário e outro equipamento) já se deu o caso de o país recorrer aos cereais guardados após um ano de má colheita.."A Finlândia é a nação nórdica que se encontra na linha da frente, sempre pronta para uma grande catástrofe ou para uma Terceira Guerra Mundial", afirmou Magnus Hakenstad, do Instituto Norueguês de Estudos de Defesa, ao NYT..A vizinha Rússia.Não é preciso recuar muito na história para se compreender esta mentalidade. Receosa da União Soviética, nos anos 20 do século passado, a Finlândia tentou estabelecer um pacto de defesa com a Estónia e a Polónia, mas o Parlamento nunca chegou a ratificá-lo. Em 1932, Helsínquia assinou um pacto de não-agressão com Moscovo. Um papel cuja validade expirou em 1939 quando os soviéticos, após a recusa dos finlandeses em ceder ilhas no golfo da Finlândia e a vila de Hanko para a construção de uma base naval, atacaram a Finlândia.."Está no ADN do povo finlandês estar preparado", comentou Tomi Lounema,. A vizinhança com a Rússia molda esse ADN e há também um grande sentimento de independência: a Finlândia não pertence à Aliança Atlântica, tal como a vizinha Suécia..Dependência do Báltico.Há também um outro motivo que leva o país a não desistir de ter reservas de emergência: a geografia. A maior parte do seu comércio atravessa o mar Báltico. Segundo Lounema, isso é uma vulnerabilidade porque o país depende das condições de segurança e do tráfego marítimo no Báltico. Ao contrário da Suécia, que tem acesso direto ao mar do Norte..A Finlândia encontra-se no topo da lista das nações mais felizes. Em termos sociais, os governos têm tentado responder com programas como o rendimento básico universal (entretanto abandonado), de alojamento aos sem-abrigo, e agora o novo governo estuda a hipótese da introdução de uma semana de quatro dias de trabalho..Uma prioridade no governo de coligação liderado pela social-democrata Sanna Marin é o combate à desigualdade de género no que respeita aos rendimentos, como realçou na entrevista concedida à Vogue britânica..Críticas ao governo.Mas se o Estado estava preparado para o primeiro choque, a resposta subsequente terá de ser analisada a seu tempo. O diretor de Diagnóstico do Centro Hospitalar de Helsínquia e Uusimaa, Lasse Lehtonen, alertou no blogue Uusi Suomi que "as quantidades de materiais entregues aos hospitais a partir dos armazéns de emergência revelaram-se bastante pequenas em relação à necessidade e, de facto, não tem havido muito equipamento de proteção fora dos hospitais universitários"..Uma ideia que contrasta com o que o executivo finlandês tem destacado, "a boa preparação da Finlândia para situações de crise"..De acordo com Lehtonen, o governo não forneceu o equipamento nas quantidades necessárias. Estima que mais de 300 mil pessoas trabalham no setor social e da saúde na Finlândia. Durante a epidemia prevista de quatro a seis meses, seriam necessários pelo menos entre 120 e 180 milhões de máscaras..Na segunda-feira, o governo anunciou que vai reforçar a realização de testes, a par do prolongamento do encerramento das escolas e de outras limitações à circulação até meados de maio..Na Finlândia, as autoridades apenas rastrearam 21 mil doentes de alto risco e trabalhadores do setor da saúde para detetar o vírus, continuando outros casos suspeitos por testar. As autoridades de saúde admitiram que o número real de infeções poderá ser 30 vezes superior aos 1300 casos registados do novo coronavírus, que até à data causou 27 mortes no país de 5,5 milhões de pessoas..A resposta vem também do setor privado. A Mehilainen, uma rede de clínicas privadas, vai enviar 18 mil amostras para um laboratório sul-coreano durante as próximas duas semanas. Na viagem de volta, a transportadora aérea irá transportar equipamento de proteção e material adicional para a Finlândia..Comida para todos os estudantes.A Finlândia foi apertando as restrições sociais à medida que o covid-19 foi alastrando. Na sexta-feira, 27 de março, o trânsito entre a região de Uulima e o resto do país foi cortado e os trabalhadores finlandeses e suecos que atravessam a fronteira com frequência estão sujeitos a quarentena..As escolas fecharam, mas mantêm o serviço de refeições gratuito para os alunos. É um motivo de orgulho nacional: a Finlândia terá sido o primeiro país, em 1948, a fornecer refeições gratuitas a todos os alunos.."A alimentação nas escolas é uma parte vital da rede de segurança das crianças", disse à AFP Liisa Partio, da ONG MLL. "Elas sabem que se o frigorífico estiver vazio em casa durante o fim de semana, haverá comida na segunda-feira.".Apesar de a Finlândia ocupar a décima segunda posição mundial no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, uma em cada dez crianças vive em agregados familiares com baixos rendimentos. O número sobe para um quarto de todas as crianças em famílias monoparentais..Pobreza que irá agravar-se, tendo em conta a crise económica criada pelo coronoavírus.
A Finlândia não foi o primeiro país a tomar medidas restritivas na luta ao avanço da pandemia. Mas, ao primeiro embate, o país nórdico estava preparado para responder com reservas de material de proteção para os profissionais de saúde..A medida foi considerada "histórica". A Finlândia recorreu aos armazéns secretos para abastecer as unidades de saúde pela primeira vez desde que estabeleceu uma política de armazenamento de bens considerados essenciais, na sequência da Segunda Guerra Mundial,.Foi a diretora-geral do Ministério dos Assuntos Sociais e da Saúde quem deu a notícia, há duas semanas. Na estação de TV pública, YLE, Päivi Sillanaukee disse que o ministério tomou a decisão "histórica" de abrir os armazéns de abastecimento de segurança.."Isto significa que, se olharmos para os números, milhões de óculos e máscaras cirúrgicas e centenas de milhares de máscaras respiratórias estão agora em uso. Estes materiais não vão acabar", assegurou..Foi a resposta do governo finlandês às primeiras dificuldades no abastecimento de material de proteção..Tomi Lounema, diretor do Centro de Prevenção de Emergências, explicou por sua vez que diferentes tipos de máscaras estavam em armazém e começaram a ser distribuídos..Os fornecimentos de emergência incluem produtos petrolíferos, produtos cerealíferos e fornecimentos essenciais e vitais para a saúde, bem como certos medicamentos..As quantidades ou o número e localização dos armazéns estão no segredo dos deuses porque faz parte da estratégia de Defesa do país. "Todas as informações sobre esses armazéns são confidenciais", disse Lounema ao New York Times..O que não é segredo: as reservas são mantidas numa rede de instalações espalhadas pelo país. "Existem combustíveis líquidos, cereais para panificação e sementes, bem como algumas matérias-primas industriais, que servem principalmente as necessidades da defesa militar. Além disso, há alguns aprovisionamentos para os cuidados de saúde", explicou Lounema ao YLE..Segundo foi explicado, nada do que é guardado se estraga, uma vez que vai sendo periodicamente posto em utilização e substituído. Se foi a primeira vez que houve necessidade de utilizar parte do material médico (também são guardados medicamentos para uso humano e veterinário e outro equipamento) já se deu o caso de o país recorrer aos cereais guardados após um ano de má colheita.."A Finlândia é a nação nórdica que se encontra na linha da frente, sempre pronta para uma grande catástrofe ou para uma Terceira Guerra Mundial", afirmou Magnus Hakenstad, do Instituto Norueguês de Estudos de Defesa, ao NYT..A vizinha Rússia.Não é preciso recuar muito na história para se compreender esta mentalidade. Receosa da União Soviética, nos anos 20 do século passado, a Finlândia tentou estabelecer um pacto de defesa com a Estónia e a Polónia, mas o Parlamento nunca chegou a ratificá-lo. Em 1932, Helsínquia assinou um pacto de não-agressão com Moscovo. Um papel cuja validade expirou em 1939 quando os soviéticos, após a recusa dos finlandeses em ceder ilhas no golfo da Finlândia e a vila de Hanko para a construção de uma base naval, atacaram a Finlândia.."Está no ADN do povo finlandês estar preparado", comentou Tomi Lounema,. A vizinhança com a Rússia molda esse ADN e há também um grande sentimento de independência: a Finlândia não pertence à Aliança Atlântica, tal como a vizinha Suécia..Dependência do Báltico.Há também um outro motivo que leva o país a não desistir de ter reservas de emergência: a geografia. A maior parte do seu comércio atravessa o mar Báltico. Segundo Lounema, isso é uma vulnerabilidade porque o país depende das condições de segurança e do tráfego marítimo no Báltico. Ao contrário da Suécia, que tem acesso direto ao mar do Norte..A Finlândia encontra-se no topo da lista das nações mais felizes. Em termos sociais, os governos têm tentado responder com programas como o rendimento básico universal (entretanto abandonado), de alojamento aos sem-abrigo, e agora o novo governo estuda a hipótese da introdução de uma semana de quatro dias de trabalho..Uma prioridade no governo de coligação liderado pela social-democrata Sanna Marin é o combate à desigualdade de género no que respeita aos rendimentos, como realçou na entrevista concedida à Vogue britânica..Críticas ao governo.Mas se o Estado estava preparado para o primeiro choque, a resposta subsequente terá de ser analisada a seu tempo. O diretor de Diagnóstico do Centro Hospitalar de Helsínquia e Uusimaa, Lasse Lehtonen, alertou no blogue Uusi Suomi que "as quantidades de materiais entregues aos hospitais a partir dos armazéns de emergência revelaram-se bastante pequenas em relação à necessidade e, de facto, não tem havido muito equipamento de proteção fora dos hospitais universitários"..Uma ideia que contrasta com o que o executivo finlandês tem destacado, "a boa preparação da Finlândia para situações de crise"..De acordo com Lehtonen, o governo não forneceu o equipamento nas quantidades necessárias. Estima que mais de 300 mil pessoas trabalham no setor social e da saúde na Finlândia. Durante a epidemia prevista de quatro a seis meses, seriam necessários pelo menos entre 120 e 180 milhões de máscaras..Na segunda-feira, o governo anunciou que vai reforçar a realização de testes, a par do prolongamento do encerramento das escolas e de outras limitações à circulação até meados de maio..Na Finlândia, as autoridades apenas rastrearam 21 mil doentes de alto risco e trabalhadores do setor da saúde para detetar o vírus, continuando outros casos suspeitos por testar. As autoridades de saúde admitiram que o número real de infeções poderá ser 30 vezes superior aos 1300 casos registados do novo coronavírus, que até à data causou 27 mortes no país de 5,5 milhões de pessoas..A resposta vem também do setor privado. A Mehilainen, uma rede de clínicas privadas, vai enviar 18 mil amostras para um laboratório sul-coreano durante as próximas duas semanas. Na viagem de volta, a transportadora aérea irá transportar equipamento de proteção e material adicional para a Finlândia..Comida para todos os estudantes.A Finlândia foi apertando as restrições sociais à medida que o covid-19 foi alastrando. Na sexta-feira, 27 de março, o trânsito entre a região de Uulima e o resto do país foi cortado e os trabalhadores finlandeses e suecos que atravessam a fronteira com frequência estão sujeitos a quarentena..As escolas fecharam, mas mantêm o serviço de refeições gratuito para os alunos. É um motivo de orgulho nacional: a Finlândia terá sido o primeiro país, em 1948, a fornecer refeições gratuitas a todos os alunos.."A alimentação nas escolas é uma parte vital da rede de segurança das crianças", disse à AFP Liisa Partio, da ONG MLL. "Elas sabem que se o frigorífico estiver vazio em casa durante o fim de semana, haverá comida na segunda-feira.".Apesar de a Finlândia ocupar a décima segunda posição mundial no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, uma em cada dez crianças vive em agregados familiares com baixos rendimentos. O número sobe para um quarto de todas as crianças em famílias monoparentais..Pobreza que irá agravar-se, tendo em conta a crise económica criada pelo coronoavírus.