Filha quer autópsia antes de transladação para Angola

De acordo com um dos seus advogados, Tchizé dos Santos acredita que a ex-mulher e o médico pessoal do pai são responsáveis pela deterioração da sua saúde. Conselheiro presidencial angolano pede contenção aos filhos
Publicado a
Atualizado a

Uma das filhas do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, Tchizé dos Santos, quer que o corpo do pai, que hoje morreu em Barcelona, seja sujeito a uma autópsia "por receio" de que o corpo possa ser transferido para Angola.

É preciso que "o corpo do ex-presidente seja preservado e não entregue antes da realização de uma autópsia", disse a filha do ex-presidente num comunicado, citado pelas agências internacionais, alguns dias depois de ter apresentado queixa à polícia espanhola por "alegada tentativa de homicídio" contra José Eduardo dos Santos.

A Presidência angolana anunciou hoje a morte do antigo presidente numa mensagem publicada na rede social Facebook, expressando a sua "grande tristeza" e "consternação".

José Eduardo dos Santos tinha sido hospitalizado na Clínica Teknon, em Barcelona, Espanha, há duas semanas

A sua colocação nos cuidados intensivos trouxe à luz tensões no seio da família, nomeadamente entre a ex-mulher de José Eduardo dos Santos, Ana Paula, e pelo menos uma das suas filhas, Tchizé dos Santos.

Tchizé dos Santos apresentou uma queixa em Barcelona no início de julho e pediu que fosse aberto um inquérito por, entre outras questões, "a alegada tentativa de homicídio, falta de assistência a uma pessoa em perigo, ferimentos causados por negligência grave", de acordo com os dois escritórios de advogados que aconselham a filha do antigo presidente angolano.

De acordo com um dos seus advogados, a filha de José Eduardo dos Santos acredita que a ex-mulher do seu pai, Ana Paula, e o médico pessoal do ex-presidente são responsáveis pela deterioração da sua saúde.

Segundo os seus advogados, Tchizé dos Santos afirma que o seu pai e a ex-mulher estavam separados há algum tempo e que ela não tem poder de decisão sobre a sua saúde porque o seu casamento não é legalmente reconhecido em Espanha.

O secretário do Presidente da República de Angola para o setor produtivo defendeu esta quinta-feira que os filhos de José Eduardo dos Santos devem mostrar contenção e respeitar a memória do pai, elogiando a sua dimensão histórica.

"O que podemos pedir, apesar de toda a turbulência a que o momento político nos conduziu, é pedir aos jovens, aos filhos, que se contenham e respeitem a memória, a honra do seu pai, edificando agora a sua própria estratégia de luta para que Angola possa agora homenagear esta figura incontornável de dimensão histórica, com a grandeza que 38 anos de governação merecem", disse Isaac Francisco Maria dos Anjos.

O conselheiro de João Lourenço falava à Lusa no dia em que foi anunciada a morte do antigo Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, que convidou Isaac dos Anjos para o Ministério da Cultura com apenas 27 anos.

"Fui praticamente adotado pelo antigo Presidente da República, ao aceitar a minha nomeação para o Ministério da Cultura com pouco mais de 27 anos, a partir de Benguela, e desde então tive o privilégio de partilhar vários cargos e funções [nos governos angolanos]", acrescentou o governante.

Destacando os "30 anos de convivência" com José Eduardo dos Santos, Isaac dos Anjos vincou que "não é fácil aceitar a partida de um ente querido e nessa hora difícil o que podemos assegurar à família é que nos juntamos em solidariedade na dor e no luto que trespassa a nossa alma" e acrescentou: "José Eduardo dos Santos não é mais só o membro de uma pequena família, é membro de toda uma nação, uma família que é a pátria e a nação, a quem dedicou vários anos de luta incessante".

O político angolano considera que a sua geração "fica a dever muito" a José Eduardo dos Santos, mas está certo que "havemos de continuar a levar o facho de Angola, e com ele aprendemos a ser equilibrados no interesse mais alto que é o da paz, do humanismo, da solidariedade e mesmo que parecesse uma pessoa frágil, era uma pessoa com muita autoridade e mesmo de longe, com um simples olhar, impunha-nos autoridade", concluiu.

José Eduardo dos Santos, 79 anos, é pai de oito filhos com cinco mulheres e esteve à frente dos destinos de Angola durante 38 anos.

Eduardo dos Santos governou Angola entre 1979 e 2017, tendo sido um dos Presidentes a ocupar por mais tempo o poder no mundo e era regularmente acusado por organizações internacionais de corrupção e nepotismo.

Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa no país desde a independência de Portugal, em 1975.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt